Capítulo IV

2.9K 194 6
                                    

POV Adam

Se eu tivesse dúvidas da merda que havia feito na última semana, o olhar que Scott me lançou ao entrar em meu apartamento acabaram com elas. Nunca havia visto ele com tanta raiva no olhar, justo ele que sabia de todos os meus podres e nunca demonstrou me julgar, hoje me encarava com desprezo.
- O que você tem na cabeça? - Scott disse se aproximando.
- Depende, cabelos... Cérebro? – Debochei enquanto terminava de tomar mais uma garrafa do meu velho amigo Dalmore.
- O que você falou pra ela? – Perguntou tirando a garrafa de minhas mãos.
- Ela quem? – Fingi não entender.
- Você sabe quem, o que você falou pra mãe do seu filho, seu idiota! – Falou com raiva.
- Eu não tenho filho, nem pretendo ter, então não posso ter falado com alguém que não existe.
- Eu não acredito que estou ouvindo isso de ti.
- Pois acredite, porque eu não vou ser pai e não quero nada com aquela mulher, se você quer brincar de casinha e é feliz assim ok, eu aceito e respeito, espero que você aceite minha decisão também.
- Ela te amava Adam, amava, sabe o que é isso?
- Amor? Não, eu não sei. Por que? Vai me explicar agora?
- Você não sabe, porque não se permite e não permite que outra pessoa se aproxime e te faça sentir amado.
- Talvez seja melhor assim, de que adianta ficar com essas viagens de "eu te amo" pra cá e pra lá, se a gente sabe que nada dura pra sempre? Sou muito mais feliz com a vida que eu levo e nenhuma vadia vai me fazer mudar de idéia.
- Ela não é uma vadia, ela sempre gostou de ti, claro que te via como um ídolo também e você não deveria brincar com sentimentos dela, a gente sempre disse que jamais brincaria com sentimentos de fã e você vai e faz uma merda dessas?
- Custa você enxergar que ela quer meu dinheiro, quer ter a vida ganha e sair de onde ela mora?
- Se ela fosse tão doida por dinheiro, ela viveria com os pais e não naquele apartamento batalhando para pagar as coisas, talvez você devesse conhecê-la mais antes de julgar. – Falou demonstrando que não aceitaria minhas desculpas, pelo jeito ela havia conquistado a amizade do meu melhor amigo e ele punido pelo seu lado.
- Talvez ela devesse conhecer um pouco mais as pessoas antes de sair dando por ai.
- Quer saber? Eu desisto de você. DESISTO! – Falou irritado.
- Agora vai deixar uma garota como aquela detonar com nossa amizade? Ok, vai lá, seja feliz.
- Você não entende né, eu to preocupado com você Adam, parece que piora a cada dia, não se permite ser feliz de verdade e acha que ficar transando com várias é ser feliz, isso não é felicidade!
- Quer que eu case com alguém que não gosto, porque pra ti sinônimo de felicidade é ter uma perereca esperando em casa?
- Não, mas quero que você pare de fugir e não deixe aquela criança ser criada sem pai, você tinha seu avô quando todas as merdas aconteceram, e ele, tem quem?
- Ele tem ela ué, e tem outra, ela disse que o filho não tem pai, então não deve saber se é meu mesmo.
- Eu tenho certeza que ela sabe.
- Da pra parar de defender aquela lá? – Me irritei.
- Como se meu melhor amigo só faz merda?
Eu fiquei quieto, sabia que ele estava falando a verdade, mas não queria me prender a ninguém.
- Não quero me prender, você sabe, e nada me tira da cabeça que foi proposital.
- Talvez se vocês se conhecerem melhor, você note que não.
- Não vou correr atrás dela.
- Tudo bem, só não torna as coisas mais difíceis do que já estão.
- Não vou dificultar nada, mas não vou ficar puxando saco daquela lá, eu quero distância dela e se você conseguir falar com ela, diz que eu pago o aborto se ela quiser, ou dou alguma grana pra ajudar se ela tiver a criança, mas pensão, só com DNA.
- Tenho certeza que ela não vai querer e espero que você não fale essas coisas amanhã. – Falou se referindo ao seu casamento.
- Amanhã será um dia de comemoração, vou levar duas pessoas comigo no casamento, uma loira... E a outra estou em dúvida ainda. – Falei rindo.
- Por que eu ainda tento falar com você? Sinceramente não sei. – Disse me olhando com um ar de pena.
- Odeio quando você me olha assim.
- Para de afastar as coisas boas de ti. – Sentou ao meu lado.
- Ela não é algo bom, eu não vou afastar coisas boas, mas não quero ela. Simples.
- Ok, você quem sabe. – Falou se levantando.
- Onde você vai?
- Me preparar para um casamento. Espero que você não esqueça.
- Eu, eu nunca esqueceria. – Menti.
- Ás 20 horas você deve estar na igreja, e chega disso. – Tirou novamente a garrafa da minha mão e me arrastou até um chuveiro, saindo logo em seguida.

