Capitulo Onze: Tod den Engel. - "Morte aos Anjos."

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Acordo no dia seguinte com o incessante toque de meu celular, tateio a mesinha ao lado de minha cama, passo por minhas chaves, carteira, a T.A.R.D.I.S. e chego ao celular. O pego e vejo quem era o infeliz que me ligava em pleno domingo de manhã. “Kirk”, leio com uma certa dificuldade o nome na tela, enquanto meu celular ainda tocava e vibrava.
    – Fala... – resmungo ao atender a chamada.
    – O chefia, acho que encontramos algo que você vai querer ver, mas assim, tem que vir aqui agora. Tipo já. – ele diz, enérgico como sempre.
    – Ta perdendo o show gatinha. – ouço a voz de Dante ao fundo.
    – Me manda o endereço no whatsapp, que em meia hora eu já apareço ai. – desligo e esfrego o rosto – Söhne eines hündinnen! – “filhos de umas putas”, digo em alemão e me levanto em um pulo, indo para o banheiro. Tomo um banho rápido e me troco, pego minhas chaves, carteira, a Glock e o capacete.
    Desço para a garagem e ando rapidamente até minha moto,  monto, coloco o capacete e saio, cortando rapidamente entre carros e pedestres. Ao parar em um sinal, eu checo o endereço que Kirk me mandou.
    – Subúrbio... – o sinal abre e eu volto a pilotar, chego rapidamente ao local, porém não percebo nada de diferente. Meu telefone toca.
    – Hey gatina, entra no beco a sua direita e sobe a saída de incêndio que tem ali. – Dante ri e desliga.
    O lugar estava bem parado, parecia uma das raríssimas áreas abandonadas da cidade. Coloco a moto em um lugar mais escondido e entro no beco, subo devagar a saída de incêndio, tentando fazer o mínimo de barulho possível, que a escada era velha e rangia.
    Ao subir, olho meio escondida para ver se estava tudo certo. Tudo ok, subo no telhado daquele pequeno prédio e procuro os meninos.
    – P-por que estão fazendo isso c-comigo? – uma voz assustada dizia mais a frente.
    – Sério que você perguntou isso, coisinha fofa? – a voz de Dante diz sarcástica.
    – Sem brincadeiras nesse momento. – Stump o repreende sério.
    – O nome dela é Alicia Oswald. – Kirk diz teclando freneticamente em seu notebook.
    – E por que diabos estão com ela e... – analiso a situação. – Pelo visto, deram uma pancada forte no rosto dela? – me aproximo devagar, com as mãos para trás.
    – Essa menina é rápida! – Kirk diz sem tirar os olhos do computador.
    – Eu detesto bater em mulher, mas tive que dar uma coronhada nela. – Dante se abaixa na frente de Alicia. – Me desculpe. – ele diz com sinceridade.
    – Claro, claro. – ela o encara. – VOCÊ METEU A ARMA NA MINHA CARA! SEU DESGRAÇADO MALUCO! ACHA QUE DESCULPAS VÃO AJUDA?
    – Fica quieta. – Stump diz firme a olhando.
    – VOCÊ NÃO MANDA EM MIM! – ela grita novamente.
    – Ei, calma. – me aproximo tentando acalma-la.
    – Você é um Anjo o menina, acha que tem moral pra falar assim com a gente? – Dante diz se erguendo e estralando os dedos.
    – Anjo? – ela ri. – Você mal me conhece...
    – Eu não terminei de ler a ficha dela Dante. – Kirk diz a interrompendo e encarando ele com uma expressão séria. – Ela é uma das Senhoras do Tempo que vieram da França, especialista em disfarces e espionagem. Muito boa em luta e armas brancas. – ouve-se ela tossindo falsamente, como se dissesse “Eu disse”. – É uma de nossas infiltradas na Igreja. Ela é da linhagem La Ditte.
    – A que tem maior resistência ao ouro? – Stump diz com curiosidade na voz.
    – Resistência ao ouro? – os olho – Não me lembro de ter ouvido sobre isso. – começo a pensar.
    – Isso mesmo, os La Ditte são uma linhagem rara, uma das mais antigas. – Kirk diz finalmente tirando os olhos da tela do computador. – Existem, vivos, apenas três deles.
    – Bom, isso está prestes a mudar. – ela sussurra. Eu consigo ouvir, porém prefiro não tocar no assunto agora.
