Mars 4

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Mars 4

Tedio, minha irmã esta morrendo, mas o que mais me incomoda e o maldito tedio.

Durante os dias que se seguiram, Mars esperou o cavaleiro que eles chamaram de Jordu voltar com o remédio para sua irmã. Todos os dias eram iguais ao anterior, eles cavalgavam do amanhecer ao anoitecer parando apenas para dar de comer e beber as montarias, se ele quisesse comer nessas horas, era obrigado a comer os mesmos cogumelos peludos que eram dados aos animais. À noite, eles faziam acampamento e comiam uma grande refeição, a rotina apenas era quebrada quando a comida ficava escassa, quando isso acontecia, Rattile saia sozinho com sua besta, e voltava trazendo nas costas alguma caça.

Mars odiava a estrada, odiava a comida, e odiava a companhia. Os cavaleiros falavam pouco entre si, e menos ainda com ele, o velho era o único que olhava em sua direção, mas esse era um olhar incomodo, não era um olhar de vigia, era um olhar diferente, as vezes ele desviava o olhar quando Mars o encarava de volta, outras vezes ele apenas sorria.

Durante as noites os cavaleiros revezavam a vigia. Mars então passou procurar ficar acordado o máximo que podia, empurrando seu sono de modo a poder espiar os cavaleiros quando eles achavam que não estavam sendo observados.

Edurad era o líder depois do cavaleiro enorme, ele tinha sempre a primeira guarda, e quando acreditava não estar sendo observado ele passava seu tempo falando sozinho, nunca em palavras claras que Mars pudesse entender, sempre resmungos e palavras indecifráveis, outras vezes ele rezava.

O velho era mais difícil de espiar, uma vez que este passava muito de sua noite olhando para Mars. Na primeira noite Mars achou que ele sabia que ele não estava dormindo, mas o interesse do velho não era esse. O velho ofegava e colocava sua mão dentro do branco imaculado de sua veste. Apenas depois de terminar o velho voltava a cuidar do acampamento e passava o resto de sua vigília atendendo a Edruss, molhando suas queimaduras e trocando suas bandagens.

Rattile era o último a fazer a vigia, nos primeiros minutos ele ficava de guarda, mas sempre no cair da noite antes do amanhecer, ele abandonava seu posto e entrava floresta adentro.

Na terceira noite que ele se foi Mars arriscou segui-lo, se perdeu no começo, mas um cheiro suave de primavera e flores adocicadas lhe guiou ate Rattile. O cavaleiro estava sentando num tronco. Com sua mão direita coberta por uma luva negra ele segurava um tecido amarelo e dourado, o tecido tocava seu nariz e ele parecia rezar. Mas Rattile não estava rezando, ele estava chorando. Ele cheirava o perfume do tecido e chorava e chorava.

Loucos todos eles loucos, quem quer que sejam o que quer que queiram, eu tenho que tomar muito cuidado.

No quarto dia o cheiro de morte que vinha de Kalli era demais para suportar e ignorar. Sua febre estava fora de controle, mas o que mais aterrorizava Mars é que ela tinha parado de gemer e de se mover.

Eu deveria te matar agora, antes que você acorde para dor, antes que você sofra ainda mais. Mas sem você do meu lado eu não tenho mais ninguém, eu não quero ficar sozinho.

Uma sombra passou pelo rosto de sua irmã, olhando para cima Mars viu que Sabatrus circulavam sobre eles no céu. Sabatrus eram repteis voadores que se alimentavam de carne podre, eram cegos, mas tinham no lugar dos olhos, buracos escuros que eram cobertos de pequenos tentáculos transparentes que sentiam o cheiro de morte a dezenas de quilômetros de distancia.

– Minha irmã esta morrendo. – Mars falou para os cavaleiros quando eles colocaram sua irmã no chão do acampamento.

– Nada a fazer senão esperar. – Falou Edurad.

– Ela não tem mais tempo, será que você entende? Nos temos que fazer algo agora.

– Fazer o que? – Perguntou Rattile.

Rainha do GeloWhere stories live. Discover now