The Maid Very Well Paid

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Alguns dias depois Louis estava deitado na cama em seu quarto, olhando para o teto sobre a cabeça. A tinta branca estava rachada e descamando de uma maneira bastante desagradável, ao contrário da pintura da casa em Berlim, que nunca ficava arranhada e recebia uma segunda demão de tinta todo verão, quando a mãe trazia os decoradores.

Naquela tarde em especial ele ficou lá deitado olhando para as rachaduras em forma de teia de aranha, estreitando os olhos para imaginar o que haveria para além delas. Pensou que poderia haver insetos morando no espaço entre o teto e a tinta, e o movimento deles seria responsável por forçar a pintura, inchando-a por dentro, provocando as rachaduras, tentando abrir uma brecha grande o bastante para que eles pudessem atravessar e procurar a saída pela janela, por onde escapariam.

Nada, pensou Louis, nem mesmo os insetos jamais optaria por ficam em Haja-Vista.

“Tudo aqui é horrível”, ele disse em voz alta, embora não houvesse ninguém presente no quarto para escutar e, de alguma maneira, ele se sentiu melhor por ter ouvido as palavras ditas, fosse como fosse. “Eu odeio esta casa, odeio meu quarto e odeio até mesmo a pintura. Odeio tudo aqui. Absolutamente tudo.”

Assim que ele terminou de falar, Maria entro pela porta carregando uma braçada de roupas devidamente lavadas, secas e passadas. Ela hesitou por um instante quando o viu ali
sentado, mas depois fez uma reverência com a cabeça e caminhou em silêncio até o guarda-roupa.

“Olá”, disse Louis, pois, embora conversar com uma criada não fosse a mesma coisa do que ter amigos com quem conversar, não havia mais ninguém para lhe fazer companhia e
era bem mais saudável falar com ela do que ficar falando sozinho. Lottie não estava por perto e ele começou a se preocupar, temendo que pudesse enlouquecer por causa do tédio.

“Senhor Louis”, disse Maria em voz baixa, separando as camisas das calças e das roupas de baixo e guardando tudo em gavetas e prateleiras separadas.

"Imagino que você esteja tão incomodada com as novidades quanto eu”, disse o menino, e ela se voltou para encará-lo com uma expressão que sugeria não saber do que se tratava. “Tudo aqui é horrível, não é? Você não odeia tudo isso, como eu?”

Maria abriu a boca para dizer alguma coisa, mas fechou-a com a mesma rapidez. Ela parecia estar pensando cuidadosamente na resposta, escolhendo as palavras certas,
preparando-se para dizê-las, e então pensou melhor e dispensou-as por completo. Louis a conhecia por quase toda a sua vida – ela viera trabalhar para sua família quando ele tinha
apenas três anos – e eles sempre se deram bem juntos, embora ela jamais demonstrasse grandes sinais de vida. Seguia com seu trabalho, lustrando os móveis, lavando as roupas, ajudando na cozinha e nas compras, por vezes levando-o à escola e buscando-o na saída, apesar de isso ter sido mais comum quando ele ainda tinha oito anos; ao completar nove anos, ele decidiu que já tinha idade suficiente para ir e voltar sozinho da escola.

“Então você não gosta daqui?”, disse ela afinal.

“Se eu não gosto daqui?”, respondeu Louis com uma leve risada. “Gostar daqui?”, ele repetiu, mais alto desta vez. “É claro que eu não gosto daqui! É horrível. Não há nada para se fazer, não há ninguém com quem conversar, ninguém para brincar comigo. Não vá me dizer que você está contente por termos nos mudado para cá.”

“Eu sempre gostei do jardim da casa de Berlim”, disse Maria, respondendo a uma pergunta completamente diferente. “Às vezes, quando a tarde era quente, eu me sentava ali
ao sol e almoçava sob a hera junto ao lago. As flores lá eram muito bonitas. Seus perfumes. As abelhas que flutuavam ao redor delas e nunca nos incomodavam se as deixássemos em
paz.”

“Então você também não gosta daqui?”, perguntou Louis. “Acha tão horrível quanto eu acho?”

Maria franziu o cenho.

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