Capítulo VI

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  Dor! Era tudo que eu sentia e a única palavra que conseguia formular em minha mente, com certa força conseguir abrir meus olhos, a luz branca daquele lugar me cegava em determinados momentos, ouvia um bip insistente e senti algo apertar meu dedo, tentei mover meus braços, mas estava presa. Olhei em volta e percebi que estava em um quarto de hospital, ligada a várias maquinas. Um cano estava em minha boca, e demorei um pouco para conseguir me livrar dele podendo assim respirar melhor. Logo ouvi o barulho de uma porta sendo aberta e uma mulher de branco entrar no local.
- Finalmente você acordou, bem pertinho do horário de visitas! – Ela sorriu me encarando e anotando algo.
- O que aconteceu? – Perguntei confusa.
- O médico já vai lhe explicar, acabei de chamar ele. Você só precisa ficar calma e responder algumas perguntas, ok?
Concordei com a cabeça e segui suas orientações. Alguns minutos depois um senhor de meia idade entrou no quarto e se apresentou como médico responsável pelo meu caso. Começou a falar sobre os procedimentos que haviam adotado, e os que teriam que adotar a partir desse momento.
- Dois meses? – Perguntei incrédula, assim que ouvi relatar sobre meu coma.
- Sim querida, ao ser atropelada você acabou batendo a cabeça e isso causou inchaço em seu cérebro, fazendo com que você entrasse em coma. Nós não podíamos afirmar em quanto tempo você acordaria, ou quais sequelas teria. Confesso que ver você assim nos faz acreditar ainda mais em uma força além de nós. A principio não demonstra quadro de paralisia, parece estar consciente, mas ainda é cedo para descartamos qualquer sequela.
Não conseguia digerir bem todas as informações, somente o rostinho de Alice veio em minha mãe, prometi nunca deixá-la sozinha e agora havia ficado dois meses desacordada em um hospital.
- Onde está minha filha? Meus amigos? Clara, Scott , onde eles estão? – Perguntei apavorada sentindo as lágrimas caírem.
- Ela já chegou, antes mesmo de ligarmos para avisar que você acordou, os dois vieram te ver como fazem todos os dias. Está no horário de visitas, eu posso pedir para entrarem? – A enfermeira respondeu, em seguida se dirigiu ao médico perguntando.
- Claro. – Ele responder e voltou a me olhar. - Mas procure ficar calma, qualquer alteração nos chame. Eu volto após o horário de visitas para fazer alguns exames.
- Tudo bem, obrigado. – Falei ansiosa, sentindo meu corpo tremer, precisava ver Alice e pedir desculpas pelo que aconteceu.
A enfermeira saiu e deixou a porta aberta, dando espaço para alguém passar.
Adam então entrou no quarto segurando nossa filha em seus braços e uma bolsa maior que ela, que pelo volume que fazia estava lotada de coisas. Alice estava linda, bem maior do que a última vez que a peguei em meus braços, doeu pensar que havia perdido mais de dois meses do seu desenvolvimento, agora com pouco mais de quatro meses ela parecia muito mais esperta, olhando para tudo em sua volta. Ele se aproximou da cama e colocou Alice em meus braços sem falar nada. Não consegui encará-lo, queria olhar para cada pedacinho de minha filha. Alice sorria e segurava meu rosto entre suas mãos, como se quisesse pegar algo, me fazendo derramar ainda mais lágrimas.
- Me perdoa filha, por favor, perdoa a mamãe. – Foi tudo que consegui dizer antes de envolver aquela pequena e doce criança em meus braços.
- Hey, você não teve culpa de nada. – Adam falou, me tirando da bolha que havia criado mentalmente em torno de nós duas.
- Por que você está aqui? Quem está cuidando dela? O que aconteceu? – Perguntei rapidamente, atropelando as palavras.
- Calma, está tudo bem. A Alice ta bem e vinha te ver todos os dias. Ela ficou com a Clara na primeira semana, no começo ela não queria deixar que eu visse a Alice, mas os médicos deram poucas esperanças – falou triste – e então ela permitiu que eu acompanhasse um pouco, depois permitiu que eu trouxesse ela todos os dias pra te ver, e fazem 3 semanas que estou cuidando da nossa pequena em tempo integral, enquanto você se recupera.
