— Só mais um pouquinho e... Terminei.
— Finalmente!
— Tá preparada para ver como ficou?
— Lógico que estou.
— Tem certeza? – ela parou na minha frente, analisando o corte com uma cara nada amistosa. — Você vai me matar.
— Para de suspense!
Ana sempre foi daquelas que faz e acontece, sem se preocupar com o que vão falar. Ela é ela em todos os sentidos, mas apesar do seu gênio fora do comum, tem um coração do tamanho do universo. Talvez nós sejamos amigas exatamente por isso, por nos completarmos de alguma forma com novas diferenças. Por exemplo, diferentemente dela, eu não gosto de ser o centro das atenções e quando isso acontece, dou logo um jeitinho de sair de cena, a ponto das pessoas nem ao menos se lembrarem de mim naturalmente, não sem antes alguém me associar a um conhecido. Após um tempo, quando elas caem em si, é sempre a mesma reação:
"— Ah, a Juliana amiga da Ana".
"— Ah, Juliana namorada do Felipe/". (Agora ex)
"— Ah, a Juliana filha do seu Glauco e dona Goretti".
"Ah..."
No geral, não costumava me incomodar com isso. Afinal, entendo que algumas pessoas tenham certa dificuldade em recordar de outra. No entanto, porque elas necessitavam me agregar a alguém quando eu sou a Juliana e pronto? Ou então, se precisam de algo para conseguir se lembrar, porque não, como:
"A Juliana que cursa odontologia" Ou "A Juliana que gosta de jujubas"
Pra que essa maldita ligação com conhecidos?
Quem sabe com meu novo corte de cabelo esse tipo de infortúnio, mude e eu passe a ser a "A Juliana com mechas" ou "A Juliana careca" – isso vai depender do que a doida da Ana foi capaz de fazer.
— Mostra logo!
— Está pronta? – confirmei com a cabeça. — Tem certeza?
— Ana!
Rindo da minha ansiedade, a jovem de cabelos cor de fogo virou a cadeira para que finalmente eu pudesse ver o que tinha aprontado.
— Ai. Meu. Deus.
Levei alguns segundos para assimilar aquilo, porque definitivamente não estava pronta para algo assim. Afinal, meu cabelo sempre foi o mesmo. Escuro e longo até a cintura, com um corte simples em "V". Era comum, porém eu o adorava. Sim, adorava. Porque se eu o quisesse novamente daquela maneira, teria que deixa-lo crescer por longos meses, pois Ana o tinha cortado de um jeito totalmente novo para mim, em chanel¹. Naquele estilo curto atrás e longo na frente. A transformação mais radical que já tinha feito.
— Eu nem sei o que dizer! – exclamei, me admirando. — Como eu não percebi na hora em que estava cortando?
— Apenas pense pelo lado positivo, eu não fiz o que estava planejando.
— E o que você estava planejando?
— Pintar seu cabelo de rosa e cortar um lado em estilo sidecut².
— Sorte a sua, porque se tivesse feito isso, eu te matava.
— Imaginei que fosse dizer isso – riu. — Mas então, o que achou? Gostou?
— Ficou lindo, eu amei. Mas não sei se consigo me acostumar com ele tão curto.
— Consegue sim. Se conseguiu aguentar aquele lerdo do Felipe, porque não um corte?
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Não sou obrigada
ChickLitEm "Não sou obrigada", conheceremos a história de Juliana, uma jovem adulta que se vê perdida ao terminar seu relacionamento de cinco anos. No entanto, ela descobrirá que nem tudo está arruinado e que recomeçar pode ser um ponto de escape.