Kallissa 1

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Kallissa 1

No chão, duas crianças corriam, no céu, duas luas brilhavam.

Uma das luas era branca e a outra negra. A lua negra escondia quase todo o céu de tão imensa, enquanto a pequena lua branca refletia quase toda luz iluminando a noite como um farol. Juntas, as duas luas eram as vezes chamadas de “Os Amantes”, mas em tempos ruis, eram também conhecidas como “Os inimigos”.

Kallissa corria num chão de terra morta e seca, carregando consigo uma gaiola coberta. Ao seu lado, seu irmão Mars tentava acompanha-la, segurando em sua cabeça seu chapéu preferido.

– Rápido, antes que eles descubram que escapamos. – ela falou.

Ele bufava e tropeçava. Ela o puxava e o arrastava.

– Não me puxa! – reclamou Mars.

– Então anda.

Kallissa e Mars pararam de correr ao alcançar a borda de um vasto precipício.

– Eu falei. Aqui está o túmulo das sombras. Eu disse para você que eu estava certo.

Ela olhou para baixo e avistou o que parecia ser um mar de névoas brancas.

Mars se deitou no chão duro e quebrado, tentando recuperar seu fôlego. Inesperadamente, ele começou a rir.

– Que foi? – ela perguntou, ainda olhando para a queda.

– Papai vai te matar!...

– Eu falei para você ficar no acampamento.

– Você nunca acharia o caminho sem mim.

– Não seja absurdo. Nós andamos numa linha reta.

– Por que eu falei onde era o túmulo. Porque eu falei que para seu precioso pássaro ter uma chance de voar, ele teria que ter uma boa queda.  Admite.

Ela já não estava mais prestando atenção ao irmão. Ajoelhou-se e tirou o delicado tecido azul que cobria a gaiola. 

 – Se você solta, nada garante que ele viva. E viva ou morra, nos vamos ser castigados independente. Esquece Kalli. Se a gente volta agora foi só um passeio. Ainda dá tempo.

– Se você é contra, por que veio comigo?

– Eu não achei que você ia ter a coragem para desobedecer ao papai.

Ela abriu à gaiola e tirou o pássaro. A ave estava calma e silenciosa; apenas pulou para seu braço sem machuca-la.

O animal era belíssimo. Com penas brancas e azuis que refletidas na luz da lua, pareciam brilhar. O pássaro estava diferente de quando eles o viram pela ultima vez. As cores de suas penas haviam mudado. Ninguém nunca as via mudar, Kalli um dia passou um dia inteiro olhando o pássaro, esperando para ver a magica acontecer, esperou tanto que adormeceu por apenas alguns minutos, quando abriu os olhos as cores tinham trocado de lugar. Cada mutação era magnifica e sempre aparentando ser mais bela que a anterior.

 O pássaro não era apenas raro, era único; até pouco tempo era considerado um mito em seu reino. O nome que deram ao pássaro era o mesmo nome que davam ao seu Reino. Chatallary. Significava, dentre outras coisas, Rainha do Gelo.

O animal era uma lenda; nas florestas, crianças sempre voltavam com estórias de ter visto a mais bela das aves. Essas estórias, contudo, eram sempre desmentidas pois nenhum adulto jamais viram o animal. E então a lenda crescia, e começaram a dizer que apenas aqueles puros de coração podiam ver o místico animal.

E com cada década os boatos aumentavam, ate que vizinhos e caçadores de distritos vizinhos passaram a peregrinar ao Distrito Treze em busca de encontrar o mais raro dos animais. Existia até mesmo uma caça anual. A caça era apenas simbólica e claro, uma vez que o animal nunca fora encontrado. Mas o evento crescia a cada ano, ate que em um dos anos, o Distrito Treze deixou de ser o Distrito Treze e passou a ser chamado de Chatallary.

Rainha do GeloWhere stories live. Discover now