Capítulo 12: Pregos

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Acordei na maca dentro do hospital, os médicos corriam ao meu redor e pude ouvir quando um deles disse à um colega “o bebê morreu!", chorei. Me levantei e os médicos tentaram me segurar, minhas forças estavam tão fracas que deitei com o simples peso da mão de um deles.
  — Fique deitada. Vamos te aplicar a anestesia para retirarmos a bala!
  — Espera! Cadê o Leonardo?
  Olhei entre os dois e vi no canto do corredor os enfermeiros levando meu amado para a sala de cirurgia com uma espécie de papel alumínio sobre seu corpo e um balão de oxigênio manual. Empurrei a mão do médico e me sentei na maca quando Luana veio correndo brigando com os enfermeiros – achei que fossem médicos.
  — Levem ela! Ela não pode ver ele naquela situação, não vai fazer nada bem.
  — PARA! – Pela primeira vez impus minha decisão.
  — Vamos logo com isso.
  — Lu, me diz o que vai acontecer com ele. Por favor!
  Sua expressão mudou drasticamente, de desespero foi para uma imagem de angústia, o que me deixou intensamente nervosa.
  — A bala está cravada próxima ao coração. E eu sou a única cirurgiã cardíaca na cidade, se formos esperar outro cirurgião chegar ele não vai aguentar. Mas na mesa não te garanto nada. Eu fiz o que duas cirurgias até hoje e nenhuma de tanta gravidade.
  — Por favor Luana, faz o possível e o impossível para salvar meu Leonardo. Ele foi de meu sequestrador à salvador, de bad boy à melhor pessoa do mundo, de meu pior pesadelo à melhor sonho. Ele me mostrou o valor da vida, a importância das pessoas, a superar e acreditar na felicidade. Eu preguei meu coração à ele com um prego de diamante!
  Luana tentou segurar mas pude ver uma lágrima no canto de seus olhos. Ao contrário do que eu imaginava ela mandou trazerem minha maca na sala em que Thadeu estava.
  — O doparam mas ele não dormiu ainda, vai devagar ele não tá conseguindo respirar, você tem em média uns dois minutos até ele dormir.
  Empurraram minha maca até ele pois eu não consegui andar por causa da dor e fraqueza, sem contar o sangue que se esvaía de meu corpo a cada movimento. Leonardo estava pálido e ensanguentado, mesmo não respirando ele tirou a máscara.
  — Não, não, não. Não tira a máscara.
  — Shhh!!! Preciso te dizer uma coisa.
  Sua voz era quase inaudível, um sussurro de tão baixo e fraco, sem contar a tosse acompanhada da falta de ar que o fazia por a máscara de tempos em tempos para respirar. Ele chamou um enfermeiro com um aceno de mão e indicou o bolso da calça que haviam deixado em um cesto no canto da sala. O enfermeiro abriu o bolso e tirou de lá uma caixinha entregando-a a Thadeu.
  Ele abriu a caixa tirando de dentro dela um colar triplo de couro com pingentes de ouro, na primeira correntinha estilo choker havia um fone de ouvido, na segunda um prego e na terceira um coração com uma foto nossa tirada com meu celular na balada em que ele me sequestrou. Não conseguia acreditar nisso! Ele mandou fazer aquilo especialmente para mim! Ele nunca me esqueceu.
  — Eu queria poder me ajoelhar, mas não consigo.
  — Você faz piada em uma hora dessas?
  — Não tô brincando. Diana Vanessa, aceita se casar comigo se seu sair dessa vivo?
  — Sim! E se você morrer eu atrás, como você fez comigo, eu caso com você Leonardo Thadeu até no inferno.
  — Eu acho que vou pra lá de tobogã pelo monte de gente que matei.
  — Cala a boca seu idiota.
  Beijei ele que adormeceu em meus lábios. Os enfermeiros me tiraram da sala, e me levaram para onde o anestesista esperava, caso haviam esquecido eu ainda tinha uma bala alojada na barriga e pelo que sabia meu filho já estava morto.
 
