Acordei um pouco tonta sem saber onde estava. Era um quarto de paredes e lençóis brancos, com flores espalhadas por todos os cantos e grandes janelas abertas para que a luz do sol nascente pudesse entrar. Uma poltrona no canto e um torturante aroma de café recém coado. Tentei me levantar, mas ao pisar no chão de madeira senti uma dor horrível e alucinante, sem forças para continuar em pé, me sentei na borda da cama. Parei um pouco para pensar no que estava acontecendo comigo.
1°) Eu estava em um quarto que não pertencia ao meu apartamento;
2°) Na noite anterior havia saido com um homem maluco e tinha ido para uma chácara sei lá onde;
3°) Ele me atacou e eu desmaiei enquanto tentava fugir dele;
4°) Alguém tinha me dado banho, porque eu estava cheirando a sabonete de framboesa, estava usando um pijama que não era meu e não me lembro de ter tomado banho sozinha.
Espera um minuto. Alguém me deu banho. O QUÊ? Meu Deus, por favor faça com que a Ari entre por aquela porta dizendo que sonhei que fui sequestrada.
Infelizmente as coisas não são como queremos e a Ari não estava ali. Ainda tinha outro problema, havia um esparadrapo enorme colado em minha coxa bem no local da queimadura, estava doendo muito. Mas apesar da dor eu precisa me levantar pois pelo que tudo parecia eu ainda estava naquela maldita chácara, então se precisasse correr eu tinha que conseguir ficar de pé ao menos.
Me apoiando na cabeceira da cama e em um criado-mudo consegui me levantar. Andando com dificuldades, cheguei a porta e me deparei com o mesmo corredor no qual havia desmaiado na noite anterior ( eu acho que tinha sido na noite anterior ), um arrepio acompanhado de fortes náuseas percorreu todo meu ser me fazendo hesitar alguns passos de volta ao quarto. Mas para descobrir o que estava acontecendo eu precisava continuar, então engoli seco o bolo que se formou na garganta e segui em frente, fui me guiando pelo cheiro de café e acabei chegando a cozinha, onde fui novamente tomada pela mesma força - que passei a chamar de idiotice - que havia me feito chegar até ali, quando vi aquela imagem. Uma mesa de café, com leite, pães diversos, manteiga, geléias e o que sem motivos me fez sorrir, Leonardo parado em frente à pia de inox. Apesar de reconhecê-lo, o homem com quem saí havia sumido, seus cabelos antes loiros escondidos por uma touca estavam à mostra, e eram negros, compridos até na altura do pescoço totalmente despenteados, os olhos de vidro azul se transformaram em verdes intensos, e vestido apenas com uma calça de moleton cinza deixando suas costas largas definidas e sua pele branca bronzeada naturalmente pelo sol da região à mostra. Ele estava observando o café ser coado pela cafeteira enquanto bocejava, seus intensos olhos verdes totalmente sonolentos.
Como ele é lindo. E perigoso. Isso me intriga.
Me apoiei na parede e enquanto sorria ao observá-lo ele se virou em minha direção, parei imediatamente de sorrir e ele com um sorriso de canto abaixou a cabeça e sentou-se. Eu só podia estar pirando para perder o foco e sorrir para o cara que me sequestrou porque ele é bonito. Tive vontade de me bater por isso.
— Senta aí. Como eu não sabia o que você gostava eu trouxe um pouco de cada coisa e se quiser tem frutas em cima do armário.
Fiquei paralisada, sem reação, não conseguia me mover, nem dizer algo.
— Pode sentar e comer eu não coloquei veneno em nada, pode confiar não vou te atacar, não mais!
Como assim “não mais"? Isso me deixou mais pertubada do que eu já estava, e eu continuava paralisada.
— Vai sentar ou não? - ele perguntou levantando uma sobrancelha.
— Vou.
Nem sei como consegui respondê-lo. Me sentei na cadeira de frente com a dele, era uma mesa de quatro lugares, provavelmente por ser a única que coube naquela cozinha, não consigo compreender como uma casa tão grande possuía uma cozinha minúscula como aquela. Ele se levantou, abriu a geladeira e como eu faço às vezes, ficou parado olhando o que havia lá dentro pensando no que iria pegar. No fim ele simplesmente pegou uma jarra de suco que me parecia de morango, colocou na mesa e se virou para a pia. Nesse momento recuperei meus sentidos. Precisa fugir dalí, o cara é louco. Nem esperei ele se virar, reagi, peguei a jarra de suco da mesa e atirei na cabeça dele, que caiu no chão se revirando de dor. Aproveitei a oportunidade e de forma mais inteligente que da outra vez fugi, pegando as chaves das portas e do carro que estavam em cima de uma prateleira do armário.
