Capítulo 17

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Carl aparentava cansado e mais magro, mas o seu olhar era o mesmo. Ele ainda a amava. Lynn desviou o olhar.

– Você está diferente Lynn.

– Mudei o visual, gostou?

Ela sorriu, sem graça.

– Gostei. Está mais jovem. Como você está?

– Bem na medida do possível.

Ela desviou o olhar mais uma vez. Ela precisava entrar no assunto mas não sabia como.

– Eu nem sei como começar Carl...

A sala estava num silêncio total. Lizzy estava com os avós na cozinha e a porta estava fechada. O cheiro do jantar estava uma delícia mas o ambiente estava pesado naquele lugar. Estava bem claro para Lynn de que Carl estava esse tempo todo lhe esperando, o que não havia acontecido com ela.

– Que tal começar explicando porque você desapareceu a seis meses atrás?

– Eu não estava bem, não estava lhe fazendo bem... até a nossa filha estava sofrendo pela pessoa que me tornei Carl. Eu precisava sair dessa vida e começar uma outra, respirar um pouco lá fora, sem a pressão de ter que ser uma esposa e uma mãe.

– Você cansou de ser esposa e mãe?

– Eu cansei de ser eu... é difícil de explicar. Eu precisava me descobrir...

– E aí, conseguiu se descobrir lá fora?

Ela olhou para ele nesse momento e depois olhou para o chão. Ela não tinha uma resposta para lhe dar.

– Quer dizer, você não se descobriu ainda não é mesmo?

Carl falou irritado, sentou no sofá com a sensação de derrota.

– Eu não estou voltando para casa ainda Carl. Eu não estou pronta.

– E você quer o quê? Que eu fique lhe esperando se resolver até quando? Ah já sei, quando a Lizzy estiver indo para faculdade talvez.

– Eu não estou lhe pedindo para esperar Carl. Eu estou lhe explicando porque saí de casa, só isso. Hoje eu vim ver a Lizzy. Estou num hotel aqui perto, vou passar o fim de semana por aqui e depois volto para onde tenho morado e trabalhado nesses últimos meses.

– E onde é isso?

– Miami.

– Por quê Miami Lynn? O que tem em Miami para você?

– Eu nasci em Miami.

– Espera aí... você me disse que nasceu aqui mesmo em Houston! Você tem alguma história que não me contou?

– Tenho Carl e é por isso que ainda não me resolvi. Preciso resolver essa história antes que ela acabe comigo.

– Que história é essa.

– Eu não quero lhe contar agora...

– E a morte de seus pais num acidente de carro? Isso aconteceu?

– Não.

– Quer dizer que eu casei com uma mulher que eu não conheço? Ah só me faltava essa Lynn! Seu nome é Lynn mesmo?

– É por isso que não dá para falar com você Carl!

– Não dá para falar comigo? Lynn, você inventa uma história e eu e minha família acreditamos por anos para depois você dizer que é tudo uma mentira, e é a gente que não lhe entende?

– Eu já tenho que ir... amanhã eu volto para ver a Lizzy.

Carl olhou para baixo, derrotado.

– Lynn, você não precisa ficar num hotel. Fica aqui em casa.

Na verdade, era isso que ela queria. Ela não tinha visto um hotel e sua intenção era de dormir com a Lizzy e matar a saudade. Mas não era só da Lizzy que ela tinha saudade... ao vê-lo daquele jeito, a vontade era de abraça-lo e dizer o quanto ela sentia sua falta... mas era tarde demais, ela já havia o deixado, já havia o traído, já havia feito uma outra vida sem Carl...

– Sua mãe me convidou para jantar com vocês...

– Claro, fique... a Lizzy vai poder matar um pouco da saudade...

E eu também... ele pensou.

O jantar seria um momento especial na família, essa era a fé de Joyce. Ela não só havia feito o prato favorito de Lynn como também decorou a mesa de uma forma toda carinhosa, quem sabe Lynn sentiria o amor de todos por ela...

As flores de centro era as favoritas de Joyce, girassóis.

– Ficou linda a mesa Mrs. Stapleton!

Lynn falou com admiração. Ela não merecia tanto.

– Ah querida, não precisa me chamar assim. Me chame de Joyce! Sou tão jovem ainda...

Lynn sorriu.

– Eu gosto muito de girassóis mamãe.

Lizzy falou apontando para as flores do centro.

– Eles são lindos realmente.

Fazia tempo que Lynn não apreciava flores, elas lhe lembravam de seu tempo na casa dos avós, do jardim que sua avó cuidava...

– Para mim o girassol fala.

Disse Joyce ao colocar a última tigela de comida na mesa.

– Só pelo seu tamanho, maior que a maioria das outras flores, ele já marca presença. A sua cor amarela então, não tem como não alegrar um ambiente!

– Obrigada pelo carinho Mrs... quer dizer, Joyce. Eu não mereço tanta atenção...

Lynn sorriu de lado. Ela estava se sentindo mal. Ela é quem tinha que se desculpar e agradar a todos ali... mas ela não sabia como...

– Só de você ter vindo hoje querida, já merece toda a nossa atenção.

Joyce colocou a sua mão por cima da mão de Lynn e sorriu.

– Vamos orar então?

Era costume dos Stapletons orar antes da comida, embora que Carl tinha deixado essa prática assim que se casou. Todos fecharam os olhos, menos Lynn. Enquanto eles oravam, ela os observava e pensava consigo mesmo, como eles eram diferentes dela... ela não pertencia a essa família, eles não mereciam uma pessoa como ela ali com eles...


Amor em RuínasOnde histórias criam vida. Descubra agora