- Mas, você...
- Eu sei que eu sou um idiota Bella, e sinceramente eu sei que ao meu lado ela tem mais chances de sofrer, do que ficando longe, mas eu amo ela e vou fazer de tudo para protegê-la. Eu dou minha vida por ela se for preciso e nunca faria nada que a prejudicasse.
- Acho que agora não temos que falar disso. – Falei um pouco confusa. – Mas ainda vamos conversar. – Disse e ele concordou com a cabeça.
- O médico disse que a gente não pode ficar muito, você está se sentindo bem? Quer que eu chame alguém?
- Sim, eu estou bem. – Falei beijando a pequena.
- Ela esta muito esperta, tem que ver, coloca o bico sozinha na boca, tenta segurar a mamadeira e faz manha para pegar ela o tempo todo. – Riu babão.
- Eu quero ir logo pra casa com ela.
- Logo você vai, e eu vou cuidar de vocês. – Disse rapidamente. – Se você quiser, claro. – Falou com um pouco de receio.
- Você consegue perguntar pro medico quando eu vou poder ir embora?
- Sim, depois ele quer me ver, acho que vai perguntar disso, mas não sei se eu vou poder voltar aqui.
- Mesmo tendo ficado dormindo aqui, eu fiquei dois meses nesse lugar e odeio hospital, quero ir logo pra casa.
- Hey, você vai. Olha só, vou te deixar com meu celular, então qualquer coisa, ou volto pra buscar e falar contigo, ou te ligo pra gente conversar.
- Não precisa, você deve precisar. – Falei confusa.
- Hey, sem teimosia. – Disse fofo, e beijou minha testa.
- Eu não sou teimosa. – Falei bocejando, com sono, por causa da medicação.
- Você é. Eu sou, alias, nós três somos. – Falou sorrindo pegando Alice no colo que choramingava. Ele começou a embalar ela. – Bella, descansa, o médico falou que você sentiria muito sono por causa da medicação.
- Mas eu não quero dormir Adam, eu já dormi demais. – Falei quase me entregando ao sono.
- Agora falta pouco, prometo que nunca mais te deixo dormir tanto tempo. – Ele disse carinhoso, parecíamos um casal.
- Obrigado. – Falei adormecendo.
Permanecer acordada seria uma missão impossível, provavelmente por culpa da forte medicação que tomava, me entreguei de vez ao sono quando Adam saiu do quarto levando Alice consigo. Acordei um pouco assustada, sentindo alguém alisar meus cabelos e encontros e abri os olhos encontrando os olhos verdes que um dia me apaixonei, me encarando com receio.
- Desculpa, fiquei com pena de acordar. – Disse tirando as mãos de meus cabelos.
- Tudo bem, podia ter acordado. – Falei sentando na cama e olhando em volta, procurando Alice que dormia no bebe conforto próximo a cama.
- Ela dormiu logo depois que sai pra falar com o médico. – Ele sorriu.
- O que o médico disse?
- Você vai ter que ficar alguns dias aqui, pra fazer exames... E depois vai pra casa, mas não pode ficar sozinha.
- Hum, qualquer coisa eu fico na casa da Clara. – Falei pensativa e me perguntei onde estaria minha amiga.
- Pode ser, mas se você quiser, eu gostaria muito que ficasse com a gente, na minha casa.
- Como assim "a gente"?
- Eu e Alice. Claro que se você for pra outro lugar, vai levar ela contigo. Mas acho que seria melhor pra nós dois, e principalmente pra ela, se ficássemos juntos.
- Quero falar com a Clara. – Falei não demonstrando dar importância para o seu pedido. Na verdade intrigada com aquele Adam, que eu não conhecia.
- Eles estão esperando ali fora, na verdade ela já ta me matando, porque demorei muito tempo aqui. – Falou sorrindo nervoso.
- Hum, deixa eles entrarem então. – Falei séria.
- Ok, eu, ta bom. – Falou atrapalhado e saiu do quarto, logo Clara e Scott entraram.

