Capitulo Dezenove: Weiterhin - "Outro lado"

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    – Que merda! Merda! MERDA! – soco a parede de um beco ao sair e me afastar do subterrâneo do Big Bang. Olho minha mão que esfola um pouco e ouço um barulho de passos com salto alto vindo em minha direção.
    – Estressado, meu caro genrinho? – ouço a voz feminina e irritante atrás de mim. Sophia.
    – O que você quer, vadia? Já não encheu meu saco demais não? – eu  a fito furioso, mas ela da um sorriso com escárnio.
    – Nossa, quanta grosseria para um tão fiel servo do Senhor como você... – ela caminha devagar em minha direção.
    – Senhor?! – meu olhar era cheio de ódio e frustração. – Senhor o caralho! Esse homem não se importa comigo, sendo fiel ou não... ele não dá a mínima. Não ouve minhas preces e clamores... – eu digo indignado, mas Sophia apenas ri mais e balança a cabeça negativamente, o que me deixa mais irado começando a marchar em sua direção.
    – Na na ni na não, não faria isso se eu fosse você. – ela me olha e eu paro a um passo de agarrar seu pescoço para sufocá-la. – Você não tem coragem de machucar a filhinha de Isaac, não é mesmo?
    – Filhinha do Isaac? Na verdade você quer dizer a maior vergonha dele, não é? – rebato para ela, que exita em dar um tapa em minha cara.
    – Eu pelo menos faço um serviço bem feito... – ela começa a se defender, mas eu logo a corto.
    – Pois é, meu sogrinho quem diga, porque puta que pariu... A Morgana é uma gostosinha em...
    – Calado... Você esta ridículo desse jeito... Se o Vaticano souber de suas ações, as coisas não acabaram nada bem para você. Adeus ao titulo de Anjo. – ela me da um chute frontal “fraco” e sinto o salto fazer uma pequena marca em meu peito. Eu caio sentado no chão molhado do beco e a olho, com os olhos queimando de raiva.
    – Minhas ações? E as suas Sophia... Ou  prefere que eu te chame de Marta Gauloski? – sorrio um tanto quanto psicótico e ela se abaixa, cravando as unhas longas em minha bochecha, enquanto segura meu rosto.
    – Escuta aqui, seu lixo ambulante. Se eu quisesse, á teria acabado com você, é só eu estalar os dedos e você some do mapa. – ela diz, enquanto da um curto estalo com sua mão livre.
    – E por que não se livra de mim logo? É meio obvio que me odeia. – dizia tudo tranquilamente, enquanto fitava seus olhos negros.
    – Pois sei que a inútil da minha filha ama você...
    – Não me diga que você se importa com ela? – a interrompo e faço uma cara de dó.
    – Ela ainda é minha filha, sangue do meu sangue e eu...
    – VOCÊ NÃO SE IMPORTA COM ELA! – num salto eu tiro sua mão de meu rosto e me ponho de pé, a fazendo dar alguns passos para trás. – Você não tem noção de quantas noites eu passei acordado com ela, para acalmá-la sempre que acordava gritando por você. – uma chama parecia se acender em meu peito enquanto eu dizia tais palavras, como se não fosse eu ali. – Não foi você quem ficou preocupada com ela, sempre que ela demorava em um trabalho ou numa rápida saída... Não foi você que a via sorrir lindamente, quando via alguma coisa q... – uma extensa gargalhada se faz presente, vinda de Sophia.
    – Olha só o que você esta me dizendo! – ela gargalha mais e bate palmas. – Docinho, você quase a matou, rasgou seu corpo, quase perfurou sua face. Iniciou este relacionamento para matá-la!
    – Mas ela me mostrou a verdade por trás de tudo! Me mostrou o que é o amor! – eu a empurro – Coisa que você nunca foi capaz de dar a ela... Verdadeiramente.
    – Eu estou ouvindo direito, senhor Hood? Você, ama um demônio? Um ser totalmente abominável como ela?
    – E-eu... Eu... A-amo. – gaguejo consideravelmente. Mas logo esfrego o rosto e a olho – Não! Lógico que não! Nunca amaria alguém... Alguém com ela.
    – Não é o que me parece. Se o Clero souber disso, ai que sua carreira esta acabada. Nem sei como pude ter gerado aquele demônio... – um tapa atinge o rosto de Sophia em cheio e ela leva sua mão ao lugar.
    – Não fale assim dela... Nunca mais.
