Capítulo Nove

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Várias coisas se passaram em minha mente e não sabia muito bem como agir por conta dos pensamentos contrastantes. Uma parte de mim queria ir embora e esquecer aquela noite, enquanto a outra insistia em querer ficar, pois não podia deixar que ele me abalasse novamente. Era como ter um anjo e demônio sussurrando em meus ouvidos, mas neste caso, meu antigo eu e a pessoa que queria me tornar. A fraca e a forte. Praticamente duas mulheres em um corpo só. Tentei lembrar da promessa que fiz a Ana dias atrás e no que ela faria no meu lugar, então tudo que fiz foi voltar minha atenção ao barmen que antes conversava comigo, mas que agora atendia algumas pessoas a certa distância de mim. Minha segunda ideia, era dançar um pouco, mas quando estava prestes a levantar, alguém esbarrou em mim e se tratando dela, sabia que tinha sido proposital.

— Joana? Nem sabia que era você.

Rebecca abriu um sorriso puramente falso ou era a plástica que não permitia que ela alongasse demais os lábios, não sei.

— É Juliana – corrigi.

— Nunca pensei que te encontraria aqui.

— Pois é, mundo pequeno – falei desconfortável.

— Você não vai acreditar em quem está aqui também... – fez uma pausa. — O Felipe.

— Que legal – tentei soar agradável, mas sabia que tinha falhado. Além do mais, aquilo não era nenhuma novidade para mim.

— Nós viemos com alguns amigos meus. Sei que pode parecer estranho, porque ele nunca gostou de lugares assim, mas desde que a gente começou a namorar...

Mantive a mesma expressão facial no intuito de que não percebesse o nojo que senti ao ouvir aquilo. Ela continuou movendo os lábios, mas não prestava atenção em mais nada dito por ela, pois aquela conversa me fez recordar da mãe do Felipe e do dia que foi me visitar na casa dos meus pais, fazendo com que eu sentisse uma súbita vontade de vomitar. Tanto pela voz de Rosangela ecoar em minha mente, quanto por ele que sempre disse achar Rebecca fútil demais. É, e eu pensando que cinco era o suficiente para se conhecer alguém.

— Mas e você, veio com quem? – ouvi ela me perguntar e voltei meu foco no que dizia.

— Eu? Eu vim com a Ana.

— Ah, sim. Aquela sua amiguinha – falou em um tom sarcástico que tive vontade de arrancar seu aplique do cabelo.

— Olha, Rebecca, foi muito bom te ver, mas eu realmente preciso encontrar a Ana – me levantei.

— Não espera – se pôs na minha frente. — Eu não quero que fique pensando que somos rivais porque estou namorando Felipe.

— O que?

— É que sei o quanto você gostava dele e como foi recente seu termino... – fez biquinho enquanto falava, como se quisesse me confortar. — O que quero dizer é que sua amizade é muito importante para mim.

Naquele momento, eu gargalhei e acho que foi uma das mais sinceras da minha vida. A garota que sempre me odiou, sempre me olhou com cara torta e fez comentários maldosos toda vez que me via, tinha dito aquilo na maior naturalidade. Eu podia ter sangue de barata e suportar muita coisa, mas ela estava abusando muito da minha paciência. E como já tinha bebido mais do que estava acostumada, acabei ligando o foda-se.

— Rebecca, qual é? – ela me encarava com estranheza. — Você sempre me detestou e sempre deixou claro isso. E eu sei que você só está falando comigo para jogar na cara que está com o Felipe.

— Nossa, Joana... – se fingiu de ofendida.

— É, Juliana! J-u-l-i-a-n-a – a corrigi novamente. — Além do mais, não me trate como se eu fosse uma ignorante enquanto joga esse joguinho comigo. Agora se me der licença.

Não sou obrigadaOnde histórias criam vida. Descubra agora