AMOR E ÓDIO

PARTE 10

   Os dias passaram mais rápido que imaginei, tinha horas que tive vontade de chorar, mas tinha outras que queria que o mundo parasse ali.

Luan viajou para outros shows e não me levou, disse que não sabia como as coisas seriam e era melhor eu ficar com a mãe dele. Aquilo me deixou triste e com raiva, sei que ele fez isso pensando em mim, realmente tinham situações que não eram nada confortáveis e outra eu era muito nova para ficar em certos lugares, mas ele também fez isso porque ficou chateado com minha pergunta com relação aos shows.

Depois de um tempo me senti tão à vontade com a família dele que amava tudo aquilo, até acordar cedo pra pescar.

A melhor parte era as nossas fugidinhas, a gente namorava naqueles lugares lindos e umas vezes escondidos no quarto quando todos saiam. Os momentos em que éramos só um, eram os mais perfeitos.

- Daqui a dois dias a gente volta.

- Vou sentir saudades.

- Cê mal falou com seus pais, eles voltam quando?

- É ruim mentir pra eles. Pelas minhas contas só daqui a 3 ou 4 dias. Ainda vou precisar de companhia.
Era o último show das férias e todos iriamos, até porque era caminho de casa.

♥♥♥♥♥♥

- Cê tá linda. – Luan me elogiou, me deixando radiante.
- Sou a namorada do cantor, tenho que está à altura.
Estava indo tudo bem até um carinha me chamar pra dançar.

- Não obrigada – falei sem tirar o olho do palco.
- Só uma dança.

- Tá vendo o cantor? É meu namorado.

Luan via aquilo e sem saber o que rolava na conversa não estava gostando nada.

O pai dele percebeu, seguiu o seu olhar e chegou até mim.

- Algum problema aqui?

- Esse carinha que veio me chamar pra dançar, mas já disse a ele que Luan é meu namorado e ele continua no meu pé.

- O senhor é o pai dela?

- Não. Sou o pai do namorado dela.

Seu Amarildo passou o braço pelo meu ombro deixando Luan mais tranquilo, fazendo o rapaz se tocar e ir embora.

- Obrigada.

- Não se afasta da gente.

- Eu só fui ao banheiro.

O show acaba e vou falar com Luan, mas ele desvia.
Só era o que me faltava, ele ficar com raiva de mim, que foi que eu fiz?- penso.

Fiquei de olho de longe e vejo Luan todo, todo para o lado de umas meninas.

Ele deve tá fazendo isso de propósito. – penso.
Não ia ficar ali parada olhando, se fosse outro lugar ia mostrar para elas que ele tem dona e cortar as asas dele, mas ali com os pais dele de olho não tive coragem. Dei meia volta e sai.
- Vai aonde? – Bruna me questiona.

- Eu não vou ficar aqui vendo seu irmão dar toda atenção para outras. Vou para o carro.
Começou a chover e finalmente Luan lembra de mim.
- Cadê a Carol?

- Ficou chateada porque você estava com aquelas meninas.

Luan logo pensa que eu estava dando "trela" para aquele rapaz, causando ciúmes.

- Ela foi pro carro – Bruna informa.

- Nessa chuva?

Luan vai até lá e quando me vê, fica com pena. Eu parecia um pinto molhado, desolada, sozinha, sentada no capô do carro.

- Que tá fazendo aqui? Sai da chuva.

- Eu não vou voltar pra lá.

Os pais de Luan já vinham.

- Entrem logo – ele fala abrindo a porta do carro.
Eu não falei nada no caminho para o hotel. Luan falou com o pai e conseguiu descolar um quarto para nós. A gente precisava conversar e ter um pouco de privacidade.

- Vem. A gente vai pra outro quarto.
Nem tinha cara pra ficar ali mesmo. Só foi Luan jogar as malas no chão, fechar a porta que a briga começou.
- Que foi aquilo? – ele começa a conversa em tom nada amigável.

- Eu que pergunto.

- Elas são sobrinhas do contratante.

- E por isso precisava ficar se derramando em cima delas?

- E você com aquele carinha?

- Eu tava na minha, vendo show e ele chegou.

- Por que não tava com meus pais?

- Fui ao banheiro e na volta fiquei ali porque dava pra ver melhor.

- Você é uma patricinha mimada.

- Ah! É isso? E você que se acha o gostosão só porque canta e tem umas meninas aos seus pés.
- Eu não tô te reconhecendo. Foi só tirar você do reinado que se mostrou ser igual ao Renato.
- Ah não! Depois de tudo que a gente passou, você vem falar de Renato?

- Quando vai assumir a gente?

Sabia que ele tinha razão nisso, então calei.
- É melhor ir dormir – ele falou.

Fiquei paralisada. Era nossa última noite e num quarto só nosso e ao invés de ser só love, mais parecia que tudo tinha acabado.

Luan deitou e dormiu ou fingiu dormir. Eu sentei e chorei calada. Depois que relaxei um pouco fui tomar um banho, ainda estava molhada da chuva e naquele ar condicionado, eu estava congelada.
Agora mais quentinha e cabeça fria, olhei para o Luan e deu uma vontade de abraçar, beijar, dizer que eu o amava e tudo aquilo era pequeno perto do nosso amor. E foi o que fiz.

Cheguei devagar, dei um beijo demorado na bochecha dele. Ele abriu o olho, mas não falou nada.
- Amor, te amo tanto, tanto, não queria passar nossa última noite assim. Me desculpa por tudo.
Ele olhou pra mim meio chateado, mas também cheio de vontade da gente ficar na boa. Eu o beijei e ele não resistiu.

- Me faz sua - sussurrei.

Foi tão mágico. Não era mais a primeira, nem a segunda vez. Nesse mês o que mais tinha rolado era isso, mas a primeira vez teve toda a tensão de ser a primeira e as demais era sempre uma adrenalina em lugares escondidos e na expectativa de alguém nos flagrar. Dessa vez foi diferente, tínhamos mais intimidade e todo tempo do mundo, pude conhecer cada parte do corpo dele e ele o meu, fizemos amor até cansarmos.
- Caramba acho que não aguento pegar um copo d'agua – eu ri.

- Também. Mas tô morto de fome.

- Também queria comer.

Olhamos um pro outro e pro frigobar, atacamos sem pensar, depois dormimos abraçadinhos.

- Amor, já tá na hora de ir. Nossa, meu pai vai é falar da gente ter zerado esse frigobar.

Luan se levanta animado apesar de dormir pouco, vai se arrumando e eu nem mexo.

- Acorda minha preguiçosa.

Ele beija minha testa e se assusta.

- Amor, acorda. Acorda, por favor.

Luan interfona para o quarto dos pais.

☎☎☎

- Mãe, a Carol tá queimando de febre, ela nem acorda - preocupado.

- Calma, eu tô indo aí.

- Ela tá falando algo aqui. Mas acho que ela tá delirando.
Luan desliga e fica tentando entender o que eu tô balbuciando.