CAPÍTULO 21 - GISELLE

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- Você tem mesmo que ir? – perguntou Adam, enquanto Alison segurava em meu braço, fazendo cara de choro.

Assenti.

- Acho que vai me fazer bem ficar longe de tudo isso. Talvez, eu volte logo. – disse, tentando acalmá-los. – Não se preocupem comigo.

- Mas e agora? Com quem eu vou dividir o quarto? – Alison era, de longe, a mais desesperada.

Sorri para ela.

- O Adam pode ficar aqui com você. Certo, Adam? – olhei para ele, arqueando uma das sobrancelhas.

Adam cruzou os braços, enquanto virava o olhar.

- Vocês brigaram de novo? – perguntei. – Eu acho bom vocês não brigarem enquanto eu estiver fora. Vocês são o melhor casal! Parem com isso, já!

Eles se entreolharam. Hesitaram no começo, mas depois se aproximaram e derem um leve beijo, mostrando que estava tudo bem.

- Viu? – perguntou Alison. – Quem vai nos obrigar a fazer as pazes?

Sorri.

- Podem me chamar a qualquer hora pela webcam, O.K.? – aquela despedida estava demorando demais, precisava me apressar. – Agora, tenho que ir, daqui a pouco o ônibus passa.

       Eles me abraçaram delicadamente, enquanto depositavam em mim todo o amor e ternura que poderia receber. O abraço de dez segundos parecia ser infinito. Um filme passou em minha cabeça, desde que cheguei aqui, até agora. Desde o dia que encontrei o Adam na entrada do campus da faculdade, do meu trabalho na livraria, das infinitas baladas que recusei a ir com Adam, de todas as crises que tive... Lembrei-me de tudo num piscar de olhos.

- E o Paul? Falou com ele? – A preocupação de Adam ainda era visível.

- Relaxa! O Paul vai viajar para visitar o meu irmão. – falei. – Eu espero que ele o leve para a casa da Vovó, também. Estou com saudades...

Adam levantou o queixo e uma das sobrancelhas.

- E não está com saudades de mais ninguém?

        Eu não podia enganar o meu amigo. Ele me conhecia melhor do que ninguém, e sabia que eu ainda sentia algo por Julian. Embora eu tenha tentado a todo custo odiá-lo e tirá-lo do meu coração, eu não conseguia. Parecia que quanto mais eu me empenhava em esquecê-lo, mais sua imagem aparecia em minha mente. Eu já tinha parado de tomar sorvete para não me lembrar das coisas que me disse e dos nossos passeios de madrugada até a sorveteria, diferente de Violet, eu não conseguia tirá-lo da minha mente.

- Não... Não. – disse, tentando parecer forte. – Aliás, eu já me despedi de todos da livraria, e de todos os professores há um tempo, então, não falta mais ninguém.

- Tem certeza? – perguntou Alison, esperando que eu falasse sobre alguém em especial. – Não falta ninguém?

- NÃO! – gritei, mas logo me arrependi.

Eles recuaram.

       Dei um leve sorriso, o que já era suficiente para mostrar que sentia muito. Peguei as últimas malas que faltavam levar para o andar debaixo, dei outro abraço nos dois, e segui o caminho até o ponto de ônibus.

       Não demorou muito para o ônibus chegar e me levar até a rodoviária para que eu pudesse embarcar, de fato, e viajar. Com destino para o interior, mais precisamente para a casa da minha avó, eu embarquei no ônibus. Eu precisava me afastar de todas as turbulências que me assolavam a cada momento que se passava, mas mais do que isso, eu procurava por respostas, e talvez lá, na minha antiga casa, eu pudesse encontrá-las. Quem era o homem que aparecia em minha memória? O que ele havia feito comigo? Eu precisava descobrir tudo para poder seguir em frente, e abandonar os demônios do passado que ainda estavam presos em meu pescoço, fazendo-me carregar um terrível fardo, que aumentava a cada dia que se passava.

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