D&L

  Acordei com Ari ao lado da cama sentada em uma poltrona. Quando percebeu que eu estava acordada ela se levantou depressa. Com um olhar triste e cansado que me assustou.
  — Você tá bem?
  — Estou bem melhor agora. Mas pode me dizer tudo sem rodeios! Seja direta.
  — Então vou tentar ser direta com você. O Leonardo está bem, saiu da sala de cirurgia a algumas horas e está estável sem chances de morrer.
  Respirei aliviada, ele não morreu. Graças à Deus!
  — E meu filho?
  — A bala… pegou…
  — Diz logo. Eu tenho direito de saber!
  — Ela pegou diretamente no útero, então os médicos precisaram… Hum… tirá-lo.
  — Então eu NUNCA MAIS VOU TER FILHOS?
  — Não.
  Só não chorei porque não tinha mais lágrimas para chorar mas senti um aperto no peito a cada palavra, eu jamais teria um filho. Eu não daria mais um filho ao Leonardo, eu nunca seria mãe. Afastei esses pensamentos funestos ao lembrar que eu ainda posso ser mãe, quer dizer eu já sou mãe, Luisa é minha filha com Leonardo.
  — E o Hugo e a Camila?
  — Camila tentou escapar do camburão em movimento, caiu na estrada e… Certeza mesmo que você quer saber desses dois? Já está quase tudo praticamente resolvido.
  — Eu exijo que continue!
  — Ela foi esmagada por um caminhão que vinha atrás do carro. Já o Hugo fugiu enquanto imobilizávamos a Camila. Iniciamos as buscas na mata mas...
  — Deixem ele ir. Eu conheço um pouco daquele coração, ele nunca vai se perdoar de ter matado o próprio filho. Era um sonho dele, então a culpa vai lhe dar o castido.
  — Ele mesmo se castigou. Encontramos o corpo dele na mata com um bilhete escrito com seu próprio sangue: “me perdoa, filho". Ele se matou.

D&L

  Logo que recebeu alta, Leonardo Thadeu foi até a delegacia confessar seu crimes. Recebeu o julgamento e foi preso. Pegou a pena de vinte e cinco anos. Eu nunca quis saber quantas pessoas ele matou, não me importa e pouco antes de ser preso ele me deixou livre para seguir sem ele.
  — Eu te amo! E por te amar te deixo livre para seguir sua vida, conhecer outras pessoas e tal. Você não merece um presidiário.
  — Mas eu amo esse presidiário! Vou te esperar e cuidarei da nossa filha.
  — O que EU tenho de diferente de qualquer homem bom que você pode encontrar? Acho que a ficha na polícia e um passado horrível. Então porque continuar comigo? Por que entre milhões... eu?
  — Taí a diferença! Eles não são você.
  Ele beijou-me intensamente e foi para a penitenciária algemado, escoltado por dois policiais. Nos jornais foi taxado de psicopata, maníaco e golpista. Sofri muito para que Luisa não visse seu pai desse jeito, sempre o visitando e contando os dias para sua saída. Expliquei à ela todos os dias sobre os motivos de seu pai ter feito tudo aquilo, sobre nosso amor e luta.
  A culpa não era nem dele, muito menos dela e sim de Camila, aquela Monstra destruidora de sonhos e vidas. Apesar de Leonardo estar totalmente perdido, sem esperanças quando estava nas mãos de Camila, eu sem nenhum projeto específico ou rumo de vida que não fosse tocar sem pensar no dia de amanhã e Luisa sozinha em meio a tudo isso, um simples PREGO derrubou todas as barreiras. Uma coisa frágil e pequena venceu a rigidez da madeira abrindo-na uma fenda pela qual a luz pode entrar pondo fim a escuridão.

Entre milhões... EuOnde histórias criam vida. Descubra agora