Capítulo 6: Eu fiz o quê?

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  Acordei antes de Leonardo, me levantei e fui preparar o café pois ao menos uma vez eu tinha de cuidar um pouco dele. Ele se levantou e quando percebi já estava na cozinha. Achei que fosse me beijar, dar-me bom dia, mas não, ele apenas pegou uma xícara de café e saiu. Caminhei até a sala onde ele estava e sentei ao seu lado.
  — O que foi?
  — Se afasta!
  — O que foi que eu fiz?
  — Síndrome de Estocolmo.
  — Eu fiz o quê?
  Leonardo disse isso e saiu em direção ao jardim. Fiquei horas tentando descobrir o que significava, quando de súbito me lembrei, Síndrome de Estocolmo (Stockholm Syndrome) é o nome de uma das músicas da minha boy band predileta que fala sobre isso. Nessa síndrome a vítima cria um afeto ou até amor por seu sequestrador como uma forma de defesa. O cérebro da pessoa faz isso sem ela saber para proteger a própria psique.
  Conclui que ele se afastou de mim por pensar que estou sofrendo da síndrome. Preciso mudar isso, aliás já está na hora de assumir. Caminhei até o jardim, que é lindo com uma plantação de rosas vermelhas e violetas roxas, e ele estava sentado em um banco de madeira em meio as rosas.
  — Eu preciso falar com você agora!
  — Mas eu não quero que a Grega fale comigo.
  — Mas aqui eu sou a Diana, e você vai me ouvir!
  Ele novamente se calou e levantou-se para sair dali, mas o segurei pelo braço e apesar de parecer uma moça frágil, o joguei de volta no banco.
  — Você vai me ouvir calado! Primeiramente eu sou a Diana e a Grega, somos uma só. E outra, eu não estou ficando louca. E só pra informar eu não passei a noite com você porque estou pirando! Na verdade estou pirando mesmo em meus sentimentos. Eu estou gostando de um idiota chamado Leonardo Thadeu. Por favor para de frescura, tem uma força dentro de mim que faz com que eu goste de você.
  — É culpa da síndrome. Eu pesquisei muito sobre isso ontem a noite depois que te deixei na cama. É impossível alguém em sã consciência gostar do cara que ia matar ela. Disso eu tenho certeza.
  — Eu mandei você me ouvir calado! Pense um pouco, você também sente a mesma por mim.
  — Eu te amo. E no meu caso eu não fui lá e pá, me apaixonei e sim fui criando um afeto gigantesco no tempo em que cuidei de você desacordada. Eu conheci cada parte da sua personalidade, desde a mais meiga à agressiva, meu corte que o diga. Mas você não. Tu sente uma “força" que te faz gostar de um cara e isso é uma forma de defesa. Aliás, quem toma as decisões aqui sou eu e eu decido que nossa história acabou. É melhor cortar o mal pela raiz!
  — Foda-se essa síndrome!
  – Então me diz Eu Te Amo!
  Putz! Nunca consegui dizer eu te amo nem nas homenagens de fim de ano para família. Todos que me conhecem sabem que quando eu digo que gosto de alguém é a mesma coisa que um Eu te amo. Para mim essa palavra é forte demais para ser dita impensada, acho que só Deus realmente já amou as pessoas. O resto não é tão forte assim, tá tem algumas exceções mas são poucas, e ali não era o momento de gastar uma palavra que carrega tanto.
  – Eu gosto de você Leonardo!
  — Eu sabia! – ele balançou a cabeça triste, acho que ele tinha esperança de que eu o convenceria de que não é verdade. Mas eu não consegui, ele parecia desapontado.
  – Mas eu não quero e não vou largar você!
  – Garota mimada, que se acha a rainha da razão. Acabou a discussão, vai pro seu quarto agora ou eu te arrasto até lá.
  Não sei por que ainda tento me conciliar com ele, um idiota, prepotente, mandão e rude. Leonardo virou-se e saiu me deixando plantada em meio ao jardim, um pouco alterada me dirigi ao quarto e me tranquei lá no resto da manhã. Apenas senti a ausência dele quando já passava do meio dia e ele não havia me chamado para almoçar, Leonardo nunca atrasava ou me deixava sem comer, estava tudo muito estranho pois havíamos tido brigas piores e mesmo assim ele jamais tinha me esquecido.
  Me senti extremamente abandonada, o que me fez chorar enquanto estava sentada na cama pensando o quanto um “eu te amo" faria toda diferença. Então decidi levantar e conversar sem repreensões ou críticas, apenas palavras ditas com o coração deixando o orgulho, a razão, a dignidade, o amor próprio (nossa quanta coisa tenho de largar por ele!) de lado mostrando tudo o que sinto.
  Quando abri a porta do quarto senti um aroma de almoço sendo preparado, algo que confortou meu espírito porque ele não havia me esquecido e sim se atrasado. Treinei meu melhor sorriso, cheguei a porta da cozinha e quando olhei para a pessoa próxima ao fogão quase desmaiei. Não era Leonardo que estava cozinhando e sim uma moça que parecia ter saído da novela Caminho das Índias.

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