Eu Amo Você

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Outubro de 1942

Assim que Quinn entrou em casa, ela desceu para o porão. Rachel ainda estava dormindo, mas acordou quando ouviu os passos da dona da casa. Quinn ainda segurava a carta de Sam; sua garganta estava seca e a dor de cabeça era pior que a da noite anterior.

— Você não passou a noite aqui — disse Rachel com a voz rouca.

Quinn se aproximou um passo da cama, receosa. Ela queria beijar Rachel e dizer que tudo estava bem, que a guerra tinha acabado e que elas se mudariam para uma ilha no meio do Atlântico onde ninguém poderia prendê-las por fazer o que parecia certo. Ela queria esquecer Sam, Finn, suas empregadas e Beatrice e viver só com Rachel para sempre. Se fosse corajosa o bastante, se não fosse os enormes empecilhos que cada uma das duas carregava...

— Eu fui jantar na casa de Beatrice — respondeu Quinn. Ela segurou com mais força a carta de Sam. — Acho que... acabei bebendo demais e...

A expressão de Rachel foi de surpresa para completo horror em menos de cinco segundos. Pela primeira vez em dias, ela se levantou e avançou para Quinn, que se encolheu diante da fúria da mulher.

— Não me diga que agora você está apaixonada por três pessoas, Fabray — sussurrou Rachel de mansinho.

Quinn engoliu em seco e usou toda a sua força de vontade para não fugir do porão como tinha feito na última semana. Ela respirou fundo, ignorando sua dor de cabeça, e disse claramente:

— Eu não estou apaixonada por Beatrice! Ela é só uma amiga. Eu dormi lá por que não consegui voltar para casa sozinha.

Rachel olhou para Quinn de forma ameaçadora. As duas não se mexeram por longos minutos: Rachel furiosa e Quinn assustada demais para fazer algum movimento. A carta continuava pesando na mão de Quinn, mas ela não sabia como entraria naquele assunto. Rachel estava irritada e com razão — Quinn não se desculpara pelo comportamento da última semana.

— Nós temos muito que conversar — Rachel falou, por fim quebrando a troca de olhares e voltando a sentar na cama.

O corpo de Quinn tremeu com o tom de voz da mulher. Como ela contaria que estava incrivelmente apaixonada por Rachel? Como explicaria a carta de seu marido e que Sam estaria de volta até o fim de novembro? Como ela lidaria com Sam e Rachel na mesma casa, quando um jamais poderia saber da existência do outro? Como Quinn faria aqueles mundos completamente diferentes se unirem para que ela tivesse finalmente um pouco de paz?

— Fabray, eu não sou tão ameaçadora quanto pensa — disse Rachel, e fez um aceno para que Quinn fosse sentar ao seu lado. — Sou eu que estou limitada a um porão, afinal de contas.

Quinn assentiu e sentou na cama, mas o mais distante possível de Rachel. A judia revirou os olhos e abriu um sorriso debochado. O rosto de Quinn ficou vermelho. Ela podia controlar seus pais e Sam com um simples aceno de cabeça; Quinn, assim como Rachel vivia afirmando, era muito persuasiva e nunca perdia uma discussão. Era algo de família, algo dos Fabray, uma tradição que ela e sua irmã foram aprendendo ao longo dos anos.

E mesmo assim, seu coração batia loucamente e Quinn nunca sabia o que dizer em relação aos sentimentos com Rachel Berry. Aquela judia tinha feito os sentidos de Quinn ir à loucura. Para alguém que tinha passado tanto tempo em uma posição de poder, se acostumar a ser controlada levava tempo.

Tempo que ela não teria se Sam chegasse logo e Rachel tivesse que fugir de novo de seus braços.

Como ela deixara as coisas fugirem de seu controle dessa forma? Às vezes, ela pensava o que teria acontecido com sua vida se não tivesse seguido ordens da sua mãe e não ido à cozinha naquela última noite de 1936. Se não tivesse subido ao terraço da casa do general para escapar dos pretendentes do pai. Se tivesse simplesmente mudado uma única coisa, um detalhe mínimo, da sua vida durante aquela época, ela ainda teria conhecido Rachel? Se apaixonado por ela? Ou seria outra pessoa, outro judeu, que ela esconderia? Um detalhe poderia mudar sua vida, a de Sam e a de todas ao seu redor. Pensar nisso assustava Quinn.

1942Onde histórias criam vida. Descubra agora