CAPÍTULO 14 - GISELLE

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        Julian estava ali, encurralado, calado, procurando palavras. Estava como eu, assustado. Seus olhos claros e vivos estavam arregalados enquanto olhava fixamente para mim. Eu não me reconhecia, nunca me imaginei falando ao daquele tipo e prendendo alguém contra parede – principalmente alguém que outrora deu em cima de mim.

       Julian era uma pessoa inconstante, suas atitudes duvidosas faziam-me criar uma barreira em que ele não podia passar. Seu jeito e seu gênio faziam-me ficar mais confusa ainda. Eu esperava por respostas, claramente ele estava mentindo e não era ator coisa nenhuma, mas o que ele era? Nunca o vira saindo para o trabalho, ou falando sobre ele com o Adam, apenas ouvira a ligação, o que me fazia voltar para a estaca zero.

       Enquanto eu me perdia nos pensamentos e devaneios, Julian havia saído pela porta de entrada, e acabara barrando com Carter, que parou em meio a sala ao ver tantas pessoas no nosso micro apartamento.

- O que é isso, Giselle? Trazendo homens para casa? – disse ela, ironizando. – Não sabia que você era desse tipo.

       Eu estava cheia. Já havia aguentado tempo demais às provocações dela e todas as suas piadinhas quando ela resolvia voltar para casa. Carter era o tipo de garota que não estava nem aí para e vida e pouco se importava com os outros ao seu redor.

- Se o meu tio ficar sabendo desses seus encontrozinhos, não vai gostar nada. – ao ver Edwin, ela piscou para ele e foi em direção ao seu quarto.

Segui-a.

Antes que ela pudesse trancar a porta do seu quarto, pus o meu pé na abertura, impedindo-a de fechar a porta.

- O que você quer? – perguntou ela.

- Quero que você pare de agir assim. – disse, tremendo-me por dentro.

- E você vai fazer o quê? Contar para os meus pais? Aqueles que me largaram do outro lado do mundo com um tio que eu mal conheço e uma garota patética como você? Ah, por favor. – Carter forçou a porta, empurrando-a, mas antes que pudesse fechá-la, eu a empurrei para dentro, podendo assim, adentrar ao quarto.

Carter encarou-me.

- O Paul se importa de verdade com você, e não quer que você destrua sua vida. Faz três dias que você não vinha em casa, e agora aparece desse jeito... Onde você estava, Carter?

Ela parou de falar e cruzou os braços.

- Carter? – perguntei, novamente.

- Não te interessa onde eu estava, você não é minha mãe nem nada.

- Você quer que eu ligue para o Paul, para assim tirarmos a dúvida de uma vez?

- NÃO! – as palavras saíram da sua boca involuntariamente. – Tudo bem, tudo bem... Eu conto.

Respirei fundo, e continuei com a expressão dura no rosto.

- Estou esperando. – falei.

- Passei uns dias em cana. – disse ela, enquanto caía na cama.

- Você estava presa? – espantei-me com o tom da minha voz. – Carter, isso é sério?

Ela assentiu.

- Uns caras me envolveram num rolo aí, mas eu já saí.

- Que rolo? - perguntei, já quase sem paciência.

-Não interessa! Só importa que eu saí de lá, não é?

- E como você pagou essa fiança?

Ela parou. Seus lábios foram para dentro da boca e seu olhar foi para baixo.

O Diário de GiselleOnde histórias criam vida. Descubra agora