O sol sumia, dando lugar a noite escura que era guiada pela grande lua. O barulho dos carros em movimento me traziam paz e calmaria, algumas pessoas se acalmavam ouvindo músicas lentas para relaxar, outros, o canto dos pássaros ou o som das águas que despencavam de uma cachoeira em direção ao rio que abraçava cada gota que caía do penhasco revestido de rochas. Bem, eu preferia o som da cidade, o barulho das rodas dos carros, o cheiro de café expresso da empresa, o perfume que exala das lojas de departamento. Esse era o meu mundo, o que me acalmava. Cresci em meio à movimentação da cidade, sempre que meu pai deixava, o acompanhava ao trabalho. Eu via o seu esforço em erguer a pequena empresa que nascera em uma casa simples e agora se tornava uma grande máquina de trabalho. Acompanhar meu pai para o trabalho era de longe a coisa mais próxima do carinho paternal que eu tinha. Para meu pai, me levar ao trabalho, deixar que eu escolhesse qualquer brinquedo da loja mais cara e me comprar um lanche, era o suficiente para mostrar que me amava.
Mesmo sentindo falta dos cuidados básicos dos meus pais, eu preferia me calar e aceitar tudo. Sempre soube que o casamento dos meus pais não ia bem, e que tudo se resumia a negócios, fama e eu. De alguma forma, eles imaginavam que uma separação me chocaria, o que, de fato, poderia acontecer, mas eu preferia muito mais ter meus pais separados e me dando atenção, a viver daquela forma para sempre. Foi quando meu pai começou a fazer viagens de negócios para lugares distantes, reuniões mais longas, começou a ter secretárias mais atraentes, e menos paciência para comigo e com minha mãe. Todos sabiam o que estava acontecendo, e simplesmente preferiram tapar os olhos e continuar a viver como se nada estivesse acontecendo. Minha mãe continuou a comprar bolsas e sapatos de grife, e eu... Bem, eu continuei a presenciar tudo de longe.
- Com quem você estava falando? – perguntou Cierra, colocando sua bolsa de mão no chão.
Cierra tirou os óculos escuros, deixando seus olhos cor-de-mel à mostra. Seus cabelos dourados e brilhantes eram levemente ondulados, e sua boca estava pintada de um tom escuro de marrom, suas roupas estavam embaixo de um casaco preto e longo, deixando apenas as botas negras de cano alto visíveis.
- Um dos investidores da China... Nada tão importante. – guardei o celular no bolso, mas a voz dela continuava em minha mente. Olhei bem para Cierra e percebi a irritação em seu olhar. Aproximei-me para dar-lhe um beijo, mas ela se esquivou, deixando que meus lábios fossem de encontro com sua bochecha rosada. – O que aconteceu, meu amor?
Ela quase me fuzilou com os olhos.
- O QUE ACONTECEU? – gritou ela, atraindo a atenção de todos que passavam pelo corredor do aeroporto. – Você me deixou esperando aqui, sabe lá Deus por quantas horas.
- O Oliver se ofereceu para te buscar. – falei pausadamente e em baixo tom.
- Aquele idiota? Você acha que eu ia sair do daqui junto dele?
- Eu já estou aqui, não é? – falei, já sem paciência.
Ela pegou a bolsa que deixara no chão, e a colocou no antebraço, enquanto agarrava-se ao meu braço.
- Tá, tudo bem! Eu te perdoo, mas que isso não se repita. – seu jeito bipolar de sempre voltava a florescer. – A viagem de Milão foi ótima, eu conheci tanta gente legal, sem falar do fotografo que...
As palavras de Cierra não chegavam ao meu cérebro, pois não conseguia assimilar nada, a não ser pensar no meu encontro com aquela garota, aquela que por tanto tempo observei de longe.
- Julian, eu estou falando sozinha e você não está me dando o mínimo de atenção aqui! JULIAN! – gritou ela.
Chacoalhei a cabeça.
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O Diário de Giselle
Romance"O Diário de Giselle" é uma releitura moderna do balé "Giselle", do autor Théophile Gautier. A história de uma jovem que encontrou um grande amor, mas recebeu a morte como presente, será contada de uma forma que você nunca imaginou antes. Prepare-se...