Pov Adam

Desde que ela acordou a única coisa que eu consigo pensar é em como conseguir ou ser merecedor de seu perdão. Acredito que em dois meses cresci e evolui o que não havia evoluído nesses meus 26 anos de vida. Nunca senti tanto medo de perder alguém, como sentia a cada telefone, principalmente quando vinha do hospital. Foram dois meses em coma, mas dois meses que me tiraram de um coma que durava uma vida.
Quando Isabella sofreu o acidente, eu havia encontrado com Scott na porta de meu prédio, Alice estava chorando e então Clara pediu que eu a pegasse no banco de trás, enquanto ela saia do carro. Foi muito rápido, lembro do meu desespero ao ver minha pequenina chorando e do olhar de Isabella assim que se deparou com a cena. Ela estava aflita, com o olhar fixo em Alice correu em sua direção. Foi o pior dia da minha vida, sempre soube que era culpado por mais essa tragédia na vida dela e nunca me perdoaria se o pior acontecesse.
Depois do atropelamento o carro fugiu em alta velocidade. Mesmo com a rapidez com que os médicos vieram, ela havia perdido muito sangue e estava desacordada. Foi mantida em coma por algum tempo, depois vivemos a angustia de esperar o cérebro reagi e vê-la acordando novamente.
Foram 63 dias de luta, todos os dias ficávamos algum tempo com ela. Consegui liberação dos médicos, para levar Alice e assim segui minha rotina. Me afastei da banda, pedi para sair, mas os meninos não deixaram, então resolvemos dar um tempo, tirar férias sem previsão de retorno, trabalhando apenas em novas canções, para álbuns futuros.
Aprendi a ser pai, aprendi a trocar fraldas, reconhecer choros, e vontades. Alice sempre foi muito calma, e diferente de Petter , era uma criança fácil de cuidar. Me assustei algumas vezes, por culpa de febre, gripe, coisas normais, segundo Clara e as três pediatras que consultei em dois dias. Precisava ouvir outras opiniões, era de minha filha que estavam falando e se algo acontecesse com ela Isabella me matava. Não que eu tivesse medo da morte, mas morrer nas mãos dela não seria legal.
Em todo esse tempo, vivi com a certeza que ela acordaria, e mesmo pensando em mil pedidos de desculpas, quando a vi de olhos abertos não sabia o que falar ou como agir. Só sabia agradecer mentalmente a Deus pela nova chance que estava me dando e jurar pra eu mesmo, e para minha pequena, que não perderia a oportunidade de cuidar e fazer feliz, essas duas mulheres especiais.
É estranho falar disso, na verdade é complicado explicar, mas me apaixonei ainda mais por Isabella quando passei a conhecê-la melhor e entender alguns sentimentos dentro de mim.
Seus pais foram até o hospital duas vezes, na primeira queriam liberar que desligassem os aparelhos, falando que assim a filha sofreria menos, contudo, menti que éramos namorados, e não permiti que fosse feito isso. Como no hospital era o responsável por ela, os médicos não poderiam fazer nada sem meu consentimento.
Na segunda vez que foram, acabamos conversando. Descobri que diferente do que ela achava, não era filha biológica dos dois, e sim apenas do homem, que teve alguns relacionamentos fora do casamento, desses Isabella foi fruto. Como a mãe morreu, acabaram assumindo a criança e omitindo a identidade da mãe, para todos ela é filha biológica dos dois, acredito que nem mesmo Isabella saiba da história. Como eu sei? Ouvi uma discussão dos dois, sem o consentimento de ambos. Talvez isso fez com que eles demonstrassem me odiar ainda mais e nunca mais voltaram a procurar a menina.
Logo que Isabella sofreu o acidente, Clara me culpava e não deixava chegar perto de Alice, então Scott e ela conversaram bastante até que passou a aceitar minhas visitas. Todos os dias chegava em sua casa perto das 13 horas e saia de lá quase meia noite. Ficava com Alice em tempo integral, na segunda semana ela começou a ficar menos emburrada com minha visita e me ensinou a trocar fralda, dar mamadeira e todos os cuidados que deveria ter. De todos, o banho foi o mais difícil. Tentei argumentar que ela não precisava tomar banho todos os dias, mas Alice ama a água e ama tomar banho, acho que ela puxou a mãe nisso.
