Capítulo 9

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No banheiro, enquanto olhava no espelho, Lynn derramava suas lágrimas. Ela tinha total consciência de que estava acabando com o seu casamento, mas não tinha mais controle sobre si mesma. Era como se ela não tivesse mais controle de si, fazendo o que ela não queria fazer, falando o que não queria falar...

Com a vinda dos pais de Carl, a frustração só aumentava dentro de si. Lynn sabia que não era a esposa que sua sogra tinha idealizado para Carl. Sua sogra, Joyce, era o tipo de mulher perfeita. Ela era uma ótima esposa, mãe, e dona de casa. Quando elas se encontraram pela primeira vez, Lynn se intimidou logo de cara. A sua simpatia incomodou a Lynn.

Tudo que acontecia, todas as pessoas que Lynn conhecia, a levava de volta ao seu passado, aos porquês que sempre carregou dentro de si. O seu aniversário de oito anos e a morte de sua querida vó Laura. A mudança de seu avô Fabian e o sequestro na escola pela pessoa que ela mais estimava no mundo, sua mãe. A vida abusiva e solitária que tolerou por toda sua adolescência. E agora, uma linda filha num casamento de aparências.

Se ela largasse tudo, sua filha iria passar pelo mesmo que ela passou mas se ela continuasse, como iria ama-la com tanto rancor dentro de si?

E Carl? O único cara que a valorizou... no mínimo não a merecia. Quanto mais ele persistia em agrada-la, mas ela se sentia mal em não conseguir corresponder as suas iniciativas.

Lynn pensava em se separar de Carl praticamente dia e noite. Talvez apenas por um tempo, até que pudesse se curar, se aliviar de tanta pressão de ser alguém que ela não era. Ela tinha que achar a sua mãe e dar um fim no seu passado, descobrir o porque, e deixa-la enxergar o mal que lhe fez.

Carl bateu na porta do banheiro e a chamou.

– Lynn, vamos conversar.

– Larga do meu pé Carl, me deixa só! Lynn replicou irritada.

– Então tá. Vou fazer algo para Lizzy e eu comermos e quando quiser conversar, apenas me chame.

A paciência de Carl a irritava. Ela abriu a porta e exclamou:

– Quando é que você vai mostrar o que realmente sente Carl? Fica aí fingindo estar bem, como se nada estivesse acontecendo!

– O quê que você quer que eu faça Lynn? Quer que eu brigue com você na frente da Lizzy? Quer que eu perca a minha cabeça e saia de casa, é isso?

– Eu quero que você seja quem você é! Com certeza você está com raiva de mim não é mesmo? Então... quando é que vai mostrar essa raiva?

– Eu amo você Lynn! Quantas vezes terei que dizer a mesma coisa? A questão é, será que você me ama também? Porque ultimamente a impressão que tenho é que você me odeia e sinceramente, eu não sei porque! O quê é que eu te fiz para você me odiar tanto?!

Lynn se calou. Ela não podia responder porque a verdade a doía. Ele não tinha feito nada.

– Eu quero me separar de você Carl.

Os lábios de Carl ficaram entreabertos e de repente seus piores temores foram se tornando reais.

– Por quê? Apenas me diga porque, Lynn?

– Eu não sei Carl, eu não aguento mais viver assim.

– É sobre o seu passado, Lynn? Você quer ajuda? Quer ver um psicólogo?

– Você nem sabe direito o meu passado!

– Eu não sei porque você não quer me contar Lynn.

– Psicólogos não podem me ajudar. Você sabe que eu me tratei por anos e nada, só joguei dinheiro fora, e pior, fiz o que a psicóloga havia sugerido disfarçadamente, tive uma filha, que hoje está tendo que tolerar tudo isso... não, não quero mais tratamento, não quero mais forçar a barra, fingir estar bem... eu preciso sair dessa...

– Você não tem para onde ir Lynn, você não precisa sair de casa...

– Me deixe só, Carl. Por favor.

Carl não respondeu, foi até a cozinha, preparou um sanduíche para ele e a papinha para Lizzy antes de coloca-la para dormir. Ao se deitar, sua mente não conseguia descansar. Todos os tipos de pensamentos lhe atormentavam.

Será que o meu casamento acabou?

O que vai ser de Lizzy?

Por que meu Deus, por que isso está acontecendo comigo?

Ele orou pela primeira vez depois de muitos anos. A última vez que orou a Deus foi exatamente antes de conhecer Lynn.

Ele costumava vê-la todos os dias em um dos shoppings favoritos de sua mãe. Lynn trabalhava numa loja de sapatos e chamou a sua atenção logo de primeira. Ela era a garota mais bonita que já tinha visto. Seus cabelos longos e loiros que estava sempre presos num rabo de cavalo. Sua pele era clara e perfeita. Seus olhos verdes tão intensos... Ele foi à sua loja muitas vezes, sempre com uma desculpa diferente, apenas para que pudesse vê-la.

Naquela época, Carl costumava ir à igreja. Ele tinha sido criado num lar cristão por seus pais que sempre foram fiéis a Deus. Sua mãe, Joyce, lhe ensinou a orar quando ele tinha apenas 3 anos de idade e desde então, ela fez questão de ensiná-lo todas as histórias da Bíblia. De fato, ele havia tido uma educação cristã, mas de alguma forma havia se distanciado desses ensinamentos ao longo de sua vida, quando conheceu Lynn.

Ele orou para que Deus pudesse fazer com que ele a conhecesse, e quando finalmente conseguiu convidá-la para sair, nunca mais precisou de Deus. De alguma forma essa lembrança lhe pareceu conectada com o que estava acontecendo no seu casamento, pois aqui estava ele a perdê-la, e a orar a Deus depois de tanto tempo de silêncio

Amor em RuínasOnde histórias criam vida. Descubra agora