Capítulo Três

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Eu tentei manter a calma da melhor maneira possível, além de procurar um motivo plausível para aquela visita inesperada. No entanto, nada vinha em mente. Afinal, o que aquela *insira um palavrão aqui* queria falar comigo?

— O que ela quer comigo?

— Ela não quis me falar.

Aff, a senhora devia ter me ligado!

— Eu pensei que um whats bastaria. Você vive com o celular na mão.

— Onde ela agora?

— No seu quarto.

— No meu o quarto?!

— Ela foi entrando, filha. Não tinha como eu mandar ela embora.

— Droga! – encarei as escadas que teria que subir para chegar ao meu quarto e bufando, dei um passo de cada vez.

Aquela naja – ou, senhora Rosângela, como preferia ser chamada –, era o tipo de sogra mal-amada. Quando eu ainda estava com Felipe, ela fazia de tudo para nos atrapalhar e quase sempre, conseguia. Na sua concepção, eu não era digna de ter um relacionamento com seu filho, pois não estava a altura deles. Tudo por causa do dinheiro, dos carros, da empresa, empregados e dos contatos influentes que possuem até hoje. Sim, a família Pedroso sempre foi bem de vida e por conta disso, a peçonhenta acreditava que qualquer pé rapada que se aproximava deles, tinha algum interesse financeiro.

O que ela não conseguia entender, é que quando conheci Felipe, não sabia nada a respeito deles. Fui descobrir após meses de relacionamento, quando planejávamos um jantar em família. Do inicio ao fim, ficamos juntos por simplesmente nos gostarmos. Não por proveito ou qualquer outra finalidade. Por isso que sua presença na minha casa era incômoda. Por ter em mente que essa mulher jamais me visitaria para matar a saudade.

Assim que parei em frente ao meu quarto, tomei fôlego e me preparei psicologicamente ao que viria a seguir – afinal, se tratando dela, nunca se sabia o que podia acontecer.

— Júlia – assim que me viu, me lançou um gigantesco sorriso falso.

— É Juliana.

— Quanto tempo não nos víamos, hein? Acho que desde o dia em que meu filho terminou com você, não?

"Ela não vai estragar meu dia... Ela não vai estragar meu dia...".

— O que a trouxe...

— Por acaso cortou o cabelo? – me interrompeu, analisando meu penteado.

— Sim, eu...

— Ele não combinou nem um pouco com você, querida. Ficou parecendo uma vagabunda.

E temos um novo recorde! Em menos de um minuto de conversa, uma ofensa. Antigamente, ela esperava em media, quatro. Que avanço.

— Não que você seja, mas...

— Afinal, o que você veio fazer aqui?

— Direto ao assunto. Gosto disso – ela pareceu contente em ver minha cara de insatisfação. — Bem, eu estava passando pelos arredores e pensei: por que não visitar a Júlia?

— É Juliana.

— É, é. Tanto faz.

— Olha se você veio aqui para me insultar, vou logo avisando que...

— Na verdade, eu vim aqui para te agradecer.

— Me agradecer? Pelo que?

— Como assim pelo que? Por vocês terem terminado.

— Você está brincando, né?

— Depois do rompimento, pude ver uma mudança benéfica no comportamento de Felipe. Tem focado na faculdade, saído com os amigos. Ele até mesmo está cogitando a ideia de trabalhar na empresa, ao lado do pai.

— E porque isso teria algo a ver com nosso rompimento?

— Sabe qual a atitude dele que mais me deixou feliz? – ignorou minha pergunta. — O fato de ele estar se encontrado bastante com Rebecca. Você se lembra dela, não? Ah, aquela menina vale ouro.

Eu gelei.

Por mais que eu soubesse que sua visita não me traria coisas boas e que provavelmente, eu fosse me irritar, não pude deixar de ficar surpresa com sua capacidade de destilar veneno a cada frase. A verdade, é que não existia agradecimento algum por parte dela, apenas uma súbita vontade de me ferir com suas palavras.

Ver Felipe se reestruturando era comum, até porque eu também tentava mudar a minha vida de alguma forma. Entretanto, ver que em menos de três meses após o nosso término, ele já saia com alguém, me causava certo desconforto. Principalmente, por ser uma pessoa ao qual sua mãe idolatra e que é totalmente diferente dele.

— Sei que isso deve ser um baque para você, mas convenhamos, não teriam como dar certo. São de mundos diferentes, se é que me entende.

— Era só isso que queria me dizer? – tentei soar fria, mas minha voz embargada revelava meu verdadeiro estado.

— Tem mais uma coisinha. Queria que em hipótese alguma você o procurasse. Acredito que será o melhor para os dois. Será que consegue fazer isso? Prometo recompensa-la.

— Em nenhum momento fiz ou pensei nisso.

— É apenas um pedido de mãe, Júlia. Para que isso não venha acontecer.

É, Juliana – pensei em dizer, mas estava tão esgotada daquilo tudo, que não quis prolongar nossa conversa.

— Bom, agora tenho assuntos importantes para resolver – se levantou, ajeitando o vestido. — Até a próxima.

— Eu espero que não – falei de um jeito que só eu fui capaz de ouvir.

Ah, e antes que eu me esqueça – me entregou um cartão de visita. — Nessa clínica existem ótimos nutricionistas, tenho certeza que você daria um jeito no seu excesso de peso.

Estava prestes a lhe responder, quando a maldita saiu batendo a porta. Com um misto de irritação e magoa, me tranquei no quarto e depois, desabei.

Eu ia tão bem com minhas mudanças, com meus planos. Pouco a pouco, fui sentindo que tudo poderia dar certo. No entanto, a vida jamais permitiria uma barbárie dessas, não é? Algo tinha que acontecer para estragar tudo. Só que dessa vez, o destino pegou pesado, pois não foi um "algo" qualquer, mas nada mais e nada menos, que minha ex-sogra. Uma pessoa ao qual eu abominava em todos os sentidos.

Não sou obrigadaOnde histórias criam vida. Descubra agora