Kallissa 8

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Kallissa 8

O sonhador sonha o bem e o mal, não culpe o sonhador pelo mal, como não agradeça a ele pelo bem, sonhos são sonhos, e somente duram ate o seu primeiro e nosso ultimo despertar.

Kalli abriu os olhos para novamente um novo dia, ela via a luz do sol que entrava sorrateiramente pelas frestas em sua cela de madeira refletindo nas barras enferrujadas de metal. A luz também entrava pela outra cela, iluminado o vermelho escuro quase preto, do sangue seco que circulava o chão sujo e sem palhas onde a jovem hiena tinha sido descartada.

Nessas primeiras horas da manha, o silencio enganava, o sentimento que talvez o pior tivesse passado era sempre forte nesse pequeno intervalo, Kalli pensava em seu irmão, e que talvez ele estivesse num lugar melhor, com pessoas que pudessem cuidar dele. Ela imaginava ele rindo e sendo feliz, era muito mais fácil sonhar com a morte assim. Voltar para a escuridão era sua única vontade, mas a única forma na qual era poderia sucumbir a essa vontade, era se convencendo que seu irmão permaneceria vivo, que de alguma forma ele tinha escapado da dor desse novo estranho mundo no qual eles despertaram.

Mas para decepção de Kalli ela viu que as hienas despertaram, a ilusão da manha tinha acabado, e em alguns momentos os rituais diários de sadismo iriam recomeçar.

Kalli se aproximou das barras de sua cela, isso era o mais próximo que ela tinha tido coragem de se aproximar das hienas, ele institivamente fez o movimento de tocar nas barras, apenas para lembrar de suas mãos, sem saber exatamente o por que Kalli colocou seus braços atrás das costas, e com seu focinho saindo por entre as grades ela falou.

– Deixem ele em paz.

As hienas apenas riam.

– Não e a mim que vocês querem?

As hienas ainda riam, mas agora entre os risos se ouviam rosnados. As hienas tentavam se aproximar de Kalli, mas novamente as correntes as prendiam uns aos outros, e para um dar dois passos à frente outros tinham que dar dois para traz.

A hiena maior se levantou, Kalli se forcou a não desviar seus olhos quando encontrou os dela, mesmo sentido o ódio puro que vinham da grande fêmea.

Num idioma desconhecido a hiena deu uma ordem a seus machos. Algo que os agradou, pois todos sorriam com seus dentes podres.

– Eu não tenho medo de você.

Mas as hienas agora a ignoravam, juntas no fundo de sua cela, eles pegaram o menor deles, separaram seus braços, e enquanto dois o mantinham imóvel, os outros dividiam turnos mastigando suas mãos, começando pelos dedos e depois subindo para suas palmas.

O jovem agonizava, novamente a musica de seus urros enchiam o local.

– Não, por favor não. – Suplicava Kalli.

Ela não queria ver, mas ela não tinha coragem de ignorar mais uma vez o sofrimento que ela criou. A mensagem era clara. Ele sou eu, eles estão me mostrando o que me espera quando não tiverem mais grades entre nós.

E tão logo o primeiro deles entrou no jovem Kalli sentiu a mão do Gorila a puxando. – Não me deixa, eu quero ver, eu mereço ver. – Kalli falou antes de ser arremessada para a parede de sua cela.

– Chega de brincar. – falou o gorila cobrindo todo corpo de Kalli sua sombra ameaçadora. – Você prometeu me ajudar a escapar.

– Eu não tenho como ajudar ninguém, olha pra mim. – Kalli levanta seus braços mostrando o vazio. – Eu matei eles. Eu matei meus pais. Tudo que eu toco eu destruo.

– Eu sei filha de Eru, você foi escolhida para abrigar a chama de um deus.

– Escolhida? Escolhida para ver tudo que eu amei queimar?

Rainha do GeloWhere stories live. Discover now