Não me sentia preparado pra ver Isabella novamente, tampouco para enfrentar o olhar de ódio da Clara e raiva do Scott . Mas ele era meu irmão e eu deveria ir nesse casamento mesmo achando uma burrada total. Liguei pra Emma e perguntei se ela queria ir comigo, de todas as meninas que eu fico, essa é a que mantenho algo a mais tempo, nada de compromisso ou namoro, apenas diversão e sexo. Ela não me faz perguntas, não vem até minha casa e não liga ou cobra que eu passe a noite junto dela. Se contenta com ganhar e receber prazer. Na hora a menina topou ir e combinamos que a pegaria ás 19h30.
Segui o combinado e fui até o local da cerimônia e festa. Já estava lotado de conhecidos nossos, e alguns amigos e familiares de Clara. Parece que os pais perdoaram o que a menina havia feito, quem não perdoaria, era um belo golpe. Cheguei e logo avistei Isabella, ela estava com um vestido um pouco solto na região da barriga, muito bonito e delicado. Seu sorriso se desfez assim que seus olhos cruzaram com os meus. Fomos chamados para sair do local e em seguida formamos uma pequena fila com padrinhos e madrinhas, ela era meu par, e por mais que quisesse sair dali, segui firme, não queria afastar ainda mais meu melhor amigo.

Parei olhando-a de cima abaixo, ela não demonstrava nada, não falava, apenas encarava o chão.

- Você está bem? – Perguntei, mas ela ignorou.
- Olha, eu não queria estar aqui, só estou pelo Scott , não quero que ele fique brabo comigo então não pense que eu quero estar no teu lado, ou arrependido, porque não estou. – Falei convincente, negando mentalmente.
Ela levantou seu olhar encontrando o meu, seus olhos continham lágrimas e aquilo me fez despedaçar por dentro, como instinto tentei abraçá-la, mas ela negou se afastando. – É recíproco. – Disse por fim.
- O que? Perguntei sem entender, não lembrava o que havia dito, não conseguia lembrar ou me concentrar em nada além da lágrima solitária que caia de um de seus olhos.
- O que você falou, não pense que eu quero estar perto de você, porque eu não quero e espero que depois desse dia não precise mais te ver. – Falou me deixando sem reação, fiquei alguns segundos encarando ela e tentando pensar em alguma resposta, mas a música de entrada nos despertou chamando atenção para a cerimônia.

Entramos e ri observando Scott andar nervoso de um lado ao outro do pequeno altar, ouvimos uma música tomar conta do ambiente, era linda e Clara entrava no local acompanha do pai. Olhei para meu amigo que chorava e dizia repetidas vezes para a noiva: Você está linda.
E ela realmente estava linda. A cerimônia foi emocionante, várias vezes a menina ao meu lado deixou cair algumas lágrimas, mas toda vez que eu tentava me aproximar, nem que fosse oferecendo um lenço, ela se afastava e negava qualquer aproximação. Me perguntei o que ela tinha, afinal não estava acostumado com aquilo, dificilmente uma mulher me falava não. Então me liguei que ela já tinha o que queria e que não havia sentimentos dentro dela, eu era apenas um "cofre".

Depois da cerimônia fomos para a festa, me sentei junto dos moleques, eles acabaram saindo para dançar e eu preferi ficar bebendo. No outro lado do lugar, pude observar Isabella me encarando. Estava em uma mesa rodeada de meninas lindas, provavelmente amiga das duas. Fui até a mesa em que elas estavam e chamei uma das meninas para dançar. Isabella me olhou quase em suplica para eu não fazer aquilo, mas como sempre sem pensar muito, chamei a menina e fomos até a pista de dança.
Ela praticamente se atirava pra cima, eu segurava com força sua cintura e encarava e menina sentada perto de nós.

