PARTE 24

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 Davi chora.

- Oi, meu amor. Vamos dormir um pouquinho. Deixa eu colocar uma música pra você.
Procurando o cd de músicas de ninar encontro aquele que fez tudo começar " o gurizinho".

- Escuta o papai. É como ele tivesse aqui cantando pra você.

Coloco o cd, sento na cadeira de balanço e nino até ele adormecer.

- Amiga... – Pam entra no quarto sem perceber que estava colocando pra dormir.

- Shiii! Davi tá dormindo.

- Era o Luan cantando?

- Era. Eu vi uns vídeos dele na net e ele está bombando.
- É, eu vi também. E a Isa me disse umas coisas também.
- O quê?

- Amiga. Me fala uma coisa, o que sente pelo Luan?

- Nada. Não restou nada.

- Você mente muito mal. Procura ele. O Davi precisa de um pai e a gente sabe que Luan ia babar mais que tudo.

- O que sabe sobre ele?

- Que ele vai gravar um cd.

- E os sonhos se tornam realidade. Ele não vai fazer faculdade e nas horas vagas cantar em um bar. Ele vai ser cantor famoso como ele sempre sonhou.
- Você fala com orgulho e tristeza. Mas no fundo tá feliz por ele.

- Ai Pam, eu não posso mentir pra você. Eu tenho orgulho sim, ele tá crescendo na vida por mérito dele, correndo atrás dos sonhos e lembro do dia que ele me falou com o brilho nos olhos como era cantar em um palco e ver aquelas pessoas cantando com ele. Eu sei que ainda num estouro. Mas ele tá bem mais conhecido e sei que vai chegar lá. O que me deixa triste é que não tô com ele.

- Mas poderia tá.

- Não. Pam, por favor, não conta pra ninguém que tô aqui. Não conta nem pra Isa. Ninguém pode saber desse bebê.

- Olho pra esse reizinho e nem acredito que ele tá aqui. Ele é tão lindo, parece com você. Mas eu não paro de pensar no Luan.

- Pensa como ele tá feliz com a carreira. Ele escolheu ela.

- Não. Ele não teve o direito de escolha.
- Teve sim.

- Ele não sabe do Davi. No dia em que ele souber tenho certeza que vai fazer de tudo pra ser pai de verdade. Nesse dia se ele der as costas pra você e pro Davi, aí sim eu digo que foi escolha dele.
Sim, eu tava na casa de Pam. Na época do fuzuê, eu não quis casar com Renato e meus pais queriam forçar ameaçando a vida do Davi. Corri pra casa de Pam com tudo que pude carregar e a tia me acolheu. Dois dias depois viemos pra Sampa para Pam estudar. Meus pais não gostaram da ideia, mas eles não iam amedrontar a tia e como eles preferiam eu sozinha do que com Luan, permitiram minha vinda. Depois que sai de casa nunca mais falei com meus pais, eles nem quiseram saber do neto.

O tempo voou, Davi já ia fazer um ano e as notícias eram cada vez melhor sobre a carreira de Luan. Tô de cara, o novo cd dele já vendia por todo Brasil. E mesmo tentada a me afastar, acabei comprando, algumas músicas eu sentia como se fosse pra mim, como essa mesmo Tô de cara, mas a que eu mais amava era Somos apenas um. Bateu saudades daquele tempo, daqueles momentos que fomos apenas um. Já fazia mais de um ano que eu não sentia seu beijo, nem seu toque, mas eu lembrava bem como era.

- Vai fazer o que nas férias? – Pam pergunta como se não soubesse a resposta, ficar em casa.
- Eu que devia perguntar isso pra você.

- Eu pensei em viajar. Ir pro Pantanal.

- Nem pensar. Lá tem família do Luan e vira e mexe ele tá lá.

- Verdade.

- Mas cê pode ir amiga. Mas se por acaso ver alguém conhecido e perguntarem por mim, só diga que tô bem. Que a gente não tem se falado muito, essas coisas assim.

- Deixa pra lá. Uma amiga me chamou pra fazenda da tia dela em Minas. Vamos pra lá?
- Fazenda é? O Davi ia amar.

- Então fechou, vamos pra fazenda.

- Não acredito filha, você conseguiu, vai tirar essa menina de casa.

- Só você mesmo, tia. Outra pessoa não ia reclamar se eu só estudasse e cuidasse do filho.
- Amor, não é porque você é mãe que tem que perder sua vida. Tudo bem não vai sair por aí como se tivesse completamente livre, até porque tem essa vidinha aqui que é responsabilidade sua, mas você é muito nova tem que namorar, sair um pouco. A vida não é só estudos. E sabe que quando precisar tô aqui pra ficar com o Davi.
- Obrigada, tia.

- Ah! Outra coisa. Eu sei que você olha pra o Davi e lembra do Luan. Foi por causa de sua indecisão que tudo ficou assim. Você tem direito de tomar decisões na sua vida, mas se tomar tem que arcar com essa escolha.

- Não entendi.

- Você amava o Luan, mas não queria abrir mão de suas convicções.

- Meus pais não iam aceitar.

- Como não aceitaram essa gravidez.

- É diferente, eu fugi e você me acolheu, a solução sempre seria fugir, grávida ou não e ele não me queria lá.

- Vai ver que ele não pensava que seus pais te forçaria a ir embora. De qualquer forma você se viu dividida e acabou nem ficando com ele nem indo para o Canadá.

Minhas insistentes lágrimas voltavam a cair. Eu pensava que elas parariam com o tempo, mas elas só vão parar quando Luan sair do meu coração, ou seja, quando eu morrer.

- Eu sei que dói, mas eu preciso falar. Agora eu sei que ainda ama ele, você deve tentar ser feliz com ele. Procurar, conversar e se ele duvidar faz um teste, é simples. Mas você tá escolhendo deixá-lo de lado. Se é isso mesmo que quer tudo bem, mas então o deixe de lado de verdade e siga sua vida.

- Obrigada, tia.

Essas férias iam ser boas. Seriam minhas primeiras férias de verdade. Antes eu estava grávida de mudança pra cá, depois no meio do ano Davi nasceu e já no fim eu podia até ter saído de casa, mas eu ainda estava muito abalada com tudo.
- Tomara que tenha gatinhos.

- Eu só quero que tenha cavalos. Quero me sentir livre, viva.


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