Capítulo 19

94 1 0
                                    

A cama estava mais macia que nunca e o cheiro daquele lençol branco era de Carl, mas ele já não estava mais ao seu lado. Lynn olha para os lados, ainda com os olhos meio fechados, e vê a sombra de Carl na varanda do quarto. A cortina balançava com a brisa lá de fora. A cena parecia de um filme, e Lynn suspirou.

Mas será o que ele estava pensando?

Lynn não tinha planejado a noite anterior, talvez se tivesse, não teria sido tão boa. Aquele quarto tinha sido testemunha contra tudo que ela veio fazer naquela casa por uma semana. A ideia tinha sido passar tempo com Lizzy mas a realidade tinha sido outra.

O amor que eles fizeram não tinha sido uma noite qualquer. A maneira que Carl a olhou e a amou, ficou mais claro que nunca que ele amava ainda, e isso lhe trouxe um certo alívio. Depois de tudo que aconteceu entre os dois, ele ainda estava lá, a sua espera, como um príncipe encantado. Nunca nenhum homem a olhou como Carl.

Ainda na cama, enquanto olhava para Carl lá fora, Lynn pensava no que tudo aquilo representava. A decisão que havia tomado de sair dessa casa mais parecia uma ilusão só que ela não conseguia parar de pensar na mesma coisa...

O que fazer com as noitadas com Josh e a vida oculta que levara antes de Carl?

Se antes ela não conseguiu manter esse casamento com todos os fantasmas do passado que a assombrava, agora com os novos zumbis na sua vida seria ainda mais difícil.

Carl entrou para dentro do quarto e para a surpresa de Lynn, ele já estava arrumado para o trabalho.

-Bom dia.

Lynn falou com um sorriso nos lábios.

-Lynn, bom dia.

Ele não sorriu, nem olhou para ela como na noite anterior.

-Eu tenho que sair. Você vai estar aqui em casa quando eu voltar?

Lynn entendeu direitinho a pergunta e porque ele parecia estar triste. Ele não sabia bem o que fazer com o que aconteceu entre os dois. Nem ela. Ela se tapou com o lençol e levantou da cama.

-É, como eu lhe falei ontem, eu vou passar a semana aqui até o fim de semana... se você não se importar, é claro.

Carl olhou para baixo e a sua decepção estava ainda mais aparente.

-Não, claro que não.

Ele pegou o seu blazer e disse:

-Até mais tarde.

Lynn não disse nada. A sua vontade era de chorar, de desaparecer, de nunca ter nascido. Por mais que ela amasse Carl, por mais que ela quisesse lhe dizer o quanto a noite anterior tinha sido a melhor noite de sua vida, ela não conseguia. Era como se ela tivesse que ser uma pessoa na frente de Carl e outra no seu interior, e isso estava acabando com o seu casamento.

Como é que eu vou voltar para essa vida se tudo em mim ainda está do mesmo jeito? Mais uma vez, diante de todas oportunidades possíveis de se reconciliar com Carl, eu me fechei...

Lynn encheu a banheira, ligou o seu iPod, e tomou um banho longo, talvez ao se relaxar, ela teria alguma direção no que fazer para resto do dia. A cada música romântica que tocava, ela pensava em Carl, nos momentos felizes em que tiveram, desde que o conheceu na sapataria em ela que trabalhava. Ele aparecia na loja quase que todos os dias. Bonito, alto, forte, e tão charmoso.

Seu cabelo castanho claro, meio ondulado e desarrumado foi o que mais lhe chamou atenção. Ele não era de fazer a sobrancelha, nem de se depilar como os seus últimos namorados. Ele era diferente, sério, interessante.

A visão que Lynn tinha dos homens naquela época era totalmente contrária a de Carl e foi por isso que ela não o tratou como os demais. Ela custou para acreditar que ele não seria mais um, mas assim que acreditou, se entregou e não durou muito para eles se casarem. Foram 6 meses de namoro, e 6 meses de noivado, em uma ano, eles se casaram.

Na época, Lynn queria mesmo é morar junto mas Carl insistiu em se casar. Ele tinha princípios fortes a respeito e Lynn o admirou ainda mais por isso. Mas foi um sonho que virou num pesadelo depois de alguns poucos meses de casados... logo no primeiro ano de casados, as diferenças começaram a afetar os dois.

Ele era gentil e educado. Para ela, ele era falso. Ela falava o que pensava, aprendeu que gentileza é coisa de gente falsa, que quer tirar proveito das outras. Ele insistiu tanto para ela deixar de trabalhar que ela até aceitou, afinal, também não gostava do trabalho, mas ao mesmo tempo, odiava ficar em casa. Lynn começou a ficar deprimida em casa.

Carl lhe ofereceu cursos e até voltar a trabalhar, mas Lynn não tinha diploma algum e os empregos que conseguia, eram do mesmo nível do anterior... e ela detestava. Até que Carl a levou para fazer terapia, talvez com um tratamento com profissionais, Lynn se motivaria a voltar a ser o que ela era antes.

O tratamento durou um pouco mais de um ano até que Lynn engravidou, como sugestão da psicóloga, e logo se desanimou de continuar a terapia... a gravidez lhe deixou ainda mais oprimida e Carl já não sabia mais o que fazer com ela, e ela sabia disso. A esperança de Lynn estava no nascimento de sua filha, que talvez a traria um pouco de alegria.

Nos primeiros meses de Lizzy, Lynn até se animou um pouco mas não demorou muito para voltar a estaca zero. E nesse tempo todo, Carl sempre ao seu lado, sempre com tanta paciência, sempre lhe dando uma nova chance...

A água da banheira já estava ficando fria e a música romântica triste demais.

Amor em RuínasOnde histórias criam vida. Descubra agora