- Você conhece a noiva? – Perguntei cochichando em seu ouvido.
- Sim, estudávamos juntas.
- Hum, aquela lá de azul, é a melhor amiga dela né? – Tentei puxar assunto pra saber mais sobre Isabella, vindo de uma desconhecida que não conhecia nossa história.
- É sim, nós não nos damos muito bem, mas temos amigas em comum.
- Hum, por que não? – Perguntei curioso.
- Digamos que o único namoradinho que ela teve foi parar na minha cama, enquanto ela se recusava a fazer o que eu fiz com ele.
- Oh, safada você. – Ri debochado e apertei seu bumbum.
- Tenho certeza que não sou a única. – Ela correspondeu beijando meu pescoço.
- Faz tempo isso? – Perguntei curioso.
- O que?
- Os cifres dela? Ela parece a mais emburrada da festa.
- Ah, faz uns 3 anos.
- É faz tempinho.
- Você é amigo do noivo? – Perguntou me fazendo duvidar sobre seu conhecimento.
- Um pouco, por quê?
- Dizem que ele toca em uma banda, você conhece?
- Conheço, mas não é muito boa, você não perde nada por não conhecer. – Sorri aliviado em saber que ela estava preocupado com meu corpo, não com a fama.
- Hum, e tem uma coisa que eu não conheço, mas acho que deveria...
- O que?
- Isso! – Ela respondeu me beijando. Correspondi seu beijo, mas não consegui deixar de encarar os olhos cheios de lágrimas que me observavam.
- Melhor não. Vim com uma amiga... Ela pode não gostar. – Falei deixando a garota sozinha em meio a pista de dança e saindo de dentro do lugar indo até o jardim. Peguei um cigarro de maconha e acendi sentando em um banco próximo. Estava frio então poucas pessoas estavam naquela região, a festa estava animada e o barulho da musica era ouvido por uma grande distância, mas foi outro barulho que me chamou atenção.