    – Como ousa me bater? – ela marcha até mim e agarra meu rosto, mas eu logo me solto. – Não esqueça quem eu sou, ainda mando em você. Sou superior a você.
    – É, realmente. Uma vadia superior... – ela crava mais suas unhas em minha bochecha e com a outra mão, segura minha nuca, olhando em meus olhos.
    – Você não é um bom garoto... – nesse momento, ela puxa meu rosto para baixo e quando percebo, estou indo de encontro com seu joelho. Com o impacto, meu nariz sangra e eu dou alguns passos incertos para trás, após me soltar. – Vou lhe ensinar bons modos.
    – Me ensina na sua cama... – eu tento acertar-lhe um chute lateral, mas ela segura minha perna antes de acertá-la. “Forte como a Morgana...”, penso e reajo antes que ela desloque minha perna, dando uma cotovelada em seu rosto. Devido a distância, ela não é certeira, mas sim o suficiente para que Sophia me solte e eu me recomponha.
    – Obrigada, minha mãe já fez isso. Me ensinou que nunca devia bater em mulheres, mas assim como sua filha, você é uma grande vadia. – eu digo tirando o casaco do terno e o jogando no canto, assim como ela tira os saltos.
    Partimos um para cima do outro, por ter um corpo menor, Sophia era mais rápida, porém meus golpes a machucavam mais. Ao se aproximar o suficiente, ela começa a me dar uma seqüência de três chutes em alturas diferentes, mas o ultimo, que devia acertar meu nervo do pescoço, eu seguro e giro sua perna, a fazendo cair. Antes de suas costas tocarem o chão, eu a seguro pela gola da camiseta.
    – Você é rápida, mas eu sou mais. Acabe comigo, que eu acabo com você – jogo seu corpo com tudo no chão e ela bate a cabeça fortemente, ela apaga. Eu pego meu casaco e o jogo no ombro, enquanto caminho e uma pequena garoa começa a cair pelas ruas de Londres. Entro em um bar e sigo para o banheiro, mas antes sou parado pelo barman.
    – Tudo bem, cara? – ele me olha um pouco preocupado, enquanto enxuga um copo. Aparentava estar no auge dos seus dezoito anos, tinha a pele morena e o cabelo raspado, enquanto seus olhos verdes se destacavam em seu rosto, era um jovem que parecia freqüentar a academia, devia ser seu primeiro emprego ou estava trabalhando com o pai ali, para ganhar um dinheiro extra.
    – Um cara tentou me assaltar umas quadras atrás. Corri atrás do cara e saímos no braço. Posso usar seu banheiro? – eu digo calmamente.
    – Opa, meu chapa. O banheiro é naquela porta ali. – ele aponta de trás do balcão. Eu aceno com a cabeça e sigo para lá, entro e tranco a porta.
    Caminho até a pia e abro a torneira, deixando encher um pouco, quando ela enche eu a fecho e junto minhas mãos em formato de concha, pegando um pouco da água e jogando em meu rosto. Quando ela entra em contato com os pequenos lugares onde as unhas de Sophia arrancaram o couro, sinto uma leve ardência, que ignoro. Me olho no espelho e me ajeito, destranco e saio do banheiro, indo até o balcão e me sentando.
    – Me vê uma dose de wisque... – o menino me olha, pega um copo com gelo e a garrafa, coloca uma dose e empurra para mim. – Valeu. – eu digo e bebo.
    – Não querendo me intrometer, mas... Esses machucados em seu rosto não me parecem ser de briga, mas sim de unha... – ele diz levemente envergonhado.
    – Para ser sincero, cara. Tenho uma mulher difícil sabe? – rio e ele me acompanha desajeitado.
    – Sei bem como é, minha mulher esta grávida e os hormônios deixam seus nervos a flor da pele...
    – Quantos anos você tem? – eu o olho.
    – Tenho vinte e cinco. Por que?
    – Não, nada. É que estranhei quando disse que sua mulher estava grávida, você tem cara de dezoito anos... – ele ri e me coloca mais uma dose de wisque quando eu estendo o copo.
    – Só a cara mesmo, chapa. To trabalhando aqui pra poder ter uma grana extra para as novas despesas... A gravidez não estava programada para agora, mas é como dizem: Deus sabe o que faz. – ele diz e eu deixo escapar uma risada fraca. – Algo engraçado?
