CAPÍTULO 4 - GISELLE

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Desde pequena, imaginei que tudo daria certo na minha vida. Imaginava que assim que saísse da minha cidade, conquistaria o mundo e teria muito sucesso. Talvez, eu tenha crescido acreditando que o mundo era colorido, por causa dos livros que lera quando menor. A leitura me faz viajar e acreditar que, de fato, existia um mundo mágico, livre de preconceitos, de julgamentos, de crucificações... De maldade. Mas pelo visto, estava completamente enganada. Ao chegar a Tulsa, percebi o quão preto e branco eram as ruas, o quão cinza era o céu, e o quanto toda a cor que invadia a minha mente em meio aos livros que lia, havia se escondido atrás de uma sombra que me rodeava a cada segundo que se passava.

Despertei-me com o barulho da chuva caindo. As goteiras dentro do meu quarto me davam bom dia. Um pingo de chuva fria caíra dentro do meu nariz, fazendo com que meu corpo se levantasse as pressas com o susto que levara. Olhei para o despertador e faltavam apenas quinze minutos para ele tocar. Decidi me apressar e me preparar para passar mais de duas horas no metrô. Minha faculdade era um pouco distante de onde eu morava, o que fazia com que eu corresse contra o tempo todos os dias. Eu finalmente começava a sentir que tudo estava voltando ao normal.

Tomei um banho quente para me despertar. As gotas quentes da água batiam em minha pele e me acordavam aos poucos, minha pele começava a ficar corada devido a quentura no presente ambiente. Despertei-me por completo e me enxuguei. Fui em direção ao meu quarto e me vesti. Coloquei uma camisa clara de mangas curtas com um desenho de um gato amarelo, era a minha camisa da sorte. Vesti uma calça preta e calcei um par de tênis escuro que encontrei no meio da bagunça da minha mala, que ainda não tinha desfeito desde que chegara da viagem. Ao olhar para o relógio do meu celular, percebi que precisava me apressar, o tempo estava contra mim. Mesmo acordando um pouco mais cedo, havia perdido a noção do tempo.

Peguei a minha bolsa e um guarda-chuvas que ficava atrás da porta, ao me virar, dei de cara com a sacola branca, cheia de remédios que havia trazido para casa na noite passada. Por um momento, tudo parou, existia apenas eu e aquela sacola branca no mundo. Eu tentava achar uma explicação racional para ter todos aqueles remédios ali, me perguntava constantemente o motivo daquele homem me ajudar.

Chacoalhei a cabeça e voltei ao normal. Seja qual fosse o motivo dele, eu descobriria o mais rápido possível.

Antes que pudesse pegar as chaves da casa que estavam na pequena mesinha de madeira escura próxima a sacola de remédios, ouvi o som do meu celular tocando.

Era o Paul.

- Alô? – atendi a chamada.

- G, você está em casa? Já foi para a faculdade? – ele falou com calma, com a sua voz grossa de locutor aposentado.

- Oi, Paul! Ainda estou em casa. Estou indo para a faculdade agora, para falar a verdade. – respondi, com um sorriso no rosto.

- Mas ainda faltam algumas horas para as aulas começarem.

- Eu preciso pegar o metrô, se não, terei que ir a pé e, provavelmente perder as primeiras aulas. – expliquei.

- Ah, sim! Deveria ter escolhido um apartamento mais próximo do campus. – disse ele.

- Não precisa se preocupar com isso! Mas me diz – mudei de assunto – o que aconteceu para você me ligar agora? Aconteceu alguma coisa séria?

- Não, não! Só queria tomar um café com a minha filha e depois levá-la para a faculdade. – Paul trazia uma doçura serena na voz. – Pode ser?

Sorri.

- Claro, claro! Onde você está? – perguntei.

- Estou aqui no Mama Palace te esperando. – disse ele.

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