Capítulo 4

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Os dias estavam chuvosos lá fora. Lynn não conseguia parar de pensar na visita de sua mãe, mesmo que isso tivesse acontecido duas semanas atrás. Só de lembrar das ameaças que fez ao sair, ela se arrepiava. O vovô nem tocava no assunto e ela não queria chateá-lo com isso, mas tudo ficou no ar... qual seria o seu destino? E quando o seu avô morrer, com quem ela vai ficar? Quanto mais Lynn pensava no assunto, mais ansiosa ela ficava. Eles não tinham ninguém.

Todo dia pela manhã, Lynn fazia as mesmas coisas. Arrumava seu quarto, tomava um banho, escovava os dentes, se arrumava, e saía para tomar o café da manhã, que já estava dando certo com o seu avô. Ele cuidava do café da manhã e ela cuidava do almoço. Toda quarta-feira, saíam juntos para fazer as compras da semana. Ela nunca mais ficou sozinha em casa, nem quando o seu avô só iria dar um pulinho no banco.

Ainda faltavam algumas semanas para o novo ano escolar, mas Lynn tinha medo de voltar para escola e deixar seu avô só. Ele estava muito velhinho e depois da morte de sua vó, ele estava mais fraco... Ele não podia morrer e ela precisava cuidar dele da melhor maneira possível.

— Querida, nesse domingo, estava pensando em ir à igreja de sua avó. Você vem comigo? — o vovô perguntou.

— Claro, vovô! Eu gostava de ir lá, mas eu sempre ficava na escolinha. Desta vez, quero sentar ao seu lado... Posso?

— Será um prazer, querida.

No domingo pela manhã, Lynn queria colocar sua melhor roupa, como a vovó havia lhe ensinado, mas... a sua melhor roupa lhe fez lembrar do dia em que ela faleceu e isso lhe trouxe lágrimas aos olhos. Ela tinha de dar um jeito naquelas roupas, jogá-las fora, doá-las... Pegou tudo, até as sapatilhas de bolinha, colocou dentro de uma bolsa, e levou para a igreja. Quem sabe lá alguém queira usá-las... Ela usou uma saia que já não usava havia muito tempo, quase nem dava mais nela. Era isso ou jeans, e sua avó sempre lhe ensinou a não ir à Igreja de jeans, pois o lugar é santo e ela precisava mostrar seu respeito para com Deus nas roupas que usava também.

O dia estava bonito, fazia tempo que eles não apreciavam aquele céu azul lá fora. Até deu vontade de ficar em casa e brincar no jardim, mas o seu avô queria ir à igreja e isso era praticamente mais um milagre que havia acontecido depois que a vovó se foi.

Ao chegarem à igreja, as pessoas que antes estavam conversando, pararam de conversar e começaram a olhar para os dois. Lynn sentiu seu rosto avermelhar. Seu avô disfarçou e deu bom dia a todo mundo, que educadamente correspondeu. Eles sentaram em frente ao altar. E assim que a reunião começou, todos se levantaram e fizeram a primeira oração junto com o pastor.

Fabian sentiu-se bem durante a oração, principalmente quando o pastor pediu para que Deus ajudasse aquela pessoa que estava passando por uma situação difícil na vida. Seus olhos se encheram de lágrimas ao pensar no tempo que ele demorou para voltar à casa de Deus. O quanto ele havia sido um pai, marido e avô ruins. Ele não conseguia se expressar, a dor no peito era muito grande naquele momento. A vontade era de soltar o choro que vinha lá do fundo de sua alma. Foi então que o pastor fez um convite:

— Você que está sentindo um peso muito grande, seja por problemas que você tem passado ou devido à sua própria consciência pesada, Jesus disse: "Vinde a Mim vós que estais cansados, abatidos..." Se você quer entregar esse peso nas mãos dEle, venha aqui na frente e faça isso.

Fabian não hesitou. Ele saiu imediatamente do lugar e se prostrou diante do altar.

Lynn ao ver aquela cena se entristeceu pelo seu avô.

— Por que será que ele está se sentindo tão pesado? Será que é por minha causa? Agora que a mamãe não quer mais falar com ele por causa de mim...

Ao acabar aquela oração, Fabian volta para o seu lugar aliviado e feliz. Aquele peso realmente tinha saído de suas costas. A reunião foi tão boa que ele nem viu a hora passar. Já para Lynn, a reunião demorou demais e ela não via a hora de terminar para poder ficar no sol lá no jardim. Ela entregou a sacola com as roupas para doar à sua tia da escolinha e Fabian logo acrescentou que tinha mais roupas para doar e que iria trazê-las na quarta-feira à noite. Lynn se assustou, pois quarta-feira era dia deles irem ao mercado. Como assim?

Na volta para casa, Lynn começou a questioná-lo:

— Vovô, que roupa é essa que o senhor vai doar?

— As roupas da sua avó, Lynn. Não adianta ficar guardando o que já não tem mais uso...

— Posso pegar algumas para mim?

— Se você quiser, pode. Só me prometa que as roupas não vão lhe dar razão para chorar mais pela vovó, ok?

— É, isso vai ser difícil... realmente é melhor doá-las. E por que o senhor não leva no domingo que vem? Por que quer ir na quarta-feira?

— Eu quero começar a ir mais vezes à igreja, Lynn. Eu me senti muito bem hoje e quero mais disso.

— Ah tá...

— Você deveria querer mais também, querida. Jesus consegue tirar o que fica nos machucando lá dentro do coração, sabia?

— É, a vovó me falava isso, mas é que eu acabo me distraindo na hora da oração. Vem um monte de pensamentos, e quando eu vejo, a oração já acabou e eu não falei nada com Deus.

— Você também pode falar com Deus em outras horas. Nas horas que você se sente triste, com medo, ansiosa, enfim... Essas horas, quando ninguém pode lhe ajudar, são as melhores horas para falar com Ele.

— Tudo bem, vô. Eu vou tentar.

Mas Lynn não tentou. Quarta-feira, ela ficou na escolinha para ficar com as suas amigas da igreja. No domingo seguinte, ela dormiu quase que a reunião inteira. Ela até que tentava começar a orar, mas vinham outros pensamentos mais urgentes, como o primeiro dia de aula que estava para vir, os materiais da escola que ainda precisavam ser comprados, as ligações telefônicas que seu avô atendia e ninguém respondia e ela tinha certeza que eram de sua mãe só para ver se ela estava só em casa, a novela da tarde que ela adorava assistir, e por aí vai.

O primeiro dia de aula chegou e seu avô a levou como combinado. Depois de se despedir de seu avô e entrar no corredor da escola, ela levou um susto ao ver a sua mãe lhe esperando na porta da sala de aula. Lynn tentou fugir, mas Jon a pegou à força pelo braço e eles a levaram pela porta de trás da escola. Ninguém reparou o que aconteceu porque havia muitas crianças indo e vindo naquele corredor. Lynn não conseguia nem respirar direito. Eles a colocaram num carro velho e a levam dali.

Amor em RuínasOnde histórias criam vida. Descubra agora