Fugas

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Julho de 1941

— Kurt foi para a Inglaterra! — Sam entrou em casa feito um trovão, parando quase em cima de Quinn, que lia calmamente em seu canto reservado da sala de estar.

Quinn observou o marido mais atentamente. Sam suava e ofegava como se tivesse vindo do quartel para casa a pé. Nunca o vira tão aflito, nem quando os dois haviam conhecido Hitler nas Olimpíadas de 1936. O garoto também parecia desolado, amassando uma carta entre os dedos da mão esquerda como se isso dependesse de sua vida.

— O que aconteceu? — indagou Quinn, marcando a página onde parara de ler e pousando o livro na mesinha de centro. — O que houve com Kurt?

— Ele foi para a Suíça — repetiu o marido, caindo no sofá ao lado da cadeira de leitura de Quinn. Sam parecia prestes a chorar. — Ele deixou-me esta carta, e...

Ele estendeu o papel para Quinn, que o pegou curiosa. Kurt era um bom amigo dos dois, e sua partida seria sentida não só por Sam, mas também por ela. Com quem mais ela discutiria assuntos levianos, tal como sapatos e roupas, nas reuniões do clube anti-Hitler? Ela desamassou a carta e leu seu conteúdo.

Caro Sam,

Desculpe-me por dizer adeus de uma forma tão brusca e vulgar, mas eu temo que não possa visitá-lo em seu quartel mais.

Preciso fugir. Lembra-se de quando nós conversamos sobre o futuro e eu disse que o meu talvez não fosse aqui, na Alemanha? Bem, isso se torna verdade a partir de agora. Não sei se isso chegará a suas mãos sem ser violado, então eu posso apenas dizer que meu sonho agora se tornou real.

— Sonho? Que sonho? — Quinn interrompeu a própria leitura e levantou os olhos para Sam, curiosamente.

— É algo entre nós dois, que compartilhávamos desde a infância — Sam confessou, desolado. — Somente eu sabia o seu segredo, tal como só Kurt sabia do meu.

Ela sabia que não deveria insistir naquele momento, por isso continuou a leitura silenciosamente.

Decidimos embarcar para a Suíça e de lá irmos para a Inglaterra. Como Tenente-Coronel, sabe que a Suíça é neutra nesse confronto estúpido, e por isso deverá — eu espero — ser mais fácil chegar à Inglaterra por lá.

Queria mandar cartas todas as semanas, mas nós dois sabemos que isso será inviável. Da Inglaterra, talvez nós possamos ir aos Estados Unidos — como o país não está em guerra contra a Alemanha, presumo que sua política seja mais relaxada.

Quem sabe, quando essa guerra acabar, nós possamos nos ver novamente. Até lá Sam, comande esses pequenos alemães da melhor maneira que conseguir e continue liderando Finn e os outros a um plano que finalmente dê certo.

Meus sinceros abraços,

Kurt Hummel

PS: Quinn Evans, eu sei que lerá isso. Então, eu desejo felicidades a você e Sam e peço para que, por favor, cuide do seu marido. Eu sentirei saudades de você, especialmente da sua deliciosa torta de limão.

Quando terminou de ler a carta, Quinn percebeu que lágrimas escorriam por suas bochechas desesperadamente. O marido não chorava, mas seus olhos estavam vermelhos e ele assuava o nariz nas costas da mão.

— Nós... — disse Quinn depois de um bom tempo. — Kurt nunca se refere a ele no singular, e sim no plural. Ele está com alguém? Esse é o segredo dele?

Sam assentiu, fitando Quinn significativamente.

— Mas ele poderia simplesmente casar com ela aqui — sugeriu a mulher, franzindo o cenho. — A não ser que ela seja judia...

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