O Diário de Giselle

CAPÍTULO 18 - JULIAN

        Meus passos eram rápidos. Peguei o primeiro elevador que vi e subi até a sala da presidência, onde minha mãe me aguardava, conforme ela me falara por mensagem de texto no celular. Minha camisa branca e totalmente abotoada me sufocava, junto da gravata de cetim azul. A relação com a minha mãe já ia bem há um tempo, mas desde que ela descobriu tudo o que estava fazendo por trás dela e como eu estava administrando a empresa, senti que tudo havia piorado cem por cento.

       Consegui vê-la sentada na poltrona central da sala pela janela de vidro que dava para o corredor, por algum motivo, meu coração estava mais acelerado que o normal, e a pressão em ter que encará-la tomava conta do meu ser.

Entrei na sala em passos largos.

- Mãe... – a cumprimentei, enquanto sentava-me rapidamente na poltrona do lado.

        Ela apenas me observava, enquanto seu olhar me conferia por completo, sua expressão facial era imperceptível. O silêncio tomou conta de todo o espaço, transformando-o em um local claustrofóbico. O vento quente que vinha do aquecedor fazia com que minhas mãos suassem enquanto aguardava ansiosamente pelas palavras de reprovação que sairiam de sua boca.

- Você está mais gordo. – disse ela. – Pelo visto, aquela menina tem te alimentado bem. – falou, enquanto um sorriso irônico brotava no canto do seu rosto.

- O que a senhora queria falar comigo? Vou lhe avisar que não adianta querer me separar da Giselle, eu não vou aceitar qualquer tipo de...

- Eu não pretendo fazer isso. – ela me cortou, numa voz branda. – Isso já não me importa. Você é maior de idade e pode fazer o que tiver vontade com sua vida. Embora seja uma tristeza ver isso se repetindo, e mesmo sabendo que depois que toda a culpa que você carrega for embora, certamente vai deixar essa menina e arruinar o seu precioso tempo, eu preciso aceitar e reconhecer que perdi a batalha.

Não conseguia entender o que estava acontecendo. Não fazia sentido o que minha mãe estava falando, aquelas palavras não combinavam com ela e muito menos com o momento.

- O que você quer dizer com isso? Vai me deixar livre? – perguntei.

Ela assentiu, mas logo depois, pôs um sorriso no rosto e se preparou para falar o que tinha ensaiado por várias vezes, suponho.

- Você está livre para viver como quiser, mas a partir desse momento, você também deixa de ser o CEO da empresa, e está totalmente fora do meu testamento e perde o direito a todas as posses que estavam no seu nome. – ela se inclinou para mais perto de mim. – Isso, claro, se preferir ficar com aquela garota.

O sorriso já tinha sumido do seu rosto, e só restava a ira e a amargura presente em cada parte do seu ser, que bradava por dentro.

- Eu já esperava por isso, e demorou bastante para a senhora fazer isso. – prossegui. – Desde que a Violet morreu, minha vida tem sido um inferno, e tudo isso é graças a senhora, então, se o dinheiro, o cargo na empresa e todos os meus bens forem o passaporte para ficar livre da senhora e viver a minha vida, então, que seja! – levantei-me às pressas e fui em direção a porta, deixando minha mãe sozinha em meio a tudo o que ela falara.

- Faça um teste. – disse ela, fazendo-me parar antes de sair da sala. – Conte toda a verdade para ela. Diga quem você é e o porquê a perseguiu todo esse tempo. Abra o seu coração apaixonado e diga a verdade sobre o acidente. Conte também que você mentiu esse tempo todo sobre a sua identidade e, que na realidade você é o herdeiro de uma grande fortuna. Ou melhor, era. – ela me olhou bem nos olhos enquanto destilava o veneno que estava preso por tanto tempo. – Faça isso, e se ela quiser ficar com você depois de saber de tudo isso, então terá valido a pena largar tudo por essa menina. Se ela não quiser mais saber de você, então, meu querido, eu sinto muito, mas você estará sozinho.