Capítulo 1: Leonardo

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  Eu estava totalmente distraída, enquanto dançava e observava fascinada aquela boate linda, até que, surgindo das profundezas do tártaro, o homem que estava no bar, um boy muito esquisito e lindo aliás, chegou perto de mim:
  — Oi!
  Ele me comprimentou, e pelo que me pareceu ele era tímido, tinha um rostinho de criança, apesar do jeito meio gótico de capuz negro na cabeça, os cabelos loiros e olhos azuis lindos. Um tanto vazios e frios, mas quem sou eu pra falar? Afinal também uso lentes em todos meus shows.
Mesmo tímido eu não conseguia acreditar que ele havia criado coragem e vindo aqui só para me dizer um  “oi" sem graça, abaixar a cabeça e ir embora. Infelizmente, sem motivo algum, não sei como explicar, uma força dentro de mim me impediu de ignorá-lo como faço com todo mundo, fui inventando e puxando assuntos, passei a controlar nosso diálogo para que ele durasse o maior tempo possível.
  — Oi. Como é seu nome?
  — Leonardo Thadeu.
  — Ah, pode me chamar de Gre...Diana! Posso te chamar por algum apelido? - Essa foi por pouco, quase falei.
  — Pode me chamar do que você quiser, menos de Leo!
  — Por que, menos Leo?
  — Tenho meus motivos.
  — Então tá! Vamos esquecer as apresentações, vem dançar comigo.
  Dançamos até ficarmos exaustos. Ariane dançou algumas músicas e logo se despediu, indo embora com um rapaz. Na minha opinião ele não era homem para Ari, nada contra a aparência do rapaz que era extremamente bonito, mas eu à conheço desde a adolescência. Ela é do tipo de garota que gosta de homens tatuados, magros, com barriga tanquinho, porém sem ser bombado, um cara com uma personalidade mais meiga, um homem brincalhão, divertido e principalmente sensível. O boy com quem ela saiu naquela noite era totalmente o contrário disso. Mas não cabe a mim decidir isso.
  Logo após sua saída, Leonardo me convidou para ir até a chácara onde ele morava. Devo admitir que ele abalou minha estabilidade emocional com aquele jeito todo fofo e esquisito, e também não é todo dia que se conhece um boy loiro, alto, um pouco esculhambado com aquele moleton velho. Mas mesmo assim eu não era idiota o suficiente para ir à uma tal chácara sei lá onde com um homem que acabei de conhecer. Tudo bem eu não era idiota, mas a mesma força que me fez aproximar-se dele, tomou conta de meus sentidos me fazendo dizer “vamos” apesar de minha consciência estar gritando não aos quatro cantos de minha cabeça. O que de mal pode acontecer em um noite diferente? Eu precisava disso, conhecer alguém diferente. Quem sabe já superar meu EX.

  D&L

  Apesar de muito longe da civilização a chácara era totalmente linda. A casa era simples, rústica e muito confortável. Quando entrei vi a decoração, parecia uma casa de família onde havia criança, pois havia uma boneca e uma bolsinha cheia de pentes, batons infantis e coisas com que toda menininha de cinco anos gosta de brincar.
  — Você tem filhos?
  — Tenho. É uma menina, chama Luisa.
  — Ela está aqui? - perguntei analisando a casa.
  Ele demorou um pouco para responder. Tive a impressão de que ele precisou pensar um pouco antes de dar a resposta.
  — Não, ela mora com a mãe, só vem me visitar de vez em quando.
  — Ah!
  Senti Leonardo um tanto apreensivo. Parecia que ele tinha algo muito importante para me dizer, então perguntei a ele se eu tinha feito algo errado, se ele queria que eu fosse embora ou se precisava de ajuda.
  — Ninguém pode me ajudar.
  Após esta frase, nem tive tempo de entender o que ela significava, ele simplesmente me agarrou, suas mãos frias me davam arrepios, deslizando por meu corpo e me segurando firmemente, com beijos mais gélidos do que seu corpo, como se me beijasse por obrigação ou só beijasse mal mesmo. Mesmo assim, de início achei que ele estava sendo rápido demais, nem tínhamos chegado ao quarto ainda, mas aí senti algo em meus pulsos, algo me prendendo, uma coisa resistente, pelo toque me parecia algum tipo de ferro. Só então percebi, ele não estava me abraçando e sim me algemando.
  — Para com isso! Eu não gosto destes tipos de fetiche em que tenho de ficar amarrada!
  — Cala a boca e não reclama.
  Me desesperei quando abaixei o olhar e vi que Leonardo estava com uma faca na cintura.
  — Não, me solta! Agora!
  — Por favor não torne isto mais angustiante do que já é para mim.
  Eu que estava ficando angustiada com aquela situação, sentia com se algo de ruim fosse acontecer, mas por mais que tentasse não conseguia me soltar dele. Comecei a me debater, chutando o ar acabei acertando com todas as minhas forças as partes “baixas" dele. Por sorte funcionou, ele se encolheu de dor e acabou me soltando, que rapidamente saí correndo. Acho que bebi um pouco demais, porque estava me sentindo meio tonta, os braços presos para trás me tiravam toda a estabilidade. Cambaleante, tentei correr o mais rápido que pude e depois disto só me lembro de ver a estante próxima ao corredor se multiplicando enquanto o chão se aproximava de meu rosto. Acho que desmaiei.

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