Depois de algumas semanas o médico (acredito que influenciado pelos pais de Isabella) disse que ela teria poucas chances e provavelmente ficaria em estado vegetativo. Foi ai que tive permissão de levar Alice para casa, troquei sua certidão de nascimento assumindo a paternidade e troquei Isabella de hospital. Não poderia aceitar isso sem pelo menos tentar outros especialistas. Todos sentíamos medo, acredito que por conta desse medo Clara me permitiu ser pai, jamais vou esquecer de nossa primeira noite sozinhos em casa.

Flashback onn

Fraldas? Ok. Lenço umedecido? Ok. Pomada para assaduras? Cadê a pomada? – Perguntei em voz alta falando comigo mesmo enquanto separava tudo que precisaria usar na troca de fraldas, Alice choramingava no berço me olhando um pouco assustada enquanto procurava a pomada. Por sorte havia comprado outras 10, então abri a gaveta que Poppy havia separado para guardar essas coisas e peguei outra. -Meu Deus Alice! Você puxou pelo papai. – Falei assim que abri a fralda e um cheiro nada agradável espalhou-se pelo cômodo. - Filha, eu não sei o que tua dinda te deu, mas definitivamente, você vai parar de comer o que causou isso. – Disse usando todo o pacote de lenços umedecidos, pelo menos aquilo tinha um cheiro bom. Alice ria, provavelmente da minha cara, enquanto eu fazia algum drama trocando sua fralda. - Tenho uma boa notícia para você, hoje não é sábado e portanto não tomaremos banho! – Comemorei e vi seu sorriso se desfazer, será que ela estava entendendo o que eu havia dito? Pelo jeito sim, pois cerca de 30 minutos após trocar a fralda e tomar quase toda uma mamadeira Alice começou a chorar, olhei para o relógio que marcava 20 horas e lembrei que geralmente dávamos banho nela e em Petter nesse horário. - Você quer tomar banho? – Perguntei embalando-a. - Filha seria tão mais fácil se você soubesse falar. – Sorri a levando para o banheiro de seu quarto. Enchi a banheira na temperatura queClara havia me ensinado, liguei o aquecedor e depois de sentir o quarto com a temperatura um pouco mais quente, tirei a roupinha que Alice vestia. Ela sorria e algumas vezes até gargalhava, segurou forte meus cabelos fazendo sorrindo e me fazendo rir junto. Ela amava água e se divertia a cada banho, também amava me molhar, aprendeu a bater as mãozinhas na água molhando tudo envolta, principalmente seu papai um pouco desastrado. Depois de algum choro assim que saiu da banheira, sequei e vesti Alice, cuidando para não colocar a fralda virada, passando pomada para assaduras e colocando bastante talco perfumado, minha princesa estava ainda mais cheirosa, como sua mãe costumava ser. Preparei um chá quentinho e sentei com ela olhando algum desenho na televisão. Alice adormeceu em meus braços, me mostrando cada vez mais que agora minha vida tinha algum sentido.

Flashback off


Assim que trocou de hospital Isabella começou a demonstrar melhoras, mas seguia em coma. Os médicos não davam muitas esperanças de quando aquele pesadelo acabaria, ou se acabaria sem sequelas, mas eu acreditava que sim. Então em mais um dia de nossa rotina, acordei com Alice mordendo um de meus dedos, dei banho nela, comi algo enquanto dava mamadeira para pequena e fui até o hospital. Isabella estava em um quarto todo personalizado, lá além de alguns brinquedos, acabei deixando coisas de nossa filha, como se fosse uma extensão de sua casa. Estranhei ao ver várias pessoas de branco entrando e saindo do quarto, meu coração disparou, ninguém havia me ligado, me perguntei o que poderia estar acontecendo e aproximei com medo do quarto, uma enfermeira pediu que eu aguardasse e entrou me deixando em frente a porta, depois de alguns minutos que pareceram eternos, finalmente uma enfermeira me chamou e contou que Isabella estava acordada e esperando me ver.
