Penny Stone
Encarei a mulher à minha frente, sem acreditar.
— Como assim, tia? — perguntei estupefata.
— É uma longa história, é melhor você se sentar.
Ela indicou a cadeira em frente à sua escrivaninha, onde me sentei mais por educação do que precisão.
— O que você sabe sobre sua mãe? — ela perguntou.
— Ela morreu, um pouco depois que nasci.
— Isso é tudo?
Assenti, séria.
— Pelo menos Vladimir não ficou inventando mentiras a respeito disso...
— Ela morreu mesmo...
— Sim, ela morreu — Jillian confirmou. — Quer dizer, a mataram.
Encarei-a.
— Kayla era a mais poderosa das Origins — Jill falou, me olhando. — Seu poder era infinito e surpreendente.
— Então por que ela morreu? Se era poderosa, não deveria ter deixado a matarem tão fácil.
— Kayla aceitou morrer por amor a Vladimir — Jill afastou seus olhos de mim, triste. — Ambos foram condenados, mas ela sabia que ele não tinha os mesmos poderes que ela, então pediu ajuda a uma pessoa, que salvou Vlad. Já ela sofreu as piores barbáries que você possa imaginar.
— Ele nunca... — parei, percebendo a verdade.
Vladimir nunca me contou nada. Ele nunca esteve presente para contar nada, e nós nunca tivemos tempo para perguntar muita coisa.
E então percebi uma coisa, que me passou antes.
— Se Kayla é minha mãe, e morreu por amor a...
— Vladimir é seu pai, Penny.
Recuei, levantando da cadeira abruptamente.
Não, não podia ser. Quer dizer então que meu pai era um vampiro. Eu era — por regra — uma vampira.
— Ela... — fiquei com medo de perguntar, mas respirei fundo e falei. — Minha mãe também era vampira?
— Não.
Suspiro.
— Ela era uma das bruxas do primeiro clã da nossa raça.
A coisa não poderia ficar pior, não é?
— O que faz de você, meia bruxa, meia vampira.
Eu e minha boca grande.
— Mas eu não me alimento de sangue — reclamei. — Eu saio à luz do dia, vivo normalmente.
— Graças à magia que herdou da sua mãe, junto com o remédio que Vlad fez para você e sua irmã.
— Que remédio?
— As injeções. Elas tem componentes ativos retirados do sangue dele, que agem em seu organismo como um alimento, para suprir a necessidade de sangue diária.
— Como você sabe tudo isso?
— Fui eu que projetei as injeções, e passei a receita para ele — Jill falou.
Olhei para ela, as mãos fechadas em punhos sobre minha coxa.
— Você sabia da minha existência? Todo esse tempo você sabia?
— Por que você me parece tão zangada, Penny?
— Você podia ter nos dado uma vida normal, diferente dessa louca que levamos desde que...
— Penny, a vida dos vampiros e das bruxas nunca será normal. E a sua e de sua irmã serão ainda mais anormal ainda. Para seres das trevas e da noite não há descanso, não há paz.
— Eu não escolhi o que sou! Não posso viver uma anormalidade que não escolhi — falei.
— Não pode renegar sua própria espécie — Jill me olhou com dureza, como se eu fosse uma menina mimada de cinco anos, a chateando. — Kayla salvou você e sua irmã de um futuro horrível. Ambas seriam mantidas como cobaias para testes, mas ela e Vlad fizeram o melhor para impedir isso.
— Vladimir deixou que minha irmã morresse, Jillian. Ele deixou que Lisa fosse assassinada por vampiros sanguinários.
— Esse é o destino das bruxas e dos vampiros, minha querida. Nossas raças foram criadas para se odiarem, fazendo com que vivam em guerra constante. Venha comigo, criança. Quero te mostrar uma coisa.
Jill me conduziu para fora do escritório, em direção a um corredor lateral revestido por mármore branco, com luzes brilhantes no teto. Ela empurrou uma porta, e me puxou para dentro.
Era uma sala circular, revestida com dezenas de pedras até o teto, onde luz3s azuis e verdes davam uma iluminação sinistra ao local.
Ao meio, uma espécie de cama, com cobertor grosso dourado, e uma mulher deitada nele.
Ela era como Lisa, os cabelos castanhos, pele bronzeada, rosto altivo. Suas mãos repousavam sobre seu ventre, e eu não daria trinta anos para ela.
— É ela, não é?
Meu sussurro foi tão estridente, que me assustou.
— Sim, é sua mãe, Penny.
— Quanto tempo...?
— Dezoito anos.
Olhei para a mulher por um longo tempo, reconhecendo em seus traços um pouco de mim.
— Jill?
— Humm?
— Se vampiros e bruxas são inimigos naturais, e nasceram para se odiar... Então, o que eu serei? Se sou a mistura de ambos?
Jill me encarou por alguns segundos.
— Você será apenas uma alma indomável nessa guerra de muitos lados, minha sobrinha querida...
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Alma Indomável
VampireCapa feita pela talentosíssima e excelente profissional @daniihs Elisabeth Stone é uma assassina mercenária de aluguel que trabalha para uma Sociedade nomeada Sociedade Sombria. Percy Potter é um policial diferente, que trabalha em um departamento...