Bom, alguns meses se passaram após minha primeira reunião. Com tudo que aconteceu nos últimos meses, tive de esconder muitas coisas de Samuel, o que, infelizmente, abalou muito nós dois e nosso relacionamento que, finalmente, estava indo tão bem.
Minhas férias haviam chegado assim como o Natal e meu pai resolveu voltar a Londres para mais treinos e aulas sobre nossa história, além de algumas teóricas sobre a viagem no tempo, antes das comemorações de fim de ano. Dessa vez minha mãe iria conosco também, ela era uma das poucas humanas que sabia de nós e um pouco sobre as coisas dentro da central.
– Vamos minha Sternchen, será bom para você distrair um pouco. – minha mãe diz se sentando em minha cama e passando a mão em meus cabelos. – Você tem que parar de pensar um pouco no Samuel, ele deve ter seus motivos por ter se afastado e terminado com você. Vocês sempre foram muito amigos e logo vão voltar a conversar. – ela diz calmamente e com um sorriso no rosto.
– Eu sei mama, porém incomoda. – digo com uma certa chateação na voz. – É estranho não conversar com ele.
– Filha, assim como você tem seus motivos para fazer essas viagens malucas, ele tem os motivos dele para se afastar... Então se acalme a termine sua mala. – meu pai aparece e encosta no batente dela, cruzando os braços. Ele diz tudo calmamente e com um sorriso no rosto, mas firmeza na voz.
– Sim, papa. Sei de seus motivos e, parte de mim entende... – olho minha mãe e seguro sua mão.
– Alias, daqui a alguns dias você faz seus 18 anos. Vai ser um dia especial querida. Cheio de surpresas boas. – ele sorri e passa a mão em seus cabelos, deixando-os para trás.
– Dezoito anos, estou ficando velha. – rio e meus pais me acompanham.
– Você falando desse jeito faz com que eu me sinta velha. – minha mãe diz se levantando e meu pai se aproxima dela, a abraçando por trás.
– Você continua linda, como a menina que conheci a doze anos atrás e com quem quis me casar. – ele diz com um largo sorriso no rosto, ela o olha corada e sorri.
– Vamos, temos que terminar as malas. – eles saem me deixando sozinha no quarto novamente. Pego meu celular e vejo se havia alguma mensagem, mas não.
“...Não podemos mais ficar juntos. Me desculpe e não me pergunte o por que, pois não serei capaz de responder agora. Nossa amizade continua, beijos Smurffet...”. Leio pela milésima vez a mensagem de Samuel e mesmo depois de ler tantas vezes, eu até conseguia entender o motivo de sua partida, apenas não queria aceitar.
Esfrego meu rosto e me levanto da cama num pulo, “não vou ficar me importando com isso, o que tiver que ser, será”, penso enquanto coloco meu livro sobre as roupas em minha pequena mala preta. Tempos depois apareço na sala, segurava a mala e tinha uma mochila camuflada nas costas, fones no ouvido e celular em mãos. Como sempre e sabendo que estaria frio, uso meu sobretudo vermelho que comprei de Vincent e pelo que tinha tanto apresso.
– Vamos? – digo aos meus pais.
– Claro pequena, estávamos a sua espera. – meu pai se levanta com minha mãe e saímos de casa, fomos para o aeroporto e embarcamos.
Ao chegarmos ao terminal de desembarque do aeroporto de Londres, Ben nos esperava como sempre. Era inverno e era possível ver a neve caído lá fora, linda e calma. Bem usava uma calça jeans e uma camiseta branca simples, com sua tradicional jaqueta de couro preta. Ele parecia um daqueles galãs dos anos 60. Ele nos abraçou apertado, a saudade era grande e Bennet havia se tornado quase um segundo pai para mim.
– Onde está Íris? – minha mãe pergunta ao se desvencilhar do abraço com um sorriso.
– Ela ficou em casa hoje, não tem passado muito bem. – ele sorri meio tristonho.