Por Isabella

- Amiga, eu vou com você. – Clara batia o pé enquanto eu tentava me desvencilhar dela.
- Eu to bem, eu juro. – Repeti pela décima vez.
- Você estava chorando! – Ela falou um pouco mais alto.
- É a gravidez amiga, eu fiquei melosa, você sabe. – Menti.
- Eu sei que não é a gravidez Bella, assim como sei que o motivo de você querer ir embora não é enjôo nenhum! Eu vou matar a Hilary, não devia ter chamado ela, mas minha mãe insistiu tanto que devia convidar os parentes...
- Ele é solteiro e ela também, aliás, ela nem deve saber do que rolou.
- Ele é um idiota, mas é amigo do meu marido né... – Falou com um sorriso bobo no rosto ao terminar a frase.
- Teu marido tem um amigo idiota, e você tem uma prima filha da mãe, e uma amiga enjoada! – Sorri, secando uma lágrima que insistia em cair.
- Ah meu bebe, mas você tem uma amiga que te ama viu, e vocês não estão sozinhos. Eu vou pedir pra alguém te levar.
- Não precisa, eu pego um táxi.
- Você é muito teimosa! – Riu brava.
- Eu sei. – Sorri. – Clara? Por que ta doendo tanto?
- Porque você ama aquele idiota e ele nunca te deu um motivo pra sorrir.
- Ele me deu sim, por causa dele eu nunca mais vou ficar sozinha. – Sorri colocando a mão em minha barriga.
- E meu filho vai ter um amigo pra jogar bola, ou uma menininha pra paquerar. – Ela riu me abraçando.
Ouvimos um barulho e me deparei com o par de olhos verdes nos encarando.
- O que você quer Adam? – Clara perguntou.
- É perigoso sair sozinha até pra quem anda de taxi, sabia? – Adam respondeu me encarando.
- Então leva ela pra casa. – Minha amiga respondeu sentindo meu olhar de reprovação.
- Não precisa. Eu vou de taxi, você vai curtir seu marido e você vai curtir qualquer uma que esteja ali. – Respondi apontando para eles.
- Quem eu quero não esta na festa. – Falou se sentindo superior.
- Não sei quem você quer, e também não quero saber. – Falei com raiva.
- Mesmo? Então porque você estava chorando?
- Não te interessa. – Respondi com raiva, percebendo que Clara havia nos deixados sozinhos.
- Para de ser teimosa, eu já estou indo embora, te levo sem problemas.
- A diferença é que você está indo para sua casa, e eu vou pra casa da Clara, que fica bem longe da tua, e de lá pra minha, que fica a mais de 100km daqui.
- Não estou com pressa.
- O que você quer Brown?
- Te levar pra casa, não posso?
- Obvio que não.
- Por quê?
- Porque eu quero distância de você.
- Por quê? – Perguntou ainda mais debochado.
- Porque eu te odeio. – Respondi com raiva.
- Aham... Sabia que eu ouvi toda tua conversa com a Clara? Na verdade ouvi você chorando, e quando ia chegar perto a Clara veio e roubou minha frente...
- Não, não sabia, mas saber disso só me faz ter a certeza que você é um metido.
- Uhum, e o que mais? – Ele me abraçou de lado, caminhando como se nada estivesse acontecendo.
- E você é um idiota, e se ta achando que eu vou... – Segui falando então ele me pegou no colo, e seguiu caminhando. – O que você está fazendo? – Gritei tentando descer de seu colo.
- Você está lenta... E quero chegar logo dentro do carro, porque está frio.
- Sonha que eu vou andar com um cara que esta bêbado e que eu odeio. O que você quer Adam, me matar?
- Claro, sou um psicopata.
- Não duvido. – Falei com o pouco de medo.
- Hey, eu sou um idiota, mas não sou um assassino.
- Você me deu dinheiro pra tirar o bebe que ta aqui dentro, será mesmo que não é um assassino? – Perguntei tentando segurar as lágrimas.
- Eu tava chapado. – Tentou justificar.
- Nada justifica. – Falei tentando me esquivar logo que o mesmo colocou o cinto de segurança em mim. Então ele fez a volta, entrou e deu partida no carro. Um Aston Martin.
- Eu falei que não queria, você devia pegar aquela menina que entrou contigo, a tal de Emma né. Ou a Hilary, não uma grávida que te odeia!
- A Emma conhece boa parte da festa, e a outra, que eu não sabia o nome e me atacou... Não faz muito meu tipo.
- Você é escroto, nojento. – Falei com raiva.
- Eu sei, você está certa.
- Estou? – Perguntei confusa.
- Uhum, e esses são só dois dos meus defeitos, acho que tem alguns piores.
- Não quero conhecer os piores, pode me deixar aqui. – Falei em frente uma rua movimentada e conhecida por ser um ponto de prostituição.
- Algo me leva crer que você só transou com um cara na vida, e foram poucas vezes... Não vou te deixar aqui.
- Mas esse cara é um idiota, e com certeza, se alguém me quiser aqui, eu sei falar não.
- Hum.
- Adam, eu estou falando com você, para a porra desse caro! – Falei quase gritando.
- Não.
- Você não cansa né? Seu idiota. – Eu tirei o cinto e tentei sem sucesso abrir a porta, já havíamos passado a rua movimentada e estávamos próximos a um matagal.
- Quer se matar?
- Quero. Ta feliz agora?
- Por que eu estaria?
- Ué, dois problemas seus acabam. A golpista e a criança. – Falei com os olhos cheios d'água.
- Ok, você venceu. – Ele disse com raiva socando a direção e em seguida parou o carro em frente uma rua escura, que me causou um arrepio de medo. Abri a porta encarando a estrada, olhei pra ele que me encarava curioso. Fechei a porta com medo e comecei a chorar compulsoriamente.
- Hey, calma, calma. – Disse tirando o cinto de segurança e me puxando paro seu colo. Eu o abracei chorando e fiquei assim por algum tempo, até que o encarei nos olhos e vi seus lábios se aproximarem dos meus. Fechei os olhos a espera do seu toque, queria conseguir ser mais forte, resistir a ele, mas estava impossível naquele momento.
- Eu não posso me apaixonar por você. – Ele disse afastando seu rosto do meu. – Desculpa, mas eu não sei ser legal, eu não seria um bom pai, e pro teu bem e o bem dessa criança, melhor nós nunca mais nos vermos. – Concluiu me colocando novamente no banco do carona e dando partida em seguida. 

Problem ChildOnde histórias criam vida. Descubra agora