Kallissa 5

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Kallissa 5

Não existe maior forma de insulto que o insulto da invisibilidade.

No Jantar Kallissa pensou em falar novamente com seu pai, mas sua mesa era afastada da dos adultos. Horas depois, não sabia o que era mais triste. Se era ela, o tempo todo olhando seu pai, ou ele que não olhava na sua direção nem uma vez se quer.

Quando o jantar finalmente terminou, Gigi a levou para a sala de banhos. Todo o aposento era como uma pequena piscina. Kallissa finalmente cedeu aos insistentes apelos de atenção de sua priminha e brincou com ela na água, fazendo castelos de sabão e ouvindo-a falar sobre príncipes.

Depois, já vestida em seu pijama, foi conduzida ao seu quarto. Deitada em sua nova cama, tentou dormir. O erro foi meu. As quatro palavras de seu pai ecoavam em sua mente, não a deixando pegar no sono. A jovem tinha que falar com ele.

Trocou suas roupas e desceu. A casa estava escura e silenciosa. No caminho encontrou um servo que não tinha mais que dez anos; ele carregava um aro coberto de chaves. Chamou o menino, mas ele correu assustado.

Sentindo o cheiro de velas queimando, desceu ao primeiro andar. Ao se aproximar ouviu a voz de um estranho.

– A hora de se juntar a nós é agora, quando ninguém espera. Se assinar essa Petição, sua Linhagem será reconhecida nos autos da História como os salvadores do nosso Domínio.

– A quem você representa? – era seu pai agora.

– Minha voz é a voz do povo, contudo, nosso movimento também é conhecido como os Filhos da Liberdade.

Kallissa se aproximou mais ainda.

Estavam numa sala, a que tinha a grande mesa e os mapas. Começou a ouvir melhor. Foi então que viu seu irmão na fresta da porta de serviço olhando para dentro do recinto.

– O que você esta fazendo? – ela sussurra.

– Quer me matar do coração? – Mars falou, se recobrando do susto. – Fala baixo!... Se ele nos descobre aqui, nos mata.

A porta em que estavam dava para a parte de trás da sala. Dela eles podiam ver quem estava lá dentro. Um era seu tio Erion, o outro um canino desconhecido. Ele tinha o pelo branco, com bolas negras, que lembrava a Linhagem dos Dáltamas. O pai estava sentado em uma mesa, o único de frente para onde eles estavam.

– Um número interessante de demandas. – seu pai falou, sem tirar os olhos do papiro.

– Apenas soluções de senso comum, visando mudar nosso rumo em direção ao abismo. – falou, gesticulando, o estranho.

– “Nunca aumentar as taxas sobre os senhores das casas mercantes e nossa aristocracia.” – seu pai leu do papiro.

– São os ricos que geram nossas riquezas, quanto mais alto eles voarem, mais perto dos céus todos nos estaremos.

– “Reconhecer Myr como a única e verdadeira deusa de Caltos.” – Warion continuou a ler.

– A dualidade de nossa existência é simples. Luz e trevas, bem e mal, Myr e os outros. Existe apenas uma verdade. Não reconhece-la é um crime que praticamos contra nossas almas imortais.

– “Banir os estudos e os colégios ensinam as artes negras, e mentiras sobre a criação.” 

– As depravações praticadas dentro de seus laboratórios ofendem e corrompem mentes e corpos. Não existem novas verdades. Não viemos do abismo, não somos sonhos. Myr nos deu a Luz.

– “Declarar guerra à Nação Império de Uro’kar.” – finalizou Warion.

– Nossa existência os ofende, porque enquanto somos a luz, eles adoram a escuridão. Salivam por morte. Pelo sangue que deve ser derramado para acordar o Adormecido Negro. A guerra é inevitável. A escolha que nos resta é saber quem vai ter a vantagem de ser o primeiro a atacar.

Rainha do GeloWhere stories live. Discover now