    Nesse momento uma faca passa ao lado da cabeça de Dante e acaba cortando sua bochecha. Rapidamente eu me viro sacando minha arma, assim como Dante. Na beira do prédio, havia um homem de cabelos longos e negros, sua expressão era séria e seu olhar era dirigido a Alicia, que o olhava e permanecia em silêncio.
    – Quem são vocês e por que pegaram ela? – ele diz enquanto Dante mira em sua testa com sua Taurus. – Nem pense nisso, ou sua amiguinha terá uma faca cravada no meio da testa. – o homem se refere a mim. Ele usava uma calça jeans e uma blusa social, desse o beiral do terraço e ajeita a gola de sua blusa, tira uma faca que parecia estar rente as suas costas e presa ao cós da calça.
    – Quem é você? – digo abaixando minha arma devagar.
    – Ergue essa merda agora gatinha! – mesmo me chamando assim, a voz de Dante soava firme, rígida.
    – Não interessa a vocês saberem quem eu sou. Ao menos, não agora. – ele solta uma risada baixa, enquanto da mais alguns passos em nossa direção.
    Stump fitava Alicia e o homem, os analisava minuciosamente. Ele era um homem inteligente e conhecia muito de expressão corporal.
    – Kirk, procure por Lascio Hatsu. – ele diz caminhando e colocando as mãos para trás. Logo ouve-se o som de Kirk digitando.
    – Lascio Hatsu, ele é um Anjo, especificamente um dos melhores da Igreja.
    – E quem são vocês? – ele me encara. – Ah, eu sei quem é você.
    – Isso deve ser meio obvio. A Igreja me ama sabe. – digo irônica.
    – Aqueles desgraçados colocaram alguns dos melhores de nós atrás de você.
    – Devo me preocupar? – arqueio uma sobrancelha.
    – Não, pelo menos não em relação a mim, a menos que machuquem ela. – ele aponta a adaga para Alicia.
    – Morgana, ele é um “Anjo corrompido.”
    – Como assim, nerd? – Dante finalmente quebra o silêncio em que estava.
    – Eu me apaixonei por Alicia logo que a vi na Catedral, quando soube o que ela era, logicamente me espantei e tivemos uma pequena luta, mas eu amava mais do que qualquer coisa.
    – Ainda me ama, você quer dizer! – ela diz um pouco alto.
    – Sim amor, te amo muito.
    – Eu amo muito mais. – ela rebate.
    – Gostaria de não vomitar agora. – Stump os interrompe. Caminho até ela e abro a algema que prendia sua mão atrás de um cano.
    – Quantos meses? – sussurro para ela e ela me olha espantada. – Eu ouvi quando comentou que sua linhagem iria aumentar. – sussurro novamente.
    – Acho que dois... – ela da um sorrio torto e se levanta, tirando o pó da calça. 
    – Bom, creio que podemos ir embora não é? – o]ho as horas em meu relógio, o que ganhei de tio Ben.
    – Acho que tenho algo para mostrar a vocês. – Alicia diz se aproximando de Lascio.
  Ela anda até a beira do terraço e aponta para um beco lá em baixo. Observo por um tempo em silêncio, pensando e analisando o local, mas logo perco minha linha de raciocínio quando Dante bufa e diz meio indignado.
    – Nossa, belo beco! – puxo ele e me abaixo, seguida dos outros e Dante, que cai sentado.
    – Tem alguém saindo dali... – aponto e olho a cena, ainda abaixada. Da parede simples de tijolos, sai um homem de terno e gravata, possuía uma maleta em sua mão direita e um comunicador disfarçado no ouvido esquerdo.
    – Eduard Gallavar. – Lascio sussurra.
    – Dante, me de cobertura. Kirk, quando eu der o sinal, você e Stump descem e chequem a segurando daquela entrada.
    Eles concordam com a cabeça e eu começo a descer silenciosamente as escadas da saída de incêndio. Meus pés mal fazem barulho ao tocar o metal e ao chegar ao penúltimo lance, eu pulo e caio firme no chão, em frente ao homem. Ele se assusta, mas sua mão aperta a alça da maleta.
    – Tudo bom, querido? – sorrio o olhando.
    – D-Demonio maldito! – ele diz um pouco nervoso.
    – Que gracinha! – dou um passo para frente e ele um para trás. – Está com medo?
    – Medo de você demônio? – ele da uma risarinha e solta a maleta, olho por cima de seus olhos e vejo Kirk e Stump se infiltrando “parede” a dentro.
