Prólogo e Capítulo 1

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PRÓLOGO

A luz dos meus olhos foi escurecendo como um túnel que se afastava do brilho do dia, o som dos carros e da movimentação da cidade foi ficando mais baixo a cada segundo demorado que se passava. Meu corpo foi de encontro com as águas escuras e frias. O último barulho que ouvi foi do tiro que acabara de levar nas costas. Meus olhos estavam fixos, bem abertos, e apenas uma lágrima escorreu do meu olho direito... Eu acabara de morrer.

Muitos acreditam que a morte é uma passagem para uma nova vida, outros acreditam que a morte é o fim da vida, que é a conclusão de um ciclo que estava predestinado a se fechar. Mas se você me perguntar o que é a morte, eu ainda não posso lhe responder, mesmo estando morta.

Espero que você possa escutar toda a minha história. Adianto a você, essa não é uma história de amor, e sim a história de como eu morri.






12/06/2015

Querido diário,

Eu nunca gostei muito de falar de mim ou das coisas que eu faço, mas a minha vó comprou esse diário e pediu que eu escrevesse tudo o que estava acontecendo comigo, então, achei melhor fazer algum uso dele. Espero que minha vida não seja tão chata e que isso possa valer para alguma coisa.

Acho que é bom começar a falar de mim, não é mesmo?

Eu cresci em um pequeno vilarejo, no interior de Oklahoma. Não tinha muitas crianças onde eu morava, então, minhas companhias eram os livros que ganhava de presente da minha mãe - quando ela resolvia nos visitar. Desde pequena, fui criada pela minha avó. Minha mãe engravidou muito cedo, e não pôde cuidar de mim, devido a sua carreira de bailarina, pelo menos é o que todos me contavam. Mas mesmo ela não cuidando de mim como uma mãe deveria cuidar, ela sempre me visitava e trazia presentes que, na visão dela iriam suprir a necessidade de ter uma mãe ao meu lado. Eu nunca perguntava sobre o meu pai, mesmo pequena, sabia que era algo delicado e não deveria ser tocado, mas isso nunca me importou tanto, pois minha mãe sempre me visitava com algum dos seus namorados, e por alguns poucos momentos, podia imaginar que aquele cara seria o meu pai. Até o dia em que ela se casou com um dos críticos de balé que encontrara em uma de suas viagens junto de sua companhia, que todo ano fazia turnê pelos Estados Unidos e Europa.

Eu não me importava tanto com o contato físico, na realidade, até preferia ficar sozinha. Era como se o mundo fosse só meu, como se os personagens dos livros que lia se tornassem reais e fossem meus melhores amigos. Acho que foi por isso que escolhi cursar literatura inglesa, e eu era apaixonada por cada aula que tinha.

Minha mãe havia morrido de câncer de mama há três anos, e desde então, me distanciei ainda mais das pessoas que me rodeavam. Quando tudo aconteceu, eu havia acabado de começar a estudar na Universidade de Tulsa, e meu relacionamento com minha mãe estava começando a dar certo, até que ela morreu e tudo desmoronou. Foi então que eu decidi focar apenas nos estudos e tentar esquecer minha vida pacata no interior, mas algumas coisas não podem ser esquecidas, elas sempre estarão lá. Com ajuda do meu padrasto, consegui alugar um pequeno apartamento, que dividia com a sobrinha dele, Carter, uma estudante de música que mal falava comigo. Ela passava noventa por cento do dia na rua, então, sua presença não era tão importante. Mais uma vez, estava afogada no meu próprio mundo... Os livros.

Consegui uma bolsa de estudos na faculdade, e pude guardar um pouco de dinheiro e assim, enviá-lo para minha avó. Depois de um tempo estudando, arrumei um emprego em uma livraria do centro, o que me fez muito bem. Estava começando a me socializar com pessoas e tudo começava a dar certo, mas sempre chegava o dia doze de junho, o aniversário de morte da minha mãe, e tudo vinha à tona novamente, todos os anos.

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