Sua cara foi no mínimo de espanto quando me viu entrando dentro daquele quarto, contudo no segundo seguinte ela nem ao menos se preocupou com minha presença, voltando atenção apenas a nossa Alice. O dia foi de rotina intensa, fiquei com ela um tempo, até que a mesma dormiu por conta dos remédios. Confesso que senti grande medo ao ver que ela adormecia novamente. Chamei Clara e Scott , pois depois que ela acordou pediu para falar com eles, sabia muito bem o motivo e rezava mentalmente para Clara ser "boazinha" e deixar uma boa impressão minha para ela.

- Feliz? – Scott perguntou assim que saiu do quarto de Isabella.
- Não sei definir meus sentimentos. – Falei verdadeiramente.
- Ela acordou cara. Acho que você esta tendo uma nova chance, não?
- Quero conseguir não jogar essa chance pela janela. – Ri nervoso.
- Não vai! Adam você parece outra pessoa desde que tudo aconteceu.
- E eu sou, pode ter certeza disso.
- Fico feliz em ver o cara que você tem se tornado.
- Espero que ela goste também e me perdoe.
- Ela vai! – Ele sorriu. – Vou esperar a Clara para irmos embora, e levar a Alice com a gente, o médico pediu que ficasse alguém no hospital, imagino que você queira ser esse alguém.
- Com certeza quero! Se vocês poderem ficar com Alice hoje eu agradeço muito.
- Hey, nós estamos aqui. A Clara divide com você o posto de acompanhante e nós três dividimos o de babá! Logo ela vai sair daqui, o que o médico te disse?
- Ele falou que não tem previsão, mas se ela seguir bem, talvez possamos ir logo pra casa. Ela não parece ter ficado com nenhuma sequela, mas ainda é cedo pra afirmar.
- Para qual casa ela vai querer ir? – Meu amigo perguntou curioso.
- Não sei, mas quero estar junto com elas, e mesmo que ela não queira, acho que não tem muita escolha.
- Você achou alguém tão complicado quanto você para se apaixonar né? – Falou rindo.
- Acho que o nosso caso foi de congêneres que se atraem.
- Verdade, atraem, transam e procriam né... Depois eu que sou o certeiro.
- Somos certeiros e sabemos fazer filhos lindos. – Sorri convencido.
- Adam? – Ouvi Clara me chamando e fui até ela.
- Como ela está? – Perguntei preocupado.
- Acho que ela está um pouco confusa, ela dormiu comigo te odiando e acordou dois meses depois, comigo te defendendo. – Sorriu tímida.
- Defen... O que? Fala de novo? – Perguntei fingindo estar incrédulo.
- Aff, viu, não da pra defender! – Ela riu. – Tem uma moça te esperando ali dentro... Vou levar a Alice comigo, vai que né, façam coisas que uma criança menor de 18 anos não pode ver.
- Quem me dera fazer certas coisas com ela. – Ri – Mas a Alice não pode ver, nem ouvir, nem saber que existe isso antes dos 30 anos, no mínimo. – Falei sério, ouvindo Clara e Scott gargalharem.
- Conta isso pro Petter também! – Scott falou convencido.
- Se você curte o pinto do teu filho, melhor deixar ele longe da minha filha, eu corto fora! – Falei rindo me despedindo deles e entrando no quarto. Isabella gargalhava olhando para a porta.
- Acho que alguém ouviu minhas ameaças. – Falei me dirigindo a ela depositando um beijo em sua testa.
- Tenho certeza. – Ela sorriu e segurou minha mão.
- Como você está? – Foi ela quem perguntou, enquanto observava cada milímetro do seu rosto.
- Acho que tem sido um dos dias mais felizes da minha vida. – Respondi sincero.
- Por quê? Ganhou na lottoland? – Sorriu fofa.
- Você voltou! – Eu sorri acompanhando seu sorriso tímido.
- A Clara me contou tudo que você fez e eu quero te agradecer.
- Você não precisa agradecer Bella, era o mínimo, você me deu o melhor presente de todos, eu não sei nem como te agradecer. Eu sei que não posso pedir isso, mas não queria me afastar da Alice, será que você... – Tentei falar, mas ela me interrompeu.
