Capítulo 1

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O dia do seu aniversário de 8 anos chegou mais rápido do que ela imaginava, exatamente como a vovó havia previsto. O sol não estava lá grandes coisas, mas o importante é que hoje sua mãe Margaret iria passar o dia inteiro com ela. Lynn acordou mais cedo do que o normal e caprichou no seu look do dia. Ela não tinha muitas opções, até porque havia crescido uns cinco centímetros desde a última vez que sua avó a levou para comprar uma roupinha, então na semana anterior, pediu uma blusa emprestada da avó e a customizou. Até lacinho preto a blusa amarelinha de algodão tinha agora. Ficou linda com a saia preta rodada que sua mãe usara na infância, e com a sapatilha branca de bolinha preta, que ganhou de aniversário da vovó com um mês de antecedência. Lynn fez uma trança bem bonita de lado, igualzinha a que tinha visto sua mãezinha usar quando criança, naquela foto. Deu uma última olhada no espelho e, com um sorriso, se aprovou. Agora era só esperar saber se a mamãe também iria aprovar.

– Mas que coisa linda que você está, querida!

Vovó Laura a encheu de beijinhos. Quando olhou para o vovô, ele virou o rosto, como de costume. Ele não ia com a cara dela, já devia ter se acostumado com isso. Não era por isso que sua alegria iria diminuir... Dez horas da manhã e Lynn já tinha se arrumado toda, além de ter arrumado o seu quarto bem bonito para sua mãe querer conhecê-lo melhor hoje. A última vez que Lynn havia passado um tempinho com sua mãe tinha sido alguns meses atrás, foi num só dia, que parecia ter passado em uma hora. Elas passearam no zoológico, e embora Lynn não tivesse gostado do amigo que sua mãe levara para acompanhá-las, procurou aproveitar bem aqueles breves momentos.

– Lynn, que tal a gente esperar sua mãe lá fora no jardim? Daí pegamos um pouquinho de sol, querida, estamos precisando...

Vovó Laura, sempre tão carinhosa, era uma pena que estava ficando cada vez mais fraquinha e já não conseguia andar tão bem como antes. O médico disse que ela tinha que pegar mais sol e desde então, todos os dias, fica no banquinho branco do jardim pegando sol. Ela gosta de ler a Bíblia enquanto pega sol e de vez em quando, lê em voz alta para Lynn ouvir também.

– Tá, vovó, só que eu vou ficar lá só um pouquinho senão vou começar a suar e daí terei que tomar outro banho, me arrumar tudo de novo, aí não dá...

Lynn pegou o álbum de família que gostava de carregar para lá e para cá em casa, e levou lá para o jardim, sentou na graminha, e começou a folheá-lo. A cada foto de infância de sua mãe, ela sorria. Ah, como Lynn amava aquela mãe... será que ela a amava muito também? Sempre se perguntava isso, por mais que não quisesse pensar assim de sua mãezinha, tudo indicava que alguma coisa estava errada. Por que não morava mais com a vovó e ela? Desde seus três aninhos sua mãe havia saído de casa. Agora, aos oito anos, já não dá tanto trabalho assim, por que sua mãe não a leva para morar com ela?

– Laura! Laura! – vovô gritou lá da sala. – Cadê o leite? Mas será o benedito que nunca tem leite nessa casa!

Ele parecia estar com mais raiva hoje do que nunca. Lynn morria de medo dele e sempre que podia, evitava sua presença.

– Tem, sim, Fabian, eu já vou... – vovó Laura respondeu.

Ela fazia de tudo pelo marido, até o que não podia fazer. Mal andava, e lá ia ela buscar o leite que provavelmente estava na cara dele, na porta da geladeira. Assim que se levantou do banquinho, ela caiu. Lynn imediatamente se levantou para ajudá-la.

– Vovó, a senhora está bem?

– Ai Lynn, corre, chama o seu avô... – ela não conseguia falar mais.

Lynn saiu atrás do avô, que voltou correndo na direção de Laura. Tudo ocorreu muito rápido, só deu tempo dele abraçá-la e ela logo fechou os olhos, como se tivesse desistido de lutar. Lynn não conseguia entender o que estava acontecendo, até que seu avô gritou seu nome...

– Lynn, chama a ambulância!

Seus avós já tinham se preparado para esse dia, sempre deixavam o número da emergência à vista, ao lado do telefone na cozinha. Lynn nem conseguia falar direito com a atendente, só repetia o mesmo...

– Minha avó desmaiou, por favor nos ajude!

Foram naqueles longos minutos de espera que Lynn reconheceu um fato que não tinha pensado antes, se sua avó morrer, o que será dela? O seu avô não gosta dela. Sua mãe parece não ter tempo pra ela. Onde ela vai morar? Quem vai cuidar dela? A ambulância chegou, o vovô Fabian com lágrimas nos olhos, conversa com um dos enfermeiros, mas tudo parece estar acontecendo em câmera lenta. Vovó Laura não se mexe.

Todos vão para o hospital. Seu avô nem olha em seus olhos. Lynn quer ligar para sua mãe, mas como, se ela nem sabe o número? E naquela sala fria de hospital, em meio a tantas outras pessoas, eles aguardam ansiosamente por notícias do médico... logo no dia que Lynn mais esperava do ano.

Amor em RuínasOnde histórias criam vida. Descubra agora