Kallissa 6

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Kallissa 6

Mars.

Kalli abriu os olhos e viu apenas escuridão.

– Mars...

Mal o nome partiu de seus lábios e uma mão peluda entrou em sua boca, e segurou a parte inferior de seu focinho. Ela não estava sozinha no escuro, algo ou alguém estava ao seu lado.   

– Todos estão dormindo pequena filha de Eru.

Não era um canino, seu cheiro forte e denso era desconhecido. O estranho estava tão perto que ela sentia o calor do seu hálito forte.

– Eu vou tirar minha mão, mas se você gritar eu vou te machucar.

Kalli tentou se mover, e descobriu que estava amarrada na cama. Correias de couro prendiam seus pês, braços e peito. Suas mãos ardiam como se ainda estivessem em chamas. Mas a dor não importava, ou as ameaças, assim ele a soltou ela disse a única coisa que importava.

– Meu irmão, onde esta meu irmão?

Os olhos dele eram de um castanho tão claro que pareciam ouro, em sua testa uma tatuagem feito em cicatrizes na forma de um circulo com um símbolo desconhecido dentro.

– Qual a diferença? – Perguntou o estranho com desdém.

– Só me diz, só me diz se meu irmão esta bem.

O estranho cuspiu no rosto de Kalli. O catarro escorreu por entre seus olhos enquanto o estranho deu mais um passo a frente. Tao próximo agora que ela podia ver os contornos de seu semblante. Um calafrio subiu sua espinha. O estranho era um Gorila, um Gorila de Uro´kar.

Seu rosto era assustador, despelado, sua pele era grossa e negra, seu nariz achatado e largo. Ela ouviu o pequeno som de metal contra metal, foi quando reparou que o Gorila estava usando uma coleira de ferro, atado a uma corrente que se perdia na escuridão.

– Meu pai cuspia em mim quando eu demostrava fraqueza. Ele cuspia e me surrava. Eu deveria te surrar também filha de Eru, mas se eu acordar os guardas eles não vão entender, vão achar que eu quero o seu mal. – O Gorila limpou com sua mão o catarro do rosto de Kalli. – Eu não quero o seu mal filha de Eru. Como meu pai não queria o meu. Boas lições deixam cicatrizes. Quanto maior a cicatriz, maior a lição.

– Eu não sou filha de Eru.

– Somos todos filhos e filhas de Eru.

– E meu irmão?

– Não esta aqui.

Kalli olhou ao seu redor, agora já acostumada com o escuro. Sua cama estava ao lado de uma parede de madeira, num canto, barras de metal ficavam a sua direita, atrás dela outra parede e a sua frente ela via apenas sombras.

Eu estou numa cela.

– Onde eu estou, por que estou presa?

– Agora não e hora, eles vão acordar a qualquer momento, apenas saiba que não importa o que eles te digam, você e uma prisioneira. Peça para ser solta e você vai entender.

– Entender o que?

– Amanha.

O Gorila sumiu dentro do escuro da cela.

Kalli não queria dormir, ela queria saber mais, ela tinha que saber mais, contudo a dor em suas mãos intensificavam, ela tentava hora fechar seus dedos hora abri-los procurando aliviar a agonia, mas a dor só aumentava.

Mas essa dor também trazia conforto, ela afogava os sentimentos que ardiam em seu peito. E nos seus momentos mais intensos, a dor a protegia dos pensamentos que a assombravam, não pensar era um alivio. Não ver seus pais queimando, não ver ser irmão chorando e chamando por ela. Sentir a sua dor era preferível a imaginar a dor deles. E assim foi a noite. Duas dores lutavam dentro dela por soberania sobre o que a faria sofrer, seu corpo ou seu coração.   

Rainha do GeloWhere stories live. Discover now