Better Together

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Que tal comentar hoje? Eu acharia lindo.

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"A eternidade não torna a perda esquecível, apenas tolerável."     - Cidade das almas perdidas.

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Nem parece que já chegamos ao sábado. Acho que em semanas livres de aulas, o universo dá um jeito para que o tempo passe mais rápido que de costume.

Desde a festa, vi Niall poucas vezes. Resolvi dar-lhe um certo espaço para que aproveitasse de verdade a família. Fui convidada para passar um tempo com eles por mais de uma vez, mas preferi ficar em casa. A última coisa da qual preciso agora é um novo embate com Lauren.

No fim das contas, tem acontecido tanta coisa que só hoje ao acordar percebi em que dia estamos.

Hoje fazem 11 anos desde que meus pais morreram.

Se considerarmos que eu ainda era muito pequena, e que já se passaram tantos anos, seria de se esperar que essa data já não mexesse tanto comigo, mas parece que cada vez mexe mais.

Se fechar bem os olhos, posso sentir o perfume do papai entregando sua chegada silenciosa em casa. Também consigo visualizar o sorriso de minha mãe ao parar diante da porta e vê-lo lendo para mim e meu irmão antes de dormirmos.

Talvez Louis esteja certo quando diz que preciso trabalhar um pouco mais o impacto que a perda dos meus pais tem sobre mim. Afinal, as pessoas costumam passar por diferentes fases de luto, mas eu sinto como se não tivesse passado por nenhuma. Eu nem sabia como lidar com tudo o que estava sentindo quando os perdi repentinamente. Anne tentou ajudar a mim e Zayn, mas ela tinha seus próprios filhos para cuidar, e não fazia ideia de como tratar a nossa fragilidade emocional.

Eu cresci com medo de esquecer o pouco de lembranças que consegui guardar, mas não ter tido mais nenhuma figura paterna na minha vida deve ter ajudado a não ter sequer cogitado substituir as memórias do meus pais.

"Sabe, ficar olhando para a torrada desse jeito fixo não vai fazer ela ir até a sua boca." Zayn senta-se ao meu lado no sofá, enquanto continuo com o prato com torradas sustentado em cima dos joelhos flexionados.

"Sabe, ficar analisando a forma como olho para as minhas torradas não vai fazer com que elas se tornem suas." Devolvo na mesma entonação.

"Eu ia dizer que preferia você quando era pequena, mas lembrei que sempre foi respondona."

"Só porque você sempre deixou abertura para minhas respostas." Mostro-lhe a língua, e pouso minhas torradas na pequena mesa de centro à nossa frente.

"Você me faz parecer um tapado."

"Eu te amo, Za, mas você precisa aceitar quem você é."

"Você é muito idiota, Trice." Ele ri.

"Diga o quanto quiser, sei que é da boca pra fora." Dou de ombros.

"Ah é? E como tem tanta certeza?"

"Nós estávamos no segundo ano. Um garoto ridículo furou a fila e o meu intervalo estava prestes a acabar. Eu discuti com ele pela falta de educação, e o menino disse que eu era uma garotinha idiota, daí você apareceu do nada e disse que ele era burro e precisava olhar o significado de idiota no dicionário, porque o único idiota lá era ele mesmo."

"Meu argumento era péssimo." Ele faz uma careta engraçada, e passa seu braço por meus ombros.

"Já ouviu aquela frase feita sobre o que vale é a intenção?" Ele assente. "ótimo, porque a sua intenção era ser o melhor irmão que pudesse, e você tem feito isso como ninguém."

Defenceless (Afefobia)Onde histórias criam vida. Descubra agora