Capítulo Quatro

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Não aguentava mais ouvir o telefone tocar, tudo graças a minha mãe que devia ter contado a Ana sobre a visita da minha "querida" ex-sogra. Não que eu não quisesse conversar com ela, mas me sentia esgotada psicologicamente para qualquer coisa, ainda mais para falar sobre aquilo. Por esse motivo, pus o celular no silencioso, ignorando qualquer chamada ou mensagem ameaçadora deixada por ela – sinal de que ela não estava gostando nem um pouco de ser evitada.

Eram nove horas da noite, quando revolvi tomar um banho. Na minha cabeça, isso seria o suficiente para conseguir me livrar das palavras atordoantes da naja em forma de gente. No entanto, isso só serviu para que aquela conversa ecoasse ainda mais na minha mente.

"Por acaso cortou o cabelo? [...] Ele não combinou nem um pouco com você, querida. Ficou parecendo uma vagabunda".

"[...] Nessa clínica existem ótimos nutricionistas, tenho certeza que você daria um jeito no seu excesso de peso".

Por mais que soubesse que não deveria levar em consideração o que ela falou, não consegui conter o impacto que suas afirmações tiveram sobre mim. Minha mãe, como mãe que é, tentou amenizar o caso ao descobrir o que houve, dizendo que eu era maravilhosa por dentro e por fora e que não devia dar ouvidos aquela broaca – palavras dela, juro. A verdade é que nunca estamos preparados para ouvir coisas negativas a nosso respeito, não de maneira tão repugnante, como foi o caso.

Logo que sai do banho e coloquei meu pijama, comecei a ouvir uma gritaria vinda da rua. Era algo esganiçado e que certamente acordaria a todos os vizinhos da vizinhança. Eu teria deixado passar batido se a pessoa em questão não fosse a minha melhor e maluca amiga.

— Ju, volta pra mim! – ela berrava em frente ao portão de casa. — Sinto falta de você na minha cama!

— O que você fazendo? – perguntei, assim que abri a janela do meu quarto.

—Eu estou aqui pra te reconquistar! Eu te amo!

— Para com isso, vai acordar todo mundo.

— Quem mandou não atender ao telefone – falou, risonha. — Por favor, te quero de volta!

— Ana, para! Já são dez horas da noite, Ana.

— Grande coisa.

— Mas eu não quero falar sobre isso...

— Tem certeza? Trouxe o kit completo para momentos bad – levantou uma sacola no ar. — Sorvete, pizza, refrigerante e o seu doce predileto.

— Jujubas?!

— Qual outro seria? – riu. — Mas, óh, se quiser elas, vai ter que parar com esse show e me deixar entrar. Porque eu não sei você, mas congelando aqui fora.

Assim que a deixei entrar... Sim, eu deixei, mas não foi só pelos doces, ok? Eu realmente precisava da minha melhor amiga – tá bom, e das jujubas também. Enfim, fomos para o meu quarto para que pudéssemos conversar melhor. Enquanto nós nos fartávamos com todas aquelas coisas que ela trouxe, eu contei a ela cada detalhe da conversa com minha ex-sogra. Ana como escorpiana que é reagiu nada amigável com a situação contada e tenho certeza que se estivesse no meu lugar, aquele ser teria levado uma bela surra.

— Mas quem aquele filhote de cruz credo pensa que é para falar assim com você?

— Você a conhece, sabe como ela é.

— Eu conheço, mas não imaginei que teria a ousadia de vir até aqui te ofender.

— Nem eu – falei, dando uma mordida no meu pedaço de pizza.

Não sou obrigadaOnde histórias criam vida. Descubra agora