– Entendo, estou com saudades de minha amiga... – o assunto se encerra e fomos para o carro. Deixamos a mala no hotel e minha mãe também decide ficar, diz que precisa terminar algumas coisas do trabalho. Bom, ela sempre foi uma mulher cheia de trabalhos, planilhas e tudo mais, já era normal ela ficar no hotel em praticamente todas as nossas viagens.
Eu, meu pai e Bennet fomos para a central. Depois de alguns meses que passei fora algumas coisas haviam mudado, uma ou duas pessoas novas haviam chegado e reparei em algumas que estavam ali a tempos, mas nunca havia notado.
∆
– Bom, podemos ver que você evoluiu bastante suas habilidade não é mesmo, minha jovem? – Bennet diz me olhando da ponta da mesa de reuniões. – Só esta um pouco perdida hoje, não é mesmo?
A semana havia se passado rapidamente, essa era nossa ultima reunião. Ben reparou em mim durante esses dias e viu que não estava na minha melhor forma.
– Me desculpe, – dou uma risada envergonhada – Eu tive alguns problemas pessoais nesta ultima semana.
– Entendo, mas esta tudo bem com você? Sua saúde física e mental é importante para nós. – ele sorri calmamente e se senta ao meu lado.
– Estou sim, um pouco chateada, mas bem. – sorrio e coloca um mão em meu ombro.
– Aqui somos uma família, okay? Qualquer coisa pode contar comigo, sou como um irmão de seu pai, então pode me chamar de tio se quiser... – rimos um pouco.
– Obrigada... tio Ben. – me lembro de homem-aranha e acabo rindo um pouco mais. – Que conhecidencia não é mesmo?
– Pode deixar que eu não vou morrer tão cedo! – ele diz com um largo sorriso no rosto e meu pai ri.
– Esse cara ai é imortal. Quantas aventuras nós já não tivemos... – meu pai começa a pensar nas lembranças.
– Lembra da vez que fomos pra Itália resgatar uma das nossas e acabamos fazendo o caos em um teatro lotado? – Ben ri.
– Nem me fale... Ainda devo ter penas em meu cabelo! – todos riem. Meu pai olha o relógio e se levanta com minha mãe.
– Creio que já esteja na hora irem, o vôo de vocês é daqui a quarenta minutos. Vocês ainda tem um dia muito especial para comemorar não é mesmo? – Ben se levanta comigo e me abraça. – Hoje essa moça completa 18 anos, não é mesmo? – ele se afasta um pouco e tira uma caixa do tamanho de minha mão e para em minha frente. – Sei que vocês jovens tem seus celulares hoje em dia, mas é algo útil, e acho que vai gostar. – ele abre a caixa revelando um belo relógio feito do que parecia ser bronze, devido a sua cor incrível.
– N-não sei muito bem o que dizer e muito menos como agradecer tio Ben! – o abraço apertado, meus pais observavam de longe com um sorriso. Quando me afasto, Ben segura meu braço delicadamente e coloca o relógio em meu pulso.
– Não precisa agradecer pequena, é um dia especial para você...
– Muito obrigada pela semana e por tudo que tem me ensinado Ben, espero poder voltar logo para cá... – digo enquanto o abraço, logo que o solto meus pais se despedem dele e saímos dali, quando passava pela sala dos computadores indo para a porta, meus olhos cruzam o de um garoto loiro, mais ou menos da minha idade. Já havia visto ele algumas vezes ali, mas nunca realmente reparado nele e em seus olhos, um de cada cor. Dou um meio sorriso e saio do prédio com meus pais
Estávamos pegando um carro para seguir em direção ao aeroporto de Londres e voltar para Berlin quando dois homens nos abordaram. Meu pai e minha mãe entram na minha frente, numa forma de tentarem me proteger dos homens. Os dois usavam preto: um aparentava estar na casa dos 55 anos e o outra era mais novo, parecia ser iniciante, pois mesmo seu semblante sendo sério e firme, era nítido seu nervosismo. Este esfregava de segundos em segundos suas mãos ou limpava o suor
Reparo no homem mais velho e percebo que, por baixo de seu sobretudo, na gola de sua camisa social preta, havia um colarinho clerical e, naquele momento, meu estômago se embrulha. Já sabia quem eram aqueles homens: eram “Anjos”.