- Adam. – Ela disse tímida. – Acho que começamos meio tortos, mas não precisa ser torto o tempo todo, nós temos a Alice, e... Eu tenho muita mágoa de tudo que você fez, mas também tenho uma gratidão eterna pela forma que agiu depois do meu acidente.
- Bella, eu fui um idiota sabe, enquanto estive com a Alice fiquei pensando nessas coisas, acho que se um desgraçado fizesse com ela a metade do que eu fiz com você. Eu matava ele, sem piedade alguma.
- Ainda bem que meu pai não é tão presente então, não queria que minha filha tivesse perdido a oportunidade de ter um pai que até sabe trocar fraldas. – Riu divertida, embora demonstrasse um pouco de tristeza ao falar do pai.
- Eles tiveram aqui algumas vezes, vou avisar que você está bem. – Falei segurando sua mão.
- Senta aqui. – Ela deu espaço para que eu sentasse em sua cama. – Não quero que avise ainda, na verdade não sei se eu quero ver eles.
- Olha, são teus pais, mas eu entendo e acho que você sabe qual melhor decisão tomar.
- Obrigado. – Falou apertando minha mão. – Se eu bem conheço eles, minha mãe quis desligar os aparelhos, ficaram pensando no meu funeral e no que fariam com a Alice. – Disse e eu fugi meu olhar dos seus, mesmo querendo que não fosse verdade, era praticamente isso que havia acontecido. – Seu olhar me diz que eu to certa. – Falou calma.
- Em partes sim, mas não quero que você se preocupe com isso agora. O medico explicou que durante essa semana vai passar por vários exames e fisioterapi, e se teu quadro seguir bem, logo poderá ir pra casa.
- A enfermeira disse que você pediu para fazer fisioterapia enquanto eu estava desacordada.
- Sim, eu li que era importante para recuperação e pra não atrofiar os músculos.
- Pelo jeito foi bem importante. Obrigado.
- Bella por favor, para de agradecer. – Falei um pouco tímido.
- Não Adam, não paro, porque esse é meu sentimento por você hoje.
- Obrigado pequena. – Falei beijando sua testa, sentindo alivio em saber que seu sentimento é de gratidão, mas pedindo para Deus, para que o sentimento de amor voltasse a ser o que ela sentia por mim, pois hoje, mesmo sendo talvez um pouco sem lógica, era o que eu estava sentindo por aquela mulher em minha frente.
- E minhas coisas, o meu apartamento? O que eu aluguei, você sabe de algo?
- Eu cancelei o contrato que você tinha com o apartamento que morava, nós não sabíamos quanto tempo levaria para você voltar, e o outro está com suas coisas, não tem ninguém morando nele, mas os médicos falaram que seria bom você não se mudar daqui, por um tempo.
- Uhum, eu vou alugar ele de novo, pra alugar algo aqui, eu acho. Não sei, to um pouco confusa. E a conta do hospital, não deve estar saindo barata, eu preciso ver o que fazer. Acho melhor vender... – Ela começou a falar sem parar, sobre dinheiro, ou melhor, falta dele, ali percebi que mesmo me perdoando e se sentindo grata, ela não aceitaria muitas coisas minhas.
- Hey, não pensa nisso agora. – Pedi.
- Mas eu preciso pensar Adam, não quero ficar usando você ou tirando coisas de ti, a única coisa que eu sempre quis foi que você fosse presente como pai e não faltasse amor para Alice.
- E é isso que eu faço, eu quero te ver bem Bella, só isso.
- Obri... – Ela ia falando, então a interrompi selando nossos lábios, inesperadamente.
- Desculpa, falei quando interrompemos o beijos.
- Por que você me pediu desculpas?
- Porque não devíamos, você esta se recuperando, e... – Comecei a justificar, então fui surpreendido por outro beijo, partindo dela.
- Você ainda tem medo? – Ela perguntou assim que terminamos de nos beijar, percebendo talvez meu olhar vago.
- Não sei se o nome disso seria medo, mas seja o que for, eu quero superar e ser feliz de verdade. – Falei a abraçando. Isabella tinha algo dentro de si que eu não conseguia explicar, como se uma luz a tornasse pura, uma luz que talvez conseguisse dar fim na escuridão que eu me encontrava desde aquele dia .   

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