What They Seen Through Window

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Para começar, não eram crianças, afinal. Ao menos, não todos. Havia meninos pequenos e grandes, pais e avôs. Talvez alguns tios também. E algumas daquelas pessoas que vivem
sozinhas nas ruas da vida e não parecem ter parentes. Era gente de todo o tipo.

"Quem são eles?", perguntou Charlotte, tão boquiaberta quanto o irmão costumava ficar. "Que tipo de lugar é esse?"

"Não sei bem ao certo", disse Louis, mantendo-se o mais fiel possível a verdade. "Só sei que não é tão gostoso quanto a nossa casa."

"E aonde estão as meninas? E as mães? E as avós?"

"Talvez elas morem em outra parte", sugeriu o pequeno.

Lottie concordou. Ela não queria continuar olhando, mas era muito difícil voltar os olhos para outra direção. Até então, tudo o que vira fora a floresta diante de sua própria janela, que parecia um pouco escura, mas um bom lugar para piqueniques, se houvesse uma clareira mais adiante. Mas, daquele lado da casa, a vista era bem diferente.

Começava até agradável. Havia um jardim logo abaixo da janela de Louis. E era bem grande, repleto de flores crescendo em seções bastante ordenadas, que aparentavam ser
cuidadas com muito zelo por alguém que sabia que plantar flores num lugar como aquele era uma boa coisa a se fazer, como acender uma pequena vela no canto de um enorme
castelo numa charneca enevoada durante uma noite escura de inverno.

Para além das flores havia um pátio bastante aprazível com um banco de madeira, onde a loira se imaginou sentada à luz do sol lendo um livro. Havia uma placa instalada na parte
superior do banco, mas ela não conseguiu lê-la àquela distância. O banco estava voltado para a casa - o que seria habitualmente estranho, mas, naquelas circunstâncias, ela
compreendeu o motivo.

A uns cinco metros mais adiante no jardim e das flores e do banco com a placa, tudo ficava diferente. Havia uma enorme cerca de arame que envolvia toda a casa e se voltava
para dentro no topo, estendendo-se em todas as direções para onde a vista de Lottie não alcançava.

A cerca era muito alta, ainda maior do que a casa na qual estavam, e havia
imensos mourões de madeira, como postes telegráficos, distribuídos ao longo dela, mantendo-a de pé. Sobre a cerca havia grandes rolos de arame farpado entrelaçados em espirais, e Lottie sentiu uma pontada inesperada de dor dentro de si ao olhar para as pontas afiadas que sobressaíam ao longo de toda a extensão.

Não havia grama do outro lado da cerca; na verdade não havia verde nenhum. Em vez disso, o chão parecia feito de uma substância arenosa, e até onde sua vista alcançava tudo o
que havia eram cabanas baixas e prédios quadrados e amplos espalhados pelos arredores, e uma ou duas colunas de fumaça ao longe.

Ela abriu a boca para dizer alguma coisa, mas então percebeu que não encontrava as palavras para expressar sua surpresa e fez a única
coisa que podia fazer, fechando-a novamente.

"Está vendo?', disse Louis do canto do quarto, sentindo-se silenciosamente satisfeito consigo mesmo porque o que quer que houvesse lá fora - e fossem eles quem fossem - fora ele quem primeiro os descobrira e poderia vê-los sempre que quisesse, pois estavam do lado de fora da janela do seu quarto, e não do dela, e portanto pertenciam a ele, e ele era o
rei de tudo o que eles viam, e ela era sua súdita inferior.

"Não entendo", disse Charlotte. "Quem seria capaz de construir um lugar tão assustador?"

"É mesmo assustador, não é?", concordou o menor. "Acho que aquelas cabanas têm apenas
um andar. Veja como são baixas."

"Devem ser casas de tipo moderno", disse Lottie. "Papai odeia as coisas modernas."

"Então acho que ele não vai gostar delas", disse o menino.

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