Capítulo Onze

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       Vladimir Blueblood

    Melinda me encarava duramente, como se ela nunca tivesse cometido nada em sua linda e gloriosa existência vampírica.
— Ela já se foi.
      Albrey entrou na sala, o rosto impassível diante de todos nós ali reunidos.
— Não é possível. Nenhum desses guardas foram capazes de conter uma garota como...
— Ela não era apenas uma garota, Melinda — falei com um suspiro. — Penny, além de ser uma híbrida é altamente treinada. Eu mesmo fiz questão de conhecer o homem que a treinou. Ele era um dos meus melhores, e a tornou uma das suas melhores.
— Ou seja, você criou uma máquina mortífera bem debaixo dos nossos narizes à espera de um momento para usar ela contra nós, seu imbecil!
       Me levantei da cadeira, lívido de raiva.
— Eu nunca quis criar nada, se é isso que você quer dizer, Melinda — bradei. — O destino apenas foi cruel demais conosco...
— Não haja como se você se preocupasse com o bem de todos aqui, seu idiota! A culpa é toda e restritamente sua, desde o começo.
         Bufei com escárnio.
— Oh, claro. Você nunca cometeu nenhum erro em sua vida, não é?
        Melinda sugou o ar rapidamente, como se eu tivesse lhe dado um tapa no rosto. Seus olhos fulguraram para Albrey, e se desviaram antes que qualquer outro pudesse perceber.
— Eu quero essa garota morta, entendeu? — ela me olhou furiosa. — Trate de limpar a bagunça que você mesmo criou, antes que os Imperius sejam a minha única saída.
— Não se atreva a denunciar Penny para...
— Então dê logo seu jeito nisso, antes que ela comece a matar os nossos.
        Ela me olhou, e tive certeza de que ela colocaria mais alguém para acabar com Penny, caso eu fosse fraco demais para isso.
         E eu seria. Penny era minha filha. Minha filha mais nova, e agora a única que me restava. Como eu poderia matá-la? Como eu poderia olhar no espelho sabendo que descumpri minha promessa?
— Eu vou dar um jeito nisso tudo — falei.
— Eu espero que sim.
       Acenei para os demais, e me retirei da sala, um plano tomando forma lentamente em minha mente.
        Mal havia chegado ao final do corredor, quando Albrey Potter me alcançou.
— Será que podemos conversar um pouco?
— Claro.
— Vamos para o meu escritório, é mais reservado para isso.
       Concordei, com um aceno. Ele seguiu por um corredor lateral cheio de pinturas antigas e retratando muitos rostos sofridos e decadentes.
— Século nove, aproximadamente — ele explicou enquanto seguia na frente. — Melinda gosta de pinturas antigas, e alguns de nossos amigos tem excelentes lembranças.
— Eu não sei se chamaria isso aqui de excelente...
       Em um quadro, uma mulher estava com o pescoço sangrando enquanto seu rosto transparecia o terror de ser estrangulada.
— Nem eu, mas Melinda tem uns gostos exóticos.  Difícil de explicar...
       Assenti, esperando ser minha melhor resposta para aquele comentário.
— Aqui.
      Albrey empurrou uma porta, e entrei. O escritório era bem simples, com janelas escuras e cortinas vedativas, uma escrivaninha e várias cadeiras.
— Sente-se, por favor.
       O melhor em uma conversa entre vampiros é que nunca haverá aquela enrolação, já que não tomamos nenhuma bebida além do sangue. Então nada de cafezinhos, suco ou água.
— Eu sei que você não pretende matar Penny.
      Uau, ele era direto. Isso já contava para alguma coisa, afinal. Inclinei-me para frente minimamente.
— E por que você acha isso?
— Ela é sua filha, você não faria isso com ela. Além do que, você já perdeu Elisabeth. Porque se arriscaria a perder Penny?
— É uma boa teoria — eu concordei. — Mas o que você tem a ver com isso?
— Quero ajudar você a encontrar ela.
       Eu ri, incapaz de me conter por completo.
— Melinda te colocou aqui não é?
— Não é nada disso — ele reparou em meu ceticismo e falou. — Eu a escolhi, Vladimir. Escolhi Penny como minha parceira. E o que menos quero nesse momento é que ela torne-se uma caçadora mortal.
— Que provas tenho disso?
— Tem minha palavra de honra, eu garanto.
       Eu ia retrucar que a palavra dele era pouco para mim, quando Sirius entrou na sala com tudo, e me encarou aturdido.
— O coração de Elisabeth voltou a bater, milorde.
— O quê????

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