PARTE 32

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   Finalmente Davi acordou.

- Luan! Ele não sabe que você é pai dele.

- Mas...

- Ele te chama de papai desde sempre, ele sempre viu seus dvds, mas eu... eu nunca tive coragem de explicar a ele. Não sei exatamente que passa naquela cabecinha, ele ainda nem fez 5 anos.

- Cê tá querendo dizer o que com isso?

- Vai com calma. Quando ele sair daqui eu explico tudo.

- Ele não precisa de explicação, ele precisa sentir que eu tô aqui, amo demais ele.

- Desculpa - sussurro- desculpa por...

- Por ter roubado meu filho? Por ter não só impedido a ele de saber o que é ter um pai, mas como a mim de saber que tenho o que mais sonhei na vida?

Ele podia ter razão em tudo, mas não sabia o quanto sofri também, ele deveria entender.
- Não briguem aqui. Daqui a pouco vocês vão poder entrar e ver o filho de vocês, mas vocês tem que estar calmos senão os médicos não liberam a visita. – A enfermeira interviu.

Afasto-me um pouco pra poder me acalmar e em poucos minutos eu estava ali, diante do meu pequeno rei Davi. Ainda emocionada, mas controlada, explico a ele o que tinha acontecido, digo que vai ficar tudo bem. Apesar de ainda está na uti, ele parecia já estar bem ativo, o que foi um alívio pra mim.

- Amor, cê lembra do Luan?

Ele franze a testa como se tivesse pensando, isso ele fazia igual ao pai.

- O cantor do dvd... o pa...

- O papai? - pergunta eufórico.

- É, mas se acalme.

Sabia que ele gostava de Luan, mas não imaginei que ele amasse assim, quando falei "papai" o coraçãozinho dele chegou a disparar e fiquei preocupada com esse encontro.

- Então. Ele veio te ver.

- Sério? Eu vou ver ele quando?

- Daqui a pouquinho quando a mamãe sair.

Eu vejo os olhinhos dele brilhando, um sorriso tão grande, fofo e ingênuo a se abrir de tanta felicidade.
- Eu vou chamar ele, tá? Mamãe te ama.

- Te amo, mamãe.

Ele fica ansioso, quando saiu, encontro Luan mais ansioso ainda.

- Luan, eu falei que você ia entrar. Qualquer coisa chama os médicos, por favor.

- Claro. Mas por quê?

- Ele tá ansioso pra te conhecer.

Revejo aquela cena, o mesmo brilho no olhar e o sorrisão, mas agora no rosto de Luan.

Peço pra ficar na sala, mas Luan queria um primeiro encontro sozinho, então olho pela janela e que cena mais linda...

- Papai?!

- Oi, meu amor.

Luan não aguenta e chora, passa a mão na cabecinha dele e o beija.

- Papai te ama. Entende isso?

Davi apenas sorria sem acreditar que aquele homem estava ali.

- Cê é forte, hein, campeão?

- Como é que cê tá aqui?

- Como assim?

- Cê saiu da tv?

- Mais ou menos. – Luan fala sorrindo.

Luan passava a mão nele sem acreditar que estava diante do filho, queria abraçá-lo, colocar no colo, mas ainda não podia.

- Cê sabe quem eu sou?

- O papai.

- O seu papai. Sabe o que é isso? Sabe o que significa?

- Sei. Meus amiguinhos tem mamãe e papai. Cê é como a mamãe, mas é menino.

Luan sorri todo bobo. E a lágrima escorre outra vez.

- Não chora. Eu tô bem, mamãe disse que logo, logo eu vou sair daqui. Cê ainda vai tá aqui?
- Eu vou tá sempre do seu lado. Nunca mais a gente vai se separar.

- Obaaa!

Luan precisava sair, as visitas ainda eram breves.
- Eu tenho que ir, mas tô ali na sala do lado com a mamãe, tá bom? Papai te ama.

- Eu te amo, papai.

Davi estica os braços e mesmo por cima de aparelhos, um leve e primeiro abraço aconteceu.
Luan saiu do quarto um novo homem, um pai.
- Pai, ele é tão esperto e disse que sabia quem eu era e que me ama.

Seu Amarildo o abraçou e parabenizou. Eu fiquei de escanteio vendo tudo e dona Marizete se aproximou de mim.

- Não se sinta excluída, você é da família. Esse é um momento tão lindo.

- Desculpa por tudo. Me sinto culpada por ele ter essa família linda de vocês, ainda bem que ele teve a tia Ana porque senão ele também não saberia o que é ter uma vó.

- Eu entendo que não foi fácil, sua mãe, me desculpe, mas é uma bruxa. Fui lá atrás de você quando soube de sua gravidez e ela disse que você tinha casado. A culpa não foi toda sua, você era muito jovem se sentindo acuada e rejeitada pelos pais e pelo Luan que não te deu chances de explicações.
- Obrigada.

- Agora a gente vai ter todo o tempo do mundo pra amá-lo e mimá-lo.

- Quê?

- Ana disse que daqui uns dias Pam tá de mudança e ela vai voltar pra Campo Grande. Cês vão ficar lá em casa.

- Não.

- Você não tem condições de ficar sozinha com ele.

- Mas lá não é nosso lugar.

- Você até pode achar que não é o seu, mas é o de Davi.

- Cês não podem roubar ele de mim.

- Ninguém vai fazer isso, por isso cê vai com ele.
- Eu não vou ficar na mesma casa que Luan, eu vou voltar pra Campo Grande com a tia.

- Você já nos privou todo esse tempo, não é justo que vá embora agora. Não é justo com Luan, nem com Davi. Dê uma chance a vocês.

- Eu não amo mais o seu filho. Eu o odeio.
- O ódio e o amor caminham juntos, às vezes a gente não consegue distinguir por orgulho.

Davi já estava no apartamento e logo ia ter alta. Eu aproveitei meus últimos dias na casa de Pam. Tia Ana me aconselhou bastante e mudei temporariamente pra casa de Luan, no dia em que Davi teve alta.

Dona Marizete deve ter conversado muito com Luan, ele estava bem mais calmo para o meu lado, chegava até ser carinhoso, eu gostava, mas quando percebia já estava dando uma "patada" nele, mesmo assim, ele andava bem paciente.

- Sinta-se em casa.

- É temporário.

- Eu queria saber mais sobre ele, ver fotos dele pequeno.

- Qualquer dia desses eu mostro. Cê num vai mais voltar a fazer shows não?

- Vou. Queria tá hoje aqui em casa pra recebê-lo, mas amanhã viajo.


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