Corri o mais rápido possível até a sala onde ficava a porta de entrada, no chaveiro continham várias chaves, fui testando uma a uma, até que ouvi a voz de Leonardo que vinha da cozinha, furioso:
— Sua vadia! Você podia ter me matado! Vou te matar agora, já que não adianta ter piedade.
— Que merda de porta! Não abre nunca. - eu sacudia a porta e aquele maldito paredão de carvalho nem se movia.
Leonardo chegou à sala se apoiando nas paredes e falando confiante que eu nunca fugiria dali viva, como se ele tivesse a situação sob controle. Sua aproximação e suas palavras ditas com certeza e deboche me deixaram extremamente nervosa. Acabei deixando o chaveiro cair no chão. Quando me abaixei para apanhar as chaves, senti uma chuva de estilhaços de vidro caindo sobre meu rosto, ele havia atirado um vaso de flores em minha direção. Por sorte Deus interferiu fazendo as chaves caírem no exato momento do ataque, dessa forma o vaso não me atingiu. Apanhei o chaveiro, e a primeira chave que testei na porta a abriu.
Corri pelo gramado, Leonardo agora me parecia recuperado pois andava normalmente pela grama e começava a correr mais rápido do que eu imaginava, em pouco tempo ele me alcançaria, ainda bem que o carro continuava no mesmo lugar onde me lembrava de tê-lo visto estacionar, quando o avistei me senti livre, mais forte, passei a correr três vezes mais rápido do que estava. Apertei a trava da chave para destrancar o carro, mas para a minha surpresa, aos invés do alarme do carro, soou o alarme do jipe ao lado, eu nunca havia dirigido um jipe antes. Mesmo assim essa era a minha chance, entrei no jipe e acelerei, nem sei como consegui arrancar daquele jeito com o jipe, até com o carro eu fico patinando no asfalto. Leonardo gritava palavrões aos quatro ventos desesperadamente, e com o olhar de um tigre faminto, sedento por carne ao ver sua presa fugindo diante de seus olhos, ele criou uma força assustadora, pulou dentro do carro e acelerou.
Eu já estava bem a frente, nem conseguia mais vê-lo, na mata densa em que ele entrou, achei que ele havia se perdido da trilha, quando fui surpreendida por seu carro preto surgindo da mata e parando bem no meio da trilha. O susto que levei deve ter aumentado minha adrenalina, não parei como ele esperava, acelerei ainda mais o carro e bem próximo a ele virei o volante violentamente que o jipe, derrapou na terra, se inclinou para a direita chegando a levantar parte das rodas do solo. Me senti bem com aquela sensação de perigo, me senti mais viva do que nunca havia me sentido, continuei acelerando mesmo que isso pudesse me matar eu me sentia livre como nunca antes. Sem porquê, aquele dia tinha passado de o pior para o mais emocionante dia de minha vida, eu poderia morrer ali, mas encontrariam meu corpo com um sorriso nos lábios e os olhos abertos para não perderem um sequer segundo. Ouvi de repente um som acompanhado de uma vibração que me tirou daquele momento de êxtase, era um celular dentro do porta-luvas, peguei-o e atendi. Era Leonardo, com uma voz calma e suplicante como alguém que faz seu último apelo ao carrasco.
— Diana, por favor para o carro, você está indo em direção a cachoeira. Se você cair vai morrer, por favor, eu preciso de você porque você foi a única pessoa que conseguiu me fazer mudar e só você pode me resgatar desse abismo que minha vida é!
Essas palavras me abalaram silenciosamente, não o respondi, mas freiei o carro bruscamente. Ele capotou várias vezes, e enquanto tudo girava eu já podia ouvir o som da água ficando mais próxima a cada segundo. Vi a ribanceira e a partir dali já podia sentir o hálito gélido do anjo da morte em meu pescoço, mesmo tão perto, para mim ainda não era a minha hora de partir. Em um pico de adrenalina soltei o cinto de segurança e imediatamente fui arremessada para fora instantes antes do jipe cair cachoeira abaixo, fui arremessada ao ar, e na batida contra o chão senti minha pele sendo rasgada, rolei pelo chão e fiquei presa na borda da ribanceira por uma planta que se prendeu ao meu pé direito, bem na perna onde havia me queimado. Estava doendo intensamente, acho que a adrenalina deve ter diminuído a dor durante a fuga, mas naquele momento eu não suportaria por muito tempo, além da dor meu pé estava escorregando. Agora eu estava a mercê da incerteza, ou Leonardo ou a morte.D&L
Leonardo chegou correndo me pedindo calma. Ele tentou me puxar pela perna, o que me fez urrar de dor.