    – Ah, não. Me desculpe a falta de respeito, é que digamos que ultimamente minha fé não esta em “boas condições”... – eu bebo um pouco mais e  tiro um tanto de dinheiro do bolso, entrego a ele e sorrio de canto. – Espero que lhe ajude...
    Saio do bar e vejo que ele sorria levemente ao ver a quantidade de dinheiro que eu lhe entregará. Caminho pelas ruas de Londres em silêncio, as mãos no bolso da calça e a cabeça abaixada, as ruas já estavam desertas praticamente. O único barulho que ecoava por ali era o de alguns bares ainda abertos.“Essa menina ta mexendo muito comigo...”, eu penso enquanto lembro do que havia dito para Sophia, se ela resolvesse contar a Isaac, eu sumiria com muita facilidade como ela disse.
    Se vocês soubessem o pode que a Igreja possui por todo o mundo, quantas coisas e pessoas ela comanda, vocês ficariam espertos. Enquanto pensava, meu celular começa a vibrar e tocar dentro do bolso de meu casaco, eu o tiro e atendo.
    – Alo? Quem está falando? – minha voz soa levemente fraca.
    – Oi, meu amor. Sou eu, a mamãe. – a voz feminina diz docemente do outro lado da linha. – Esta tudo bem com você? – ela diz com um tom de preocupação.
    – Ah, oi mãe. Esta tudo bem sim e com a senhora? – eu digo calmamente.
    – Aqui está tudo certo. Seu pai pegou uma gripe esses dias e ficou de cama, mas já voltou a trabalhar. Você sabe como ele é teimoso... – ela diz dando uma risada.
    – Eu puxei isso do velho. – rio junto com ela, mas logo volto a ficar sério, enquanto entro em meu prédio. – Mãe...
    – Diga, meu querido.
    – Eu... Não sei se vou conseguir terminar a missão. – um silêncio se faz presente, eu sabia que minha mãe “entenderia”, pois ela... Bom, se envolveu com um Senhor do Tempo, casou e engravidou de mim. Sim, meu pai é um dem... Senhor do Tempo. Ele não sabe o que eu faço, pois é “aposentado” e minha mãe sempre quis esconder toda e qualquer evidencia sobre o que eu havia me tornado, para ele eu estava apenas morando em Londres devido ao trabalho. Mesmo eu sendo filho biológico dele, não peguei seus genes mutantes, então continuo um ser humano normal... Fiel a Igreja.
    – Como assim, não sabe se vai conseguir terminar a missão? O que é esse “fim de missão”? – percebo que ela se senta no sofá, pois ouço as molas dele rangerem.
    – Eu tenho que... -- faço uma pequena pausa, respirando fundo. – Matar a Morgana.
    – Mas, ta, tudo bem. Sua missão era se envolver com ela e descobrir coisas sobre eles, não? – ela diz calmamente.
    – Não, era para eu me envolver e matá-la. – minha voz soa firme finalmente.
    – Mas esses dias você me ligou, falei com vocês dois e pareciam tão... Felizes. – havia tristeza na voz de minha mãe.
    – Eu... Eu sei mãe. Eu cometi um enorme erro me apaixonando por ela. Eu poderia evitar muita coisa se não tivesse falhado quando a torturei. – mordo meu lábio com força ao ver o que tinha falado. Minha mãe não sabia da tortura.
    – Tortura? Como assim tortura, Victor Hood? – ela dizia abismada. – Você a torturou? Foi você? A Igreja tem ciência disso?
    – Sim, mãe. A Igreja quem me mandou fazer isso... Eu falhei, pois era para ela estar morta.
    – Como assim, meu filho. Você... Você a ama.
    – Infelizmente. Sabe mãe, me dói fazer isso, machucá-la e não entendo por que fui me apaixonar por ela.
    – A gente não escolhe de quem vai gostar.
    – É, mãe. Mas eu tinha que me apaixonar por um demo... uma Senhora do Tempo? – eu suspiro baixo e entro no prédio, indo para o elevador e meu apartamento.
    – Você se aproximou, a conheceu melhor, meu filho. Isso é normal. – ela diz calmamente.
    – É normal eu ter medo também?
    – Como assim? Medo de que, filho?
    – Morgana me pediu um tempo, eu... Eu, não quero ficar sem ela, estou com medo dela ter me descoberto, descoberto minha identidade... – eu digo nervoso e jogando as chaves sobre o balcão. – Eu sei o que sou e o que tenho que fazer, mas e se... Eu não quiser fazer?
