Já fazia quase um ano desde o dia em que Louis chegara em casa e encontrara Maria empacotando suas coisas, e as suas memórias da vida em Berlim haviam se desvanecidos quase completamente.
Quando tentava se lembrar, sabia que Zayn e Olly eram dois de seus três melhores amigos, mas não conseguia mais se lembrar do nome do terceiro. E então aconteceu uma coisa que fez com que ele passasse dois dias longe de Haja-Vista e retornasse à casa antiga: a avó tinha morrido e a família fez a viagem de volta para o funeral.
Enquanto esteve lá, Louis se deu conta de que não era mais tão pequeno, pois agora conseguia ver por cima das coisas de um modo que não conseguia antes e, quando pernoitaram na antiga casa, ele pôde olhar através da janela, no último andar, e ver Berlim sem ter que ficar na ponta dos pés.
Louis não vira mais a avó desde que deixaram Berlim, mas pensava nela quase todos os dias. As coisas de que mais se lembrava eram os esquetes que ela, ele e Lottie encenavam durante o Natal e os aniversários, e como ela sempre tinha o figurino certo para qualquer papel que se fosse representar. Quando pensava que eles nunca mais poderiam fazer aquilo de novo, Louis ficara realmente muito triste.
Os dois dias que passaram em Berlim também foram muito tristes. Houve o funeral, e Louis, Charlotte, o pai, a mãe e o avô sentaram-se na primeira fila, o pai vestindo seu mais importante uniforme, aquele engomado e passado cheio de condecorações.
O pai estava especialmente triste, a mãe contou a Louis, porque havia brigado com a avó e eles não fizeram as pazes antes de ela morrer.
Muitas coroas funerárias foram entregues na igreja, e o pai ficou muito orgulhoso em saber que uma delas fora mandada pelo próprio Fúria; no entanto, quando a mãe ficou sabendo, disse que a avó se reviraria no túmulo se soubesse daquilo.
Louis ficou quase feliz de voltar a Haja-Vista. A casa ali já se tornara o seu lar e ele havia parado de se preocupar se ela tinha cinco andares ou apenas três, e não se importava tanto com os soldados indo e vindo como se fossem os donos do lugar. Ele lentamente se deu conta de que as coisas não eram tão más assim por ali, principalmente depois de ter conhecido Harry. Louis sabia que havia muitas coisas com as quais se alegrar, como, por exemplo, o fato de que o pai e a mãe pareciam mais felizes, e a mãe não precisava de tantas sonecas pela tarde nem de tantos tragos do xerez medicinal. E Lottie estava passando por uma nova fase – nas palavras da mãe – e sua tendência era ficar fora do caminho dele.
Havia também o fato de o tenente Kotler ter sido transferido para longe de Haja-Vista, portanto ele não estava mais por perto para atormentar Louis e irritá-lo o tempo todo.
A sua partida ocorrera subitamente e causara grande gritaria entre a mãe e o pai durante a noite, mas ele se foi, disso não havia dúvida, e não ia voltar mais; Charlotte ficou inconsolável.
Este era outro motivo de felicidade: ninguém mais o chamava de "homenzinho".
Mas o melhor de tudo é que ele tinha um amigo chamado Harry.
Ele adorava caminhar ao longo da cerca todas as tardes e ficou satisfeito em ver que o amigo parecia muito mais feliz ultimamente, e os seus olhos não estavam mais tão fundos, embora o corpo ainda fosse ridículo de tão magro, e o rosto de uma desagradável tonalidade cinza.
Certo dia, enquanto estavam sentados no lugar de sempre, um de frente para o outro, Louis comentou: "Esta é a amizade mais estranha que já tive."
"Por quê?", perguntou Harry.
"Porque com todos os outros meninos com os quais eu fiz amizade eu podia brincar", respondeu ele. "E nós nunca podemos brincar juntos. Tudo o que podemos fazer é ficar aqui sentados conversando."
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Side by Side // LS
FanfikceLouis tem nove anos e não sabe nada sobre o Holocausto e a Solução Final contra os judeus.Também não faz idéia de que seu país está em guerra com boa parte da Europa, e muito menos de que sua família está envolvida no conflito. Na verdade, Louis sa...