Os olhos de Julian brilhavam fortemente, enquanto suas mãos frias e trêmulas seguravam meus ombros, tentando chamar minha atenção. Eu escutava atentamente as palavras que ele se preparava para me dizer. Não estava compreendendo muito bem, mas sabia que era algo importante, pois seu semblante dizia isso, ele necessitava falar algo que estava preso em seu coração.
- O que aconteceu, Julian? Você não parece muito bem... – disse, preocupada.
- Eu... Eu não sei por onde começar... – Julian parou por um momento, enquanto tomava fôlego para prosseguir – Você, eu, nós... Foi tudo tão estranho e tão rápido que eu nem sei como começar...
- Você está me assustando... O que quer dizer com isso? – as dúvidas continuavam a cirandar em minha mente, e agora elas corriam mais rápido.
Antes que ele pudesse continuar a falar, duas mulheres se aproximaram de nós. Uma senhora de cabelos castanhos presos e um coque que destacava poucos fios brancos, sua pela branca contrastava muito bem com o blazer azul e a saia do mesmo tom que usava. Seus brincos eram pretos e brilhavam tanto quanto seu colar. Ao seu lado, estava uma mulher muito mais nova, de cabelos loiros e não tão longos, que usava um vestido curto e prateado, sem nenhum adereço ou coisa do tipo, seu vestido já era chamativo o suficiente.
- Boa noite! – disse a senhora de cabelos pretos, ao se aproximar de Julian e de mim.
Ao vê-las, Julian congelou.
Seus olhos estavam parados como as de uma pintura. Ele estava imóvel e não atendia ao que eu falava. Seus olhos estavam fixos nas duas mulheres que ali também estavam paradas, encarando-o, como se esperassem alguma resposta, ou apenas um "olá".
- Boa noite! – respondi, colocando um leve sorriso no rosto.
- Vejo que vocês estão se divertindo bastante no baile deste ano – disse a mulher – eu fiz questão de fazer uma doação bem gorda esse ano.
Sorri.
- A senhora foi a benfeitora do baile deste ano? – perguntei. – Muito obrigada! Os idosos daqui não têm tantas alegrias, e é bom saber que pelo menos uma vez no ano eles podem sorrir.
- É um prazer ajudar, senhorita. – prosseguiu. – Giselle... Este é o seu nome, certo?
Assenti.
- Como a senhora sabe? – perguntei.
- Ah, as moças da recepção me disseram que você já foi voluntária desse hospital e atuou uma época na ala de idosos, por isso vim falar com você e com o seu... Namorado, suponho?
Corei. Não sabia o que responder naquele momento. Ainda não sabia o que tínhamos nos tornado, talvez fosse apenas uma amizade colorida ou algo mais sério, mas não conseguia prever naquele momento, então, achei por bem apenas colocar um sorriso no rosto e balançar a cabeça em concordância.
- E o jovem, quem é? – um sorriso de ironia estampou o rosto da mulher e da jovem que com ela estava, que não falava uma palavra, apenas seguia as feições da outra senhora.
Julian não falava nada. Sua expressão facial mal tinha mudado ainda, o que começava a me preocupar.
Dei uma leve cotovelada em sua cintura para trazê-lo de volta a terra.
Seus olhos piscaram rapidamente, ele pôs as mãos dentro dos bolsos da calça e falou:
- Me chamo... Julian, é um prazer conhece-las.
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O Diário de Giselle
Romance"O Diário de Giselle" é uma releitura moderna do balé "Giselle", do autor Théophile Gautier. A história de uma jovem que encontrou um grande amor, mas recebeu a morte como presente, será contada de uma forma que você nunca imaginou antes. Prepare-se...