The Wine Bottle

23 4 0
                                        

Com o passar das semanas, Louis começou a entender que não voltaria a Berlim no futuro previsível e que era melhor desistir da idéia de escorregar pelos corrimãos da sua casa confortável ou de ver Zayn ou Stan ou Olly tão cedo.

Todavia, a cada dia ele se acostumava mais e mais com a vida em Haja-Vista e parou de se sentir tão infeliz a respeito de sua nova realidade. Afinal, não era mais como se ele não tivesse com quem conversar.

Todas as tardes, terminadas as aulas, Louis caminhava o longo percurso acompanhando a cerca e se sentava para conversar com o novo amigo
harry até a hora de voltar para casa, e aquilo começou a valer por todo o tempo que ele passara sentindo saudades de Berlim.

Certa tarde, enquanto enchia os bolsos com uma porção de pão e queijo retirados da geladeira, Maria entrou e parou ao ver o que ele estava fazendo.

"Olá", disse Louis, tentando parecer tão casual quanto possível. "Você me deu um susto. Não a escutei chegando."

"Não está comendo outra vez, está?", perguntou Maria, sorrindo. "Já almoçou, não? E ainda tem fome?"

"Um pouco", disse Louis. "Vou sair para caminhar e pensei que poderia ter fome antes de voltar."

Maria deu de ombros e foi até o fogão, onde pôs uma panela de água para ferver. Dispostas na mesa ao lado, havia uma pilha de batatas e cenouras, prontas para serem
descascadas quando Pavel chegasse mais tarde.

Louis estava prestes a sair quando a
comida atraiu sua atenção e lhe veio à mente uma pergunta que havia algum tempo o incomodava. Ele não pensara a quem perguntar antes, mas aquele parecia ser o momento perfeito e Maria, a pessoa perfeita a quem fazê-la.

"Maria", disse ele, "posso lhe fazer uma pergunta?"

A governanta deu meia-volta e o olhou, surpresa.

"É claro, senhor Louis", disse ela.

"E se eu lhe fizer a pergunta, promete não contar a ninguém o que vou perguntar?"

Ela estreitou os olhos, desconfiada, mas acenou afirmativamente.

"Está bem", disse ela. "O que você quer saber?"

"É sobre o Pavel", disse Louis. "Você o conhece, não é? O homem que vem descascar os legumes e depois nos serve à mesa."

"Ah, sim", disse Maria, sorrindo. Ela parecia aliviada pelo fato de a pergunta não ser sobre nada mais sério. "Eu conheço Pavel. Já conversamos em inúmeras ocasiões. Por que pergunta sobre ele?"

"Bem", disse o menor, escolhendo cuidadosamente as palavras para não dizer algo que não deveria, "lembra-se de que pouco tempo depois de virmos para cá eu fiz um balanço no carvalho e caí e machuquei o joelho?"

"Sim", disse Maria. "Não está doendo de novo, está?"

"Não, não é isso", disse Louis. "Mas, quando eu me machuquei, Pavel era o único adulto por perto e ele me trouxe para casa e limpou o corte e o lavou e passou nele o ungüento verde, que doeu, mas acho que ajudou a sarar, e depois fez um curativo sobre o ferimento."

"É o que qualquer pessoa faria por alguém que se machucou", disse Maria.

"Eu sei", prosseguiu ele. "Só que naquela ocasião ele me disse que na verdade não era um servente."

O rosto de Maria congelou-se e por um instante ela não disse nada. Em vez disso, olhou em outra direção e lambeu levemente os lábios antes de acenar com a cabeça.

"Sei", disse ela. "E o que ele disse que era?"

"Disse que era médico", respondeu o menor. "O que me pareceu muito estranho. Ele não é médico, é?"

Side by Side // LSOnde histórias criam vida. Descubra agora