CAPÍTULO 24 - JULIAN

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          A melancolia é algo que eu havia experimento apenas uma vez na vida – era algo, também, que eu não tinha o menor desejo de experimentar novamente. Imaginar-me sem ela era como retirar as asas de um pássaro, como arrancar os espinhos de um cacto, ou como roubar as nuvens do céu. Tentei, por muitas vezes tirá-la da minha mente. Tentei apaga-la da minha vida, e de fato, nos primeiros cinco dias funcionou. Consegui apagar todas as mensagens no celular, a única foto que tiramos, mas não consegui apagar o seu número. Incansavelmente, todos os dias eu lhe escrevia uma mensagem, mas na hora de enviá-la, apagava tudo. Decidi, então, apenas esperar, esperar que todas as facas presas em meu coração fossem esmagadas por um sentimento novo que, eu sabia, uma hora iria chegar: em vão. Os dias passaram, e eu apenas via a luz do sol transcender pela grande janela de vidro do meu quarto, que dava para um belo jardim – coisa que não me fazia a menor diferença, porém, todas as vezes que olhava para o jardim, que via a grama verde, as árvores grandes, as flores desabrochando, o cheiro do orvalho que subia em direção ao meu quarto, todas as vezes que via alguma mudança naquele jardim, podia sentir a presença dela. Como ela amaria sentir esse aroma, olhar essa vista, eu sabia do que ela gostava. Ela, a garota que eu tanto fiz sofrer com uma quantidade absurda de mentiras. Como eu pude ser tão burro à ponto de imaginar que tudo ficaria bem apenas com pedido de desculpas, mesmo sendo o mais sincero do mundo. Eu sei, egocêntrico novamente.

       A trilha sonora da minha vida havia sessado. O maestro havia dormido, e os instrumentos foram quebrados, os músicos foram embora, a plateia já não aplaudia, e as luzes do teatro haviam sido desligadas. Estava num beco sem saída, em meio a uma crise existencial, e nem um conhaque me ajudaria nesse momento.

        Por dias minha mãe e Oliver vieram aqui. Apenas ouvir a voz dela fazia o meu corpo tremer de repulsa e desgosto, imaginar que toda aquela bola de neve era minha culpa fazia com que minhas pernas tivessem menos forças ainda para sair da cama. Não, não imaginava que estava com depressão, ansiedade ou crises de pânico, eu estava bem, era algo diferente, eu estava com Giselle. Acho que esse foi o melhor termo para explicar tudo isso que estava me rondando de maneira tão agressiva. Havia contraído Giselle, e isso estava me matando aos poucos.

       Foi então que eu ouvi o meu telefone tocar. Ele havia tocado por dias, era a coisa mais viva naquele quarto. Num ato de coragem, estiquei minha mão em direção à pequena mesa próxima à minha cama. Olhei no visor, era Adam.

- Alô? – sibilei.

- Onde você está, cara? ligando para você há uns sete dias e você não atende!

- Fala logo que eu só tenho três por cento de bateria. – mexi no cabelo, colocando-o para cima de uma maneira bruta, enquanto rolava para o outro lado da cama.

- É o seguinte: estamos indo ver a Giselle. – ele falou, com um entusiasmo diferente.

Abri os olhos rapidamente.

- Vocês vão o quê? – falei, sentando-me na cama.

- Você entendeu, idiota. Alison e eu vamos visitar a Giselle, é halloween! – continuou – Pensamos em levar umas fantasias e preparar um baile, sei lá... Alguma coisa que a alegre de alguma maneira.

- E por que você tá me dizendo tudo isso? Você sabe que ela não quer me ver de jeito nenhum, não sabe?

- Essa é a questão! Esse é o motivo perfeito para você tentar falar com ela, Julian. Já se passaram alguns meses, acho que ela está de cabeça fria agora e com certeza vai te ouvir.

Meu coração começou a disparar de maneira sobrenatural. Levantei-me no mesmo instante da cama.

- Tudo bem, eu vou para aí agora. Espere por mim! – disse, retirando a camisa às pressas para tomar um banho.

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⏰ Última atualização: Feb 27, 2018 ⏰

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