Because Grandma Was Although So Abruptly ??

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As duas pessoas de quem Louis mais sentia saudades eram o avô e a avó. Eles moravam juntos num pequeno apartamento próximo às bancas de frutas e legumes, e, na época em
que o garoto se mudou para Haja-Vista, o avô tinha quase setenta e três anos, o que, para os padrões do menino, fazia dele praticamente o homem mais velho do mundo.

Certa tarde, Louis calculara que, se viesse a própria vida de novo e de novo por oito vezes, ainda assim
seria um ano mais novo do que o avô.

O avô passara a vida toda cuidando de um restaurante no centro da cidade, e um de seus empregados era o pai do amigo de Louis, Martin, que trabalhava como chef de cozinha. Embora o avô não cozinhasse mais ou atendesse as mesas, ainda passava lá a maior parte de seus dias, sentado no bar durante as tardes, conversando com os fregueses, fazendo suas
refeições à noite e lá ficando até a hora de fecha, rindo com os amigos.

A avó jamais parecia velha em comparação às avós dos outros meninos.

Na verdade, quando o menor descobriu a idade que ela tinha – sessenta e dois –, ficou impressionado. Ela conhecera o avô quando ainda era jovem, após uma de suas apresentações, e de alguma maneira ele a convenceu a se casarem, apesar de todos os defeitos dele. O cabelo dela era comprido e ruivo, surpreendentemente parecido com o da nora, e os olhos, verdes, o que ela
atribuía ao sangue irlandês disperso pela família.

Louis sempre sabia quando as ffesta familiares atingiam o ápice de animação, porque a avó ficava rondando o piano até que alguém se sentasse para tocar e pedisse a ela para cantar.

“Como é?”, fazia ela, levando a mão ao peito como se a idéia de cantar já lhe tirasse o fôlego. “É uma canção o que estão pedindo? Ora, eu não poderia, imagine. Infelizmente, meu jovem, meus dias de cantoria já são coisa do passado.”

“Cante! Cante!”, pediam todos os convivas, e, após a devida pausa – que podia chegar a dez ou doze segundos –, ela afinal cedia e se voltava para o jovem ao piano e dizia rapidamente numa voz bem-humorada:

“La vie en rose, mi bemol maior. E tente acompanhar as mudanças."

As festas na casa de Louis eram sempre dominadas pela cantoria da avó, que por alguma razão parecia coincidir com o momento em que a mãe saía da área principal da festa e ia para a cozinha seguida por algumas de suas próprias amigas. O pai sempre ficava para escutar, o garoto também, pois não havia nada de que ele gostasse mais do que escutar a avó se entregar à música e libertar todo o poder de sua voz, arrancando os aplausos dos convidados ao final.

Além disso, La vie en rose lhe dava arrepios e fazia os cabelos da nuca
ficarem em pé.

A avó cultivava a idéia de que um dia Louis ou Charlotte pudessem seguir seus passos sobre o palco, e, em todo Natal e em toda festa de aniversário, ela inventava uma pequena peça para ser apresentada pelos três à mãe, ao pai e ao avô. Ela própria escrevia as peças e, conforme a opinião do garoto, sempre guardava para si as melhores falas, embora ele não se
importasse muito com isso.

Em geral havia música em alguma parte – “É uma canção o que estão pedindo?”, perguntava ela primeiro – e uma oportunidade para Louis fazer um truque de mágica e para Lottie dançar. A peça costumava terminar com o menor recitando um longo
poema de um dos Grandes Poetas, palavras que o menino achava muito difíceis de compreender, mas que de alguma maneira soavam mais e mais bonitas à medida que ele as lia.

No entanto, essa não era a melhor parte dessas pequenas funções. A melhor parte era que a avó preparava um figurino para o pequeno e a irmã. Não importava qual fosse o papel, não importavam quantas falas ele tivesse, se pouco numerosas em relação às da avó e da irmã, Louis sempre acabava vestido de príncipe, ou de xeque árabe, ou até mesmo, numa ocasião, de gladiador romano. Havia coroas e, quando não havia coroas, havia lanças. E quando não havia lanças, havia chicotes e turbantes.

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