Bombardeio

824 89 43
                                    


Agosto de 1942

Quinn tentou se distrair com absolutamente tudo na primeira semana: evitou ir visitar Rachel, foi às reuniões das donas de casa de Strausberg, conversou com Beatrice (sua possível arquiinimiga), conseguiu até fazer Finn levá-la ao quartel onde Sam trabalhava para pegar alguns dos pertences do marido — que eram na verdade de Rachel —, mas nada dava certo.

Ela ainda ia para a cama toda noite pensando em Rachel, em como seus sentimentos confusos se tornaram tão resolutos tão logo percebeu que Rachel corria, sim, perigo ao ficar perto dela. Por que a estória não era mais sobre uma alemã escondendo uma judia. Era sobre uma alemã que se apaixonara por uma judia ao escondê-la em plena guerra.

Era errado. Era nojento. Era desprezível. O que os perfeitos Fabray iriam fazer ao descobrir que sua filha gostava de uma judia suja que escondera em seu porão por meses? O que o grande Russell Fabray responderia aos seus sócios se por acaso eles perguntassem onde sua filha mais nova estava passando as férias de inverno, sem o marido? Ela sentia um arrepio subir por sua coluna toda vez que pensava nisso.

Quinn estava colocando sua família toda em risco quando percebeu estar apaixonada por Rachel. Ela os levaria à falência, a um campo de concentração, e possivelmente à morte. Quinn não podia fazer isso, mesmo que seu pai fosse um bitolado obcecado pelo governo de Hitler. Frannie e Chloë... Deus, Quinn sequer queria pensar nas duas, em sua mãe muito menos. Ela não poderia liderá-los a uma vida de miséria.

Entretanto, o arrependimento doía mais toda vez que sua mente fazia o círculo completo das pessoas mais importantes da sua vida e voltava para Sam. Seu Sam, seu marido, seu companheiro de muitas loucuras durante todos esses anos... Ela ainda o amava. Ela ainda o queria ao seu lado, mas o sentimento nos últimos meses passou a ser tão mínimo que Quinn sinceramente não importaria em não vê-lo até o fim da guerra. Ela sentia uma falta louca dele, mas Rachel... A judia não era uma substituta para o amor que sentia por Sam.

Eram dois amores, completamente diferentes, Quinn percebeu em algum ponto da segunda semana de agosto, quase um mês depois do surto de Rachel. E Brittany tinha avisado a ela antes de se casar. O que ela sentia por Sam era algo completamente fraternal, porém o sentimento que tinha por Rachel parecia ser infinito. Puro e simples — não tão simples assim —, que funcionaria sem muitas complicações se elas fossem de algum futuro distante onde não existiria essa estupidez de divisão de raças ou homofobia.

De qualquer forma, Quinn estava observando Evelyn lavar a louça e sua mente voava para os poucos momentos que tivera com Rachel naquela última semana. Mesmo tentando manter distância dela, era praticamente impossível, já que a casa era sua e tinha sido Quinn que tivera a estúpida ideia de abrir a porta naquela madrugada de abril. Hans e Evelyn eram legais e gentis com Rachel, no entanto o papel era de Quinn de confortá-la e convencê-la a contar um pouco da sua vida.

Uma vez que Quinn decidira por jogar todos os seus sentimentos no lixo e fingir que nada estava acontecendo, as duas continuaram com as demonstrações de afeto que cada dia ganhava mais espaço. Quinn dormira duas noites seguidas no porão enquanto Rachel se enroscava em seus braços e dormia serenamente, algo que, de acordo com a própria Rachel, não acontecia desde a época que seus pais estavam vivos.

— Sra. Evans? — chamou Evelyn, sacudindo seu ombro. — Sra. Evans, eu acho que você precisa prestar atenção ao rádio.

Quinn piscou, assustando com a proximidade da empregada. Ela assentiu e se aprumou na cadeira, sentindo o olhar de Evelyn nela e tentando ouvir o que o locutor dizia.

E mais uma vez para os que ligaram o rádio neste momento: a polícia de Strausberg junto com a SS estará fazendo uma inspeção nos porões de cada uma das casas na cidade para a prevenção contra bombardeios dos Aliados. A seguir segue a lista dos bairros da cidade que serão inspecionados primeiro e as datas de cada inspeção.

1942Onde histórias criam vida. Descubra agora