Capitulo Vinte e Três

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              Percy Potter

      O sol já tinha se posto, quando decidimos ir atrás de Albrey. Se ele tivesse sobrevivido ao sol e às bruxas, eu nem achava possível.
— Me tirem daqui! Isso não é justo comigo! Alguém?!
       Os gritos de Lisa me torturaram o dia todo, mas se eu não a tivesse acorrentado, a uma hora dessas ela já estaria junto com aquelas bruxas sórdidas.
— Senhor...
        O guarda do portão falou pelo fone que eu sempre carregava no ouvido.
— Sim? — falei.
— Tem dois bruxos, trazendo o senhor Albrey e a garota ruiva com eles. Eles estão pedindo passagem.
— Deixe eles entrarem.
       Sai do meu quarto, e caminhando rapidamente bati à porta do escritório de Melinda.
— Estão aí — falei ao entrar, encarando-a. — Vou buscar Lisa, desça e receba os visitantes, por favor.
        Melinda assentiu, e eu saí, lançando um olhar instigador a Vladimir sentado em frente à mesa dela. Ele me encarou sem emoção.
        Fechei a porta e fui ao final do corredor, onde Lisa ainda pedia socorro.
       O cheiro do sangue dela encheu meu nariz assim que entrei, agindo como um tapa em meu rosto.
— Lisa!
       Ela estava toda ensanguentada, os pulsos cortados onde ela tentou forçar contra os grilhões pesados. Seu rosto estava pavoroso, os olhos enormes.
— Santo Céus, Lisa!
        Desatei as correntes, e Elisabeth deixou os braços caírem ao lado do seu corpo, sem reação.
         Fui ao banheiro e enchi uma bacia com água, peguei uma toalha e voltei ao quarto.
— Não me... Não me toque, seu idiota — ela rosnou com raiva. — Você me acorrentou como se faz com um animal!
— Se eu não fizesse isso, você iria arriscar sua vida por nada — bufei.
       Passei a toalha molhada em seu rosto, limpando o sangue dali.
— Não é mais fácil você lamber tudo isso? — a voz dela estava carregada de sarcasmo.
        Ergui meus olhos para ela, semicerrando-os. Lisa estava me provocando, provavelmente porque estava com raiva.
       Mas é sempre um erro provocar um vampiro.
        Puxei o pulso dela em minha direção, ignorando o arquejo involuntário que ela deixou soltar. Ergui-o até quase tocar meus lábios em sua pele macia.
          Essa era minha chance, não só de provar à ela o que eu era capaz, mas como também de provar a mim mesmo o que eu não era capaz: machucá-la.
       Lentamente deslizei minha língua ao longo de sua pele, enquanto ela me encarava enojada. É claro, faltava à ela o estimulo...
— O que está...?
       Beijei-lhe antes que ela pudesse pensar sobre o assunto, enroscando minhas mãos em seu cabelo de seda, puxando-a para mim.
       Minhas presas saltaram quase por vontade própria, e desviei meu beijo de sua boca para o pescoço, procurando certeiro sua artéria pulsando incontroladamente.
      Afundei minhas presas lentamente em sua pele, enquanto ela arqueava o corpo contra mim. Logo, suas mãos que estavam me contendo, estavam agora me puxando para si.
        Engoli seu sangue em goles generosos, a sede lutando contra o amor. Era tão doce, mas tanto quanto seu sorriso?
       Eu posso parar, pensei, eu consigo. Sei que consigo!
       Lentamente, destravei minha mandíbula e afastei minha boca, encarando os pontos que meus dentes deixaram em sua pele.
— Não pare — ela sussurrou em meu ouvido.
— Você não disse isso minutos atrás, amor — zombei sardônico.
       O efeito das endorfinas iria atrapalhar o organismo dela por uns bons minutos. Deitei ao seu lado, aproveitando enquanto ela não podia me matar.
— O que você fez comigo?
— Endorfinas. Toda mordida de vampiro tem. É uma técnica — dei de ombros.
— Vocês são todos criaturas do inferno mesmo — ela suspirou. — Espere, eu também sou uma dessas criaturas... Ai, eu não estou conseguindo pensar...
— Você está mesmo mais incoerente do que o normal, amor — eu ri, divertindo-me.
       Lisa fez uma careta.
— Elisabeth?
— Hummm?
— Eu te amo, sua bruxa.
— Vai se catar, sanguessuga infernal — ela riu baixo.
       Ri com ela, e continuamos deitados por mais algum tempo.
— Sente-se melhor?
— Considerando que você me sugou — ela se sentou ereta. — Estou viva.
— Está reclamando, então está bem — concluí.
      Ela me deu um soco no ombro, que eu não soube dizer se era raiva, amor ou vingança. Mas que doeu, doeu.
— Vamos, sua irmã está de volta — estendi a mão.
       Lisa me encarou.
— Minha irmã estava aqui esse tempo todo e você só me fala isso agora?
—Estive ocupado, te ensinando bons modos!
— Ah, vá pro inferno!
       E saiu do quarto pisando tão forte que me surpreendeu não ter rachado o piso.
      Mulheres, sacudi a cabeça...

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