    – Corajoso, não? – sorrio respirando fundo, sem que ele perceba. Dou mais um passo para a frente e ele estende o braço esquerdo, de dentro da manga do terno sai um punhal, sua lamina era prateada, mas reparando bem, via-se que o fio dela era dourado, de ouro.
    – Você é o demônio de Isaac. – ele faz uma pausa – Morgana, não é?
    – O prazer é todo meu... – faço uma reverencia rápida e sorrio com maldade.
    Tudo acontece muito rápido, com uma velocidade assombrosa o Anjo corre em minha direção e tenta deferir com golpe em meu braço esquerdo, na intenção de arrancar uma lasca de pele, mas acaba apenas fazendo um corte raso.
    Eu me aproximo dele e dou uma cotovelada em seu rosto, ele cambaleia para trás e limpa um pequeno fio de sangue que escorria de seu nariz. Já com raiva, ele parte novamente para cima de mim e passa suas mãos por minha nuca, empurrando meu corpo para baixo e acertando minha barriga com seu joelho, eu tusso e sinto a dor pulsar em meu corpo.
    Mesmo dali de baixo, podia ouvir os passos de Dante na saída de incêndio. Kirk e Stump entrando naquela porta camuflada e Lascio com Alicia observando tudo. Empurro o Anjo e firmo meu pé no chão, giro meu corpo e tento acertá-lo com um chute, mas ele simplesmente desvia. Fico meio abismada, mas não me distraio, dou mais um soco nele, seguido de outro. Com o primeiro ele cambaleia e já no segundo ele cai, fico sobre ele, apoiando meu joelho em seu peito, o fazendo ter dificuldades para respirar. Continuo a socar sua cara e seu rosto vai ficando irreconhecível de tão inchado e sujo de sangue, assim como minhas mãos, o Anjo apaga e eu continuo a socar até Dante me afastar de seu corpo, me segurando pela cintura.
    – Vai com calma ai baixinha. – ele segura meus punhos.
    Lascio e Alicia descem as escadas e nos olham, Alicia rapidamente começa a revistar o corpo e acho a identificação.
    – Romulo Dorsia. – ele lê.
    – Temos que levá-lo para a central. – digo me ajeitando e me afastando de Dante.
    – Concordo. Podemos interrogá-lo. – ele se aproxima e pega o corpo de Romulo. Nesse momento Kirk e Stump passam pela parede apressados.
    – Vamos sair daqui logo.
    Saímos rapidamente para nossos carros, Lascio e Alicia foram para a Central com Stump. Já eu, Dante e Kirk fomos para a delegacia,eu havia algumas coisas para resolver e Kirk, para contar a Bennet o que ele e Stump haviam descoberto por trás daquela parede holográfica no beco, e pelo visto eram coisas bem interessantes. Levamos também a maleta que o Anjo Romulo segurava com tanta firmeza, e descobrimos que continham informações preciosas sobre alguns “covis” de Anjos, pois eles não passavam todo o tempo nas Igrejas, capelas e catedrais, alguns dos “covis” eram em monumentos de Londres, o que tornava tudo mais interessante.
    Ao sair da delegacia, horas depois, começo a ouvir uma conversa acalorada a uns metros dali.  Parecia uma discussão, então decidi ir olhar.
    – Eu já disse que estou tentando – Victor exclama no beco onde se encontrava ao telefone, parecendo furioso – Eu farei tudo que for o possível para descobrir mais coisas, sobre a vida e os planos del... – neste momento Victor percebe minha presença e congela onde estava. Fica sem reação, completamente assustado.
    –Victor? Com quem está conversando? – me aproximo ao notar que ele notou minha presença.
    –Ahm... e-eu estava conversando com um cliente, faço um bico de detetive particular – ele diz todo tenso e com a voz falha.
    Eu o olho desconfiada e dou de ombros. Saio andando em direção à cafeteria, mas ele não vem atrás de mim e eu agradeço mentalmente, pois não quero ter que passar por uma constrangedora cena de “você acredita em mim não é?”, “era só um cliente”. Não gosto de desculpas esfarrapadas e, além disso, tenho coisas mais importantes para me preocupar, como caçar Isaac.
    Entro na cafeteria, um lugar bem legal. Sento-me em uma mesinha no canto do lugar e peço um café enquanto olhava algumas anotações sobre Isaac e outros Anjos. Alguns flash backs vem em minha cabeça e me lembro do dia da morte de meu pai. Tenho que achá-lo. Caçá-lo. Saber tudo sobre ele e depois? Matá-lo.

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