Capítulo 14

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Eva ainda dormia, e ainda chovia do lado de fora, meus ombros estavam relaxados, com a falta de um peso costumeiro que não estava ali hoje.

Eu não estava certo de que estava fazendo aquilo direito. Cozinhar sempre fora um grande desafio para mim, apesar de ter crescido em um ambiente onde as tarefas eram divididas de igual para igual, sem impor o gênero sobre isso. Eu arrumava a casa e lavava a louça com a mesma frequência que minha mãe e irmã o faziam, e não deixei de ser menos ou mais homem por isso.

Mas a arte de cozinhar não era um dom do qual eu dominava. Por isso a confusão quanto ao rumo que eu havia tomado ali e o notebook aberto em vídeo que ensinava passo a passo daquela receita.

-O cheiro está bom. – ouvi Eva dizer enquanto entrava em passos leves até a cozinha, se ela não houvesse se pronunciado eu provavelmente não a notaria parada ali por alguns segundos até que a sensação de ser vigiado começasse a queimar minhas costas.

Seu cabelo molhado e o cheiro de lavanda indicavam que ela havia tomado banho ao acordar, colocado um de seus pijamas com estampa de pizza e descido até a cozinha sem que eu ao menos pudesse notar. Seus pés estavam descalços e pareciam incomodados com o piso gélido.

-Não tenho certeza se o gosto vai estar também. –respondi sem sorrir, com uma careta desgostosa.

Eu havia aprendido a me virar no tempo em que morei sozinho, mas na maior parte do tempo eu comia na rua ou na casa de amigos próximos. Um dos meus restaurantes prediletos se situava no fim da rua 9, a minha rua. Ele fora construído ao redor de uma enorme arvore, decorado por flores e uma fonte de água onde mesas a rodeavam, formando um ambiente acolhedor. Eu gostaria de levar Eva lá um dia. Estar com ela exatamente naquele lugar.

A olhei enquanto ponderava o pensamento. Ela estava agora sentada na bancada ao lado do fogão, balançando as pernas em um ritmo calmo enquanto via a chuva cair pela janela. Seu rosto estava sereno, o que indicava pensamentos leves ou simplesmente nenhum deles que pudessem tira-la de sua paz. Um trovão a despertou, atraindo seu olhar para mim. Seu sorriso veio logo em seguida, e eu soube que não importava o lugar, estar com ela era o que eu gostaria.

-Matt?

-Hu?

-Seu molho. –um sorriso- está queimando.

Um xingamento nada comedido saiu da minha boca enquanto eu ia direto até a panela, a tirando do fogo, mexendo a colher no molho e o provando em seguida. É claro que eu me arrependi, já que o molho grudou em meu céu da boca fazendo com que cada vez que eu tentasse, desesperadamente, o tirar de lá, queimasse não só todo o local como minha língua também.

Minha expressão devia estar no mínimo cômica, já que Eva era incapaz de parar de rir, vindo em minha direção com um copo de água.

Céus, molho mortífero. Cozinhar não era minha atividade favorita, definitivamente.

-Passou? – a risada ainda tomava conta de seu tom, me fazendo a olhar com uma careta indignada.

-Boechat, por acaso está se divertindo com a minha dor?

-Não, só com sua cara de desespero.

-Isso não se faz, sabia disso? Acho que você merece uma punição.

Mais risadas e agora ela me olhava com uma sobrancelha arqueada e um ar de curiosidade irônica.

-Jura senhor Grey? Vai me por nos seus joelhos e me dar algumas palmadas na bunda também?

Babysitter Of My NephewOnde histórias criam vida. Descubra agora