Esconderijos

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— Rápido, entre! — sussurrou Quinn em tom alarmante, puxando Rachel para dentro de casa.

Rachel caiu no sofá, cansada e fraca demais para fazer um movimento mais brusco. Quinn se aproximou da mulher, temendo por sua saúde. Ela estava surpresa. Prometera a Rachel que cuidaria dela em qualquer momento, mas tivera certeza de que ela tinha morrido no campo de extermínio.

— Ah, meu Deus, você está em chamas! — disse Quinn ao tocar a testa de Rachel. A mulher estava encharcada de suor, tremendo e, mais uma vez, cheia de machucados pelo corpo. O uniforme listrado estava mais rasgado que nunca, e a pele por baixo dele era seca e esticada.

— E-eu... — crocitou Rachel, tentando formular uma frase. — F-fabray, n-não pos-s-so...

— Eu vou pegar um cobertor e uma refeição para você.

Quinn engoliu em seco, com medo de seus empregados acordarem com sua conversa com Rachel e viessem investigar o que estava acontecendo. Ela piscou duas vezes fortemente, tentando conter as lágrimas, e subiu as escadas para pegar o cobertor para Rachel. Quando desceu para a sala de novo, Quinn encontrou Rachel observando o lugar com olhos curiosos.

Ela não disse nada, apenas estendeu o cobertor a Rachel. Foi à cozinha e sentiu o estômago roncar ao ver sua refeição da madrugada intocada. Quinn não merecia a comida, não quando teria que cuidar de Rachel.

— Tome — Quinn ofereceu o prato a Rachel assim que retornou a sala. — Você quer, ahm...

Antes que pudesse oferecer os talheres, Rachel atacou o prato de comida com as mãos, esfomeada demais para se lembrar das boas maneiras. Ela desviou o olhar, constrangida, sentindo como se estivesse invadindo um espaço muito particular de Rachel.

A judia gemeu quando terminou a refeição. Quinn achou que seria seguro olhar para sua hóspede novamente, embora suas bochechas ainda corassem de constrangimento.

— Você quer mais? — ela indagou seriamente, tomando o prato limpo das mãos sujas de Rachel.

Por um segundo mínimo, os dedos de Quinn encostaram na pele seca de Rachel e ela quase deixou o prato cair. Sim, ela havia tocado Rachel para sentir sua temperatura minutos antes, mas aquilo parecia diferente, mais... intenso. Com mais intenções que uma simples checagem de temperatura.

Ela rapidamente tirou o prato das mãos de Rachel e, sem ouvir a resposta da mulher à sua pergunta, rumou à cozinha, sentindo suas mãos tremerem ao colocar a louça na pia. Perguntou-se o que serviria à judia (e a si própria) agora que sua refeição da madrugada tinha sido comida por mãos selvagens.

— Não quero mais nada — Rachel disse sorrateiramente, quase causando em Quinn um ataque do coração. — Eu só precisava de um tempo longe das ruas.

Quinn virou-se para Rachel, que estava no batente da porta, tremendo embaixo do coberto como se estivesse fazendo dez graus negativos. Ela queria abraçá-la, dizer que aquele pesadelo logo acabaria, porém, qualquer espécie de toque entre as duas seria avançado demais para a relação frágil que elas haviam construído ao longo dos anos.

— Você vai voltar lá para fora? — Quinn indagou, convidando Rachel a se sentar na mesa de jantar da cozinha. — Eu não aconselharia tal coisa.

— E eu também não aconselho ser judia em tempos tão tempestuosos — retrucou Rachel amargamente. Quinn sentiu o rosto corar. — Se eu não partir, vou enfiar você em uma encrenca das grandes.

— Rachel... — chamou Quinn atenciosamente, impressionada com a força de vontade daquela mulher. — Você está muito mal. Horrível, se me permite tal franqueza. Não está em condições para fazer viagens grandes para... — ela parou, engolindo em seco — para aonde quer que queira ir.

1942Onde histórias criam vida. Descubra agora