— Diana, só te peço uma coisa, confie em mim?
— Jamais vou confiar em você seu psicopata.
— Então fique aí e morra de dor ou afogada! O que vier primeiro.
Enquanto ele estava parado na borda da ribanceira me olhando uma lágrima percorreu seu rosto suado e ele a deixou cair, atingindo meus lábios, seu sabor salgado me fez estremecer. Ele somente se virou me abandonando ali. Ouvi seus passos na vegetação, o som das chaves caindo sobre as folhas secas e pude senti-lo hesitar ao pegá-las. Mas ele as pegou, e entrou no carro, ouvi o som da porta sendo puxada lentamente quando me obriguei a deixar meu orgulho de lado.
— Eu confio em você, por favor Leonardo, volta eu preciso de você! Leonardo Thadeu você é minha única esperança agora!
Como se isto fosse a palavra-chave ele voltou correndo.
— Você realmente confia em mim?
— Sim.
— Então, vamos fazer algo arriscado, você vai colocar toda sua força na perna presa, vai tentar se virar e empurrar a outra perna para cima.
— E se eu não conseguir?
— Seu trem para o céu vai chegar mais cedo.
— Tá maluco?
— Você disse que iria confiar em mim, então confie.
Aquilo era extremamente maluco, era quase um suicídio.
Mas como hoje meu anjo da guarda estava atento e aquela era minha única chance já que estávamos só nós dois, decidi fazer, pois é melhor morrer tentando do que morrer sem reagir e carregar a culpa de que poderia ter feito algo. Avisei a ele que faria.
— No três você faz.
— Por favor não conta até três, pois essas palavras podem ser as últimas que vou ouvir na vida. - já que eu ia morrer mesmo podia fazer o drama que quisesse - Por favor diz três coisas que você acha de mim. Na terceira eu faço.
— Se você não gostar do vou dizer vai ser pior.
— Melhor morrer com a verdade.
— Como quiser.
A voz de Leonardo era linda com um tom melancólico, começo a repetir as palavras junto com ele como forma de me acalmar e reunir forças, e juntos citamos o que pode ser minha frase fúnebre ou o discurso de minha salvação.
— Linda;
Louca;
Incrível.
Fiz. Coloquei o restante de minhas forças na perna machucada para dar impulso, me girei fazendo com que minha outra perna chegasse até onde Leonardo pudesse pegá-la. Ao mesmo tempo que ele pegou uma a outra perna se soltou me deixando suspensa no ar segura apenas pela força dele, que começou a morder os lábios pelo esforço que fazia. Seus pés afundaram na grama lamacenta, quase fazendo-o cair na cachoeira, Leonardo estava em uma posição muito desconfortável, com os joelhos dobrados e os pés presos ao chão. Ele não conseguia se mover, nem me sustentaria por muito tempo. Fiquei alguns segundos suspensa na ribanceira, até que ele prendeu o ar e o soltou com um tom exausto de alguém que não vai conseguir, que é fraco mais não suporta admitir isso, nesse momento vi meu fim.
— Leonardo me solta.
— EU NÃO VOU DEIXAR VOCÊ CAIR!
— Calma não precisa gritar. Vai me solta, vamos morrer nós dois. Você tem meu perdão, apesar de me sequestrar, tentar me matar, hoje foi o dia em que fui de oito à oitenta, de pior a melhor, algo dentro de mim me impede de te odiar. Se tentar me puxar você pode escorregar ou se desequilibrar, está muito na beirada. Pode me soltar, você não vai conseguir me puxar, não vou guardar rancor. Apenas pense e não faça isso novamente. Vá e seja feliz!
Nesse momento eu iria chutar a mão dele e que acontecesse o que Deus quisesse, mas antes de eu conseguir alcançar o outro pé nele, com um grito ensurdecedor dizendo “nunca", Leonardo criou uma força descomunal, me puxando da ribanceira como se eu tivesse me transformado em uma boneca de pano, ele me jogou para o alto de onde fui apanhada por seus braços, que sem forças caiu sentado na borda, mas mesmo fraco ele me segurou como quem segura algo que ama. Em seu abraço me senti segura.****************************************************************************
oiiiiiiiiiiiiii gente! Então essa é minha primeira história aqui no wattpad espero que gostem. Aliás (eu amo essa palavra) comentem, digam o que acham, isso é muito importante para mim. Ah já ia esquecendo, pretendo postar dois capítulos por semana mas sem dia certo. Mas prometo que toda semana terão os dois!Bjs Crossle
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Entre milhões... Eu
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