Mars 6

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Mars 6

E difícil imaginar que matar alguém possa ser ainda mais prazeroso que apenas planejar. Em breve eu vou saber.

A mente de Mars estava acesa, pela primeira vez talvez toda sua vida ele se sentia verdadeiramente acordado, tudo fazia sentido, tudo estava conectado, e as todas as perguntas dos últimos dias que o atormentavam agora tinham respostas obvias.

A guerra era o motivo pelo qual seus pais foram assassinados, na lista de demandas que seu pai se recusou a assinar incluía o apoio da guerra. Com o senado dividido, o Lilad não teria os votos para iniciar a guerra. Mas matar a todos não seria o suficiente, eles ainda precisam de um voto.

E por isso que eu ainda estou vivo. Quando meu pai não assinou aquele papel ele assinou sua sentença de morte.

Seus salvadores, a fraternidade branca, são apenas instrumentos de decepção. Eles não querem me matar, eles querem me controlar. Teria funcionado com Kalli, ela teria acreditado como ela acreditava no Sonhador.

Mars não acreditava no Sonhador ou em deuses ou mesmo nos códigos de sua linhagem, apenas ideias criadas para aprisionar a mente. No caso do Sonhador, diz a lenda que nosso mundo não e feito de coisas sólidas, e sim construídos de sonhos, sonhos que existiam apenas durante o breve adormecer do grande Sonhador. Nada e ninguém era real, são todos as inúmeras faces de um sonho. E o breve fôlego da toda existência há de se extinguir quando o sonhador fatalmente despertar.

Mars tinha crescido acreditando no sonhador, até que um dia leu um livro de Troferos, A conjectura do Abismo. O livro teorizava que toda vida no mundo conhecido começou nas terras quentes do centro, ao redor de um grande Abismo sem fim. Não era apenas uma teoria, uma vez que todos os mapas conhecidos mostram o mesmo padrão, ao redor do abismo florestas gigantes, e a flora de todo mundo conhecido apenas diminui na mesma proporção quanto maior sua distancia do abismo, ate que no final do mundo conhecido encontramos os oceanos de areia das terras devastadas.

Claro que o sonhador pode ter sonhado o abismo e o deserto, mas não faz muito sentindo em sonhar com hipóteses mais complexas que a si mesmo.

Quando o sol veio, Mars ainda não tinha certeza absoluta se os cavaleiros estavam manipulando ou sendo manipulados, mas não fazia diferença, cedo ou tarde ele iria descobrir toda a verdade.

Não e irônico que eu vá descobrir todas as verdades no templo da verdade. Mas antes, eu preciso do idiota.

Na carroça Mars nunca tinha um momento a sós com Edruss, Uma vez que Jordu perdeu sua montaria, eles revezavam sempre alguém dentro da carroça junto com eles. Edruss não tinha dito uma palavra sequer desde que soube que Kalli estava morta. Mas ele estava sempre atento, quase que esperando uma oportunidade, Mars precisou apenas uma troca de olhares para que ele entendesse o que deveria fazer.

Nos últimos dias eles viajavam paralelos a um rio, seguindo uma pequena estrada de pedra. Quando os cavaleiros pararam para comer e descansar as montarias, Edruss pediu para ser levado ao rio para se lavar, era seu primeiro banho em semanas. Jordu permitiu. Solto de suas amarras Edruss entrou no rio enquanto Rattile o vigiava sobre a sombra de uma árvore próxima, besta em mãos.

Mars tirou suas roupas sem pedir, foi ate a agua, esperando que algum dos cavaleiros desconfiasse de sua real intenção e o impedisse. Mas ninguém se importou, todos vigiavam Edruss, todos o temiam, ninguém nunca temia Mars.

Quem sabe até amanhã eles não mudem de ideia.

Edruss estava cada dia mais forte, seus ferimentos estavam cicatrizando bem, e as semente com pétalas de pele já tinham caído, deixando no seu lugar uma segunda camada epiderme sobre sua carcaça queimada, não cresceriam mais pelos ali, mas pelo menos era uma superfície quase lisa, tirando as pequenas perfurações de onde as sementes caíram.

Rainha do GeloWhere stories live. Discover now