    – Filho, você tem que cumprir ordens... Infelizmente. – ela dizia com enorme pesar em sua voz.
    – Onde esta Juguer... Quer dizer, Blake? – eu digo enquanto abro a torneira para que a banheira encha.
    – Pegou um trabalho em Massachusetts, mas ligou mais cedo dizendo que estava pegando um avião de volta para a casa... – ela diz – Por que quer saber?
    – Preciso conversar com ele... Quando ele chegar. Peça que me ligue, tenho que desligar mamãe... Te amo, cuide do velho. – desligo o telefone e olho as horas, 05:46 da manhã, precisava dormir, seria um dia longo. Tomo um banho e logo em seguida, apago na cama.
    Acordo as 15:07 da tarde com meu celular tocando, olho a tela e vejo o nome, atendendo rapidamente.
    – Finalmente atendeu... – a voz do outro lado diz. – Estou ligando a quase uma hora.
    – Foi mal, eu tava dormindo. Cheguei em casa e o dia já estava amanhecendo... Chegou em casa já?
    – Cheguei a pouco tempo, mamãe disse que precisava de mim.
    – Preciso, quero que venha para Londres...
    – Cara, acabei de chegar em Veneza, depois do ano novo eu colo ai... – ele reclama. – Eu fiquei sabendo sobre Morgana. Precisamos conversar sobre isso, pessoalmente, eu só lhe adianto uma coisa... Mate-a... O mais rápido.
    – Eu não sei se consigo... – digo baixo, porém firme.
    – Então eu a matarei... Antes que ela te mate. – ele desliga e eu jogo o celular na cama, voltando a me deitar.
    “Antes que ela te mate...”, será? Será que ela realmente havia descoberto o que eu era? Não, não tinha como. Eu saberia... Daqui três dias, Blake e Morgana estariam de volta... As coisas ficariam feias. Minha namorada e meu irmão gêmeo no mesmo lugar.
    Blake era a pessoa mais fria, quando o assunto era matar, que eu conhecia e ele não estava brincando quando disse que a mataria. Quando ouvi tais palavras dele eu tive certeza, não podia deixá-la morrer, eu a amava demais para isso, além de que ela era como meu pai. A Igreja estava enganada em achar que ela era um demônio, os Senhores do Tempo não são os monstros de que tanto ouvi falar.
    Nunca os vi machucar ninguém sem ser por pura defesa. Nós que sempre machucamos ou como sempre ouvi, “purificamos”. Me levanto de minha cama e caminho até meu guarda roupa, o abro e vejo todos os ternos em um canto, o colarinho clerical que tanto me fez sentir honrado sempre que o usava.
    – Honra? – digo para mim mesmo e balanço a cabeça em negação. – Onde a honra em matar?
    – Sua fé está abalada, Anjo? – uma voz masculina soa atrás de mim. Me viro para olhar de quem ela vinha e vejo Paul, o homem que me trouxe para a organização.
    – Padre Paul? – faço uma breve reverencia para ele – C-Como entrou aqui? – eu m digo com a voz fraquejando.
    – Ouvi rumores que estava com dificuldades  para obedecer as vontades de Deus. Vim ver por mim mesmo.
    – M-Me desculpe, senhor.
    – Onde esta o anjo que eu ensinei? --  ele se senta na poltrona que havia em meu quarto.
    – Senhor, muitas coisas aconteceram durante o período que passou fora.
    – Tenho tempo, me conte... – ele se inclina em minha direção e peço que me de licença para que me troque. Ele se levanta e vai para a sala, me troco e vou até ele. Enquanto passo um café, eu conto tudo que fiz para e com Morgana, como estava me sentindo naquele momento e ele me orientou sobre o que fazer.
    – Não creio que fez a melhor escolha chamando Blake para cá... Você sabe dos meios que ele usa. – o padre diz calmamente, enquanto toma um pouco do café.
    – Eu sei, mas precisava de meu irmão, ainda preciso padre.
    – Bom, você fez suas escolhas, agora deve arcar com as conseqüências e fazer de tudo para cumprir seus deveres. – ele se levanta e caminha para a porta. – Até outra hora, meu filho. Que Deus lhe abençoe...
    – Amém, padre. Que Deus abençoe o senhor também. – ele sai e eu limpo tudo. Saindo logo depois para resolver alguns assuntos. Meus problemas estavam apenas começando.

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