Meu pai também já havia notado a real identidade dos homens e estava mais tenso que o normal, isso era visível em sua postura. Olho nos olhos do menino e depois a minha mãe. Ela estava tensa e parecia que a aparição daquele Anjo em questão não a agradava muito. Ela não era como nós e por isso temia por sua morte. Mas algo mudou totalmente esse meu ver.
– Sophia, muito obrigada por sua ajuda, a Igreja fica contente que você cumpriu sua missão com êxito – diz o homem mais velho e naquele momento, eu e meu pai trocamos olhares confusos um com o outro.
Minha mãe solta minha mão e vai para o lado do Anjo e sussurra algo para ele que eu não consigo entender muito bem. Eu seguro forte a mão de meu pai como se eu tivesse 4 anos novamente e questionasse sobre a existência de monstros em meu quarto. Mas vejo que ele também tinha a mesma reação.
– Ora, ora, ora... vejo que ela fez sua missão muito bem – o homem diz isso logo após a mulher, que eu chamava de mãe, sussurrar algo para ele – Vejo que agora, além de matar Olavo, teremos um ratinho para fazer testes e descobrir muitas coisas sobre...
– Não pense em tocar na minha filha, Isaac... – meu pai o interrompe o Anjo – Sophia, do que ele está falando? – mesmo meu pai estava se contendo, era nítido em sua voz o quão mal ele estava.
– Mama? – olho-a e vejo que sua expressão havia mudado, não era mais doce e acolhedora como antes. Mas, sim, fria e aterrorizante.
Minha cabeça girava naquele momento, tudo acontecia rápido demais e eu não entendi metade daquilo tudo. Meu primeiro encontro frente a frente com um Anjo. Descobri que minha mãe sempre nos traiu, que era um Anjo. Meu pai estava mais tenso que o normal e, pelo jeito, essa não havia sido a primeira vez que encontrou esse anjo, que ele chamou Isaac.
– Deixe minha filha em paz, ela não é igual a mim – meu pai mentia para me salvar, mas era em vão. Na mesma hora minha mãe rebateu a mentira de meu pai, sussurrando algo no ouvido de Isaac. O mesmo olha para meu pai e era evidente o ódio e o rancor que ele tinha por meu pai.
– Ah, meu caro Olavo, sua mãe não lhe ensinou que é feio mentir? – ele sorri com maldade e me encara. Começa a se aproximar de mim com passos lentos. Meu pai entra na minha frente impedindo a passagem de Isaac – Vamos com calma, meu caro amigo, não farei mal a esta adorável aberração, não ainda – sorri e meu pai o empurra.
– Se afaste de minha filha – impõem meu pai ao Anjo, que já estava tomado por ódio.
– Como ousa tocar em mim, Demônio? – a partir daí, as coisas tomam um rumo pouco desejado por mim. Os acontecimentos ocorrem muito rápido e não consigo digerir tudo na mesma hora. Apenas ouço dois tiros ecoarem pelas vielas de Londres e quase me deixa surda, devido ao fato de estar muito perto.
Ao olhar para o chão, vejo sangue escorrendo por entre meus pés e, ao olhar para frente, meu pai estava caído imóvel, dando seus últimos suspiros de vida. Eu me ajoelho ao seu lado, o abraço e começo a chorar, o Anjo se aproxima de mim, mira em minha cabeça e eu fecho meus olhos ainda chorando muito. A arma dispara e seu barulho ressoa por todas as ruas e becos próximos.
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Três Segundos
Science FictionMorgana é uma jovem que descobre que o mundo de Viajantes do Tempo existe... e que ela é uma de sua família... Após essa descoberta, diversas tragédias, acontecimentos e aventuras novas surgem em sua vida... fazendo ela conhecer lugar e pessoas nov...