Capítulo 3

198 1 11
                                    


Chovia lá fora enquanto Lynn, ainda sentada na cama, chorava baixinho. Ela acordou tarde, sem o beijinho de bom dia de sua vozinha, que vinha lhe acordar todos os dias às 7h. A vontade era de ficar por ali, chorando e lembrando dela. O porta-retratos dela com a avó que ela havia feito na escola ao lado de sua cama doía só de olhar, até que um barulho alto de um copo se estraçalhando no chão assusta Lynn.

— O que o vovô está aprontando lá na cozinha?

Lynn enxuga suas lágrimas, escova os dentes rapidinho, coloca o seu moletom cinza que ela gosta de usar quando está doente, e desce as escadas bem devagar.

A cozinha estava uma bagunça total. Tinha farinha de trigo no chão e nos cabelos grisalhos do vovô. A porta da geladeira escancarada e apitando. Um cheiro terrível de queimado. O vovô, todo desengonçado, estava passando uma vassoura no chão da cozinha.

— Vovô, o que aconteceu?

— Bom dia, Lynn! É que... eu quebrei um jarro... Eu estava preparando o café e acabou que tudo deu errado... Minha querida, me ajude aqui. Termine de passar essa vassoura enquanto eu termino o seu café...

— Claro, vovô! Eu vou lhe ajudar, pode deixar...

A vovó já estava fazendo muita falta em casa. Por mais que os dois estivessem preparando o café da manhã juntos — e isso seria um milagre aos olhos dela — não conseguiam fazer nada a tempo. Passaram-se trinta minutos até que Fabian e Lynn finalmente se sentassem à mesa para comer o ovo frito com bordas queimadas, a torrada negra que já estava bem dura e o café aguado. A tentativa de fazer uma panqueca tinha dado errado e só sobrou trigo por todos os lados da cozinha. Ao olharem um para o outro e para o que estava diante deles na mesa do café, Fabian e Lynn começaram a rir muito.

Parecia que o fato de Laura não estar mais presente estava fazendo bem aos dois... até que o telefone toca e Fabian atende. É a funerária querendo fazer os últimos ajustes.

Só de pensar em ver Laura de novo, seu coração já começava a apertar. Seria tão bom se ele tivesse alguém para cuidar dessa parte chata do enterro... Sua filha sequer sabia da morte da mãe. Será que ele teria de enterrar a sua amada sem o conhecimento da filha?

— Lynn, temos de cuidar dos preparativos para o enterro de sua avó...

— Vovô, posso ficar em casa? Eu arrumo a cozinha.

— Não é bom deixá-la só, querida.

— Pode deixar, vovô. Eu não vou abrir a porta pra ninguém, nem vou lá pra fora.

Fabian confiou e Lynn se orgulhou de ter sido confiada com tamanha responsabilidade. Seria sua primeira vez em casa sozinha e ela iria arrumá-la todinha para o seu avô. Ela começaria pelas camas que ainda estavam por fazer. Depois iria dar um jeito na cozinha e ver se tinha alguma comidinha pré-pronta no congelador para o almoço. Depois ela colocaria as roupas na máquina de lavar...

Assim que seu avô partiu, Lynn começou a lavar a louça do café e quebrou um copo.

— Se as coisas continuarem assim, não teremos mais louças para lavar no fim do mês. — pensou Lynn.

A campainha tocou e Lynn foi até janela para ver quem estava lá fora. Para surpresa dela, era a sua mãe. Ela estava acompanhada de um homem bem mais velho — este, Lynn ainda não conhecia... Sua aparência não estava nada bem. Ela parecia mais magra do que da última vez... Cabelos loiros ralos e oleosos, uma maquiagem muito forte no rosto e uma roupa diferente, mais ousada e curta.

— Mamãe! Que bom lhe ver!

Lynn abraçou a sua mãe.

— Oi, Lynn... que bom ver você! Esse aqui é o Jon. Ele é um amigo.

Amor em RuínasOnde